Arredia, anárquica, impossuível

E você ainda vai pedir "por favor"

Nina Olivetto
EuLírico
3 min readOct 11, 2018

--

Arredia, anárquica, impossuível. Sequer palavras inventadas podem fazer inocentadas as minhas rédeas. Não há par, não há amor, não há. Num jogo em círculos de busca e devoramento do próprio rabo por motivo de renascimento sigo, até que seque por devotamento o meu rio. Nada há aqui. Apenas palavras que dedilho entre líquidos quentes, copos vazios, mãos afáveis, mentes cheias de conversa vazia e corpos sublimes apenas à admiração de cão — aquele que faminto lambe os beiços sem tocar o prato.

Um platô. Há nada em cada pedaço de um nós que não se forma. Eu rio enquanto conduzo homens como cães. No final, eles ainda dizem "por favor" enquanto partes de seus corpos e ego ardem sob a dor de um couro quente. Eu identifico os meninos que não sabem amar, apresento o que eles querem e depois digo a eles que suas escolhas refletem traços de suas mamães dominadoras. Eu não compraria um chicote para não usar.

Ele, que ateou fogo em milhares de nós, se prendeu — em olhos que fugiam — aos desmandos febris de minha leviandade, maldade, necessidade de aplacar o tédio. Eu sequer o queria, mas precisava passar o tempo de um peito vazio — não mais afoito — e ele foi o brinquedo da vez. Vítor talvez.

Tanto importa como a marca de macarrão mais barata do mercado. Eu dei centavos meus a uma moçadesconhecida na rua e me neguei inteira ao dono do palco. Eu me falto dia após dia e falho em bondade, não tenho compaixão com homens comprometidos sem senso de compromisso com suas mulheres. Eu o coloquei no lugar dele — lixo. Haveria um substantivo único para o lixo de homem que a sociedade brasileira aplaude? Traidores de merda! Sou uma agente educativa e meninos maus merecem apanhar.

Ela me disse que Deus escolhe os homens de pior coração e os coloca no meu caminho para que eu os traga fel à boca. Não sou gentil, não sou boa, não sou amante. Quando quiser me tocar, homenzinho de bosta, vou fazer você — com sedução e palavras doces, porém assertivas — se sentir o lixo que é. Vou humilhar gentilmente a sua postura, vou desarmar seu jogo e mostrar que conheço as regras — só para você se sentir patético — e, como grand finale, vou sorrir e dizer, dentro dos seus olhos, que não há tesão, umidade, desejo em tão pouco.

Eu vou pisar na sua alma infeliz e errante, daquele que não sabe lidar com o não, com uma bota de couro vermelho e cano alto. O salto?! Agulha a causar pequenos furos; e me agradeça por ser tão boa a ponto de não usar a faixa de couro do meu sobretudo preto longo para deixar uma marca na cara. Eu poderia deixar marcas no seu traseiro, mas não me apeteceu. Caras patéticas e pedintes, suplicando pelo meu gosto na boca, despertam vontade de guardar o chicote na gaveta esquerda da escrivaninha. Genitália seca. Uma lástima.

Sequer um beijo. Eu até poderia, mas foi tão gostoso ver alguém como você tentando me convencer de que me entendia — enquanto me entedia — e seríamos supostamente iguais. Quem diria?! Eu sorria e ria por saber que meu sorriso é lindo e eu sexy, enquanto a sua cara de moleque desarmado é delirantemente desalegre, lastimosa e patética. Faltam adjetivos aos meus dedos — aqueles cujos movimentos fálicos no copo mantinham você em uma teia hipnótica.

Quando eu aprender a gostar do meu pior, ao menos para cumprir a missão de punir os maus — mesmo me lançando ao inferno — ,não sei se haverá caminho de volta ao anjo que sangra por empatia e gratidão à mão que bate pesado e diz o quanto pesa a leveza do meu amor sem cobranças. Sim, meu anjo, eu até tenho empatia por homens, mas ainda prefiro os que cometem erros, com desvios de carater, gostam de apanhar e agradecem. Preciso aplacar meu tédio.

--

--