Fogo entre co(r)pos
F: Visão estarrecedora: você nua na cama me olhando com molduras de oceano para as pupilas abertas dentro do verde de sua iris. Desejo e medo ao mesmo tempo me tomam, mas caminho lenta, desesperada e pacientemente até sentar-me na beira da cama.
T: E foi assim que tudo começou, ou terminou, dependendo do ponto de vista. Uma porta entre aberta, malas por fazer, e nós dois na cama.
F: Na cama, mas sem a chama que sempre nos notorizou na vizinhança. Algum espírito criança que se perdeu nesse mar de tretas, trotes e trambiques que a vida nos apresenta. Você era sempre meu refúgio, mas agora havia um muro de silêncio em nosso encontro de corpos.
T: Corpos... como copos de vidro, quebrados. Aquele copo bonito que acompanha a taça de vinho. A beleza não é cola e nosso o vinho da noite era o caos. No dia seguinte a dúvida: matar-te ou martar-me?
F: Certeza de matar-me, pois amor é pouco para minha alma perdida. Mas nada de sangue, apenas alma não viva dentro de um corpo saciado de prazer pelas mãos sedosas de minha algoz. Matar-me de êxtase com sua lânguida volúpia seca que me traz memórias melhores que seus toques, me traz gozos não seus mas que lembram os meus melhores momentos de 15 anos.
T: Outrora heroína, agora vilã de sua sina, uma sina que não é só sua.
No braile de nossas peles, traduz nossos restos, de tempos tão controversos. Quero ser o gozo pueril de 15 anos e o gozo maduro, desses dias sujos.
F: Ah, não espere retorno. 15 anos se foram. Agora sou eu e você nessa masmorra de tensão, onde te quero num momento e te espero em tormento num outro tempo. Quero a tua mão me fazendo estrela, quero te entreter até que você não mais me queira. Mas quero a todo momento que você não me esqueça.
T: Não há esquecer quando se está tatuado no peito. Sem jeito, amantes de nós mesmo, olhos nos olhos, arregalados de desejo.
Ainda quero você, ainda quero seu beijo, também o quero longe. Mas, não tão longe. Sem você eu fico sem mim.
F: Então se pinte de carmim. Se chame de vadia entre nossas quatro paredes. Me dê teu âmago como quem dá dicas da melhor rota, mas não a direção da Sé e sim a fé do amor e da intensidade de sua saliva e todo o resto que resulta quando resumo em sua orelha: "vem minha puta".
T: De donzela a puta
Tens de mim, as duas.
Ai você para e me olha assim….
Escuto-te na música de seus olhos
Danço no ritmo de seus olhares, que me comem tão bem quanto outras partes de seu corpo, que é todo meu, e faz do meu morada instável. Entra e sai nessa madrugada. Sem respeito ou pudor.
F: Respeito eu tenho pelas linhas arredondadas do seu corpo, pelos seus seios em minhas mãos (quando não, boca), que te tornas louca de verdade (ou achas que não sei que finges prazer no meu beijo em suas cavidades). Mulher, te sei. Mulher, te deixo enganar- me pois quando sentes em cena, me tornas mecenas do dobro de prazer e de êxtase maior do que possas querer.
T: Meu caro amor impudico. Deixaste minha boca sem palavras, que tomada pelo gemido sonoro do meu gozo, se confunde com o seu.
Meu caro amor lascivo, nem precisa fechar a porta, entra logo agora, arranque minha roupa enovamente me possua.
Meu caro amor, amor. Minhas curvas são estradas, percorra, suba e desça seus morros. Busque meus sois, te darei minha lua quando souberes me dar as estrelas.
E foi assim que tudo começou, ou terminou, dependendo do ponto de vista. Uma porta entre aberta, malas por fazer, e nós dois na cama.
Esse texto foi escrito a quatro mãos com Tandra. Saiu de forma espontânea num grupo de whatsapp numa noite de sábado regada a vinho e o conforto de uma noite de inverno. O texto acima foi escrito de bate pronto, como um repente e portanto não foi editado para não perder a vivacidade do improviso. Adoramos fazer isso e espero que tenham gostado também.