Amor, irremediável amor

Tandra
EuLírico
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3 min readOct 28, 2016

O amor é um estranho que não bate a porta. Quando menos se espera, entra em sua casa e faz morada. Não se engane com suas formas delicadas e sedutoras. Sua sutileza é falsa e, sua brutalidade é a única certeza que se tem.

Ele virá munido de flores e sorrisos. Nunca lhe apresentará a noite ou a chuva. E ainda te fará acreditar que o frio na barriga que sente não é medo, são apenas borboletas brincando em seu estômago. Te fará desejar os românticos e rejeitar os realistas.

Por isso, redobre os cuidados, o amor tem a mania de cumprir as ameças que faz. Não o desafie. Não o encare. Não lhe dê as costas. Nem o subestime. Se ofendido lançará sobre você soldados de um “quase amor” que te atingirão de tempos em tempos. E a cada nova possibilidade de recuperação, aparecerá outro representante. Nem mais belo, nem mais hediondo. Será aquele ideal para te curar do passado, contudo, será sua doença no futuro.

Isso ocorrerá quantas vezes for necessário para te enfraquecer, até não ter mais forças para dizer “não”. Portanto, não adianta fugir do campo de batalha, terá que lutar em defesa de sua alma se não quiser vê-la em pedaços.

No meu caso foi ainda pior. Esse sentimento que se auto-define “para poucos” nunca se atreveu a me ameaçar. Pensava “nossa como sou foda”. Até descobrir que sua ameaça não seria necessária, nasci com o amor tatuado no espírito… O que explica muita coisa. O amor cumpriu sua missão em mim.

Só percebi quando cai no chão com dores no pulmão por não conseguir respirar um ar que não tivesse fragmentos do perfume daquele que também havia perdido a batalha para o amor. E nós dois perdedores, ganhamos um ao outro. Vivendo o melhor do amor. O melhor da dor. O melhor de cada um. E a melhor parte é com certeza a decoração que juntos fazemos nas paredes de nossas memórias.

E se assim como eu, você também está fadado a amar, o único jeito de se libertar é se entregando. Vivendo sob seus moldes, seja sofrendo, seja doendo, seja conjugando seu verbo. Quem sabe com um pouco de sorte se consiga mais curativos que machucados. Porquê, no final por mais precauções que se tome, sem querer ou querendo, caminharemos sempre em sua direção. Não dá para correr, o amor é irremediável.

Amor é um fogo que arde sem se ver/ É ferida que dói, e não se sente
É um contentamento descontente/ É dor que desatina sem doer
É um não querer mais que bem querer/ É um andar solitário entre a gente
É nunca contentar-se e contente/ É um cuidar que ganha em se perder
É querer estar preso por vontade/ É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata, lealdade/ Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade/ Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

Ame!
Apaixone-se
Primeiro por você
Depois por quem
O amor escolher

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Tandra
EuLírico

Nem sempre escrevo tudo aquilo que sinto. Mas, sempre sinto tudo aquilo que escrevo.