Proibido por lei
e protegido pelo IPHAN
Incrível como o deus do sexo pode ser gentil às vezes. Hoje eu recebi ligações de cancelamento, pedidos de adiamento e uma mensagem de alguém de um passado delicioso. Eu não sou budista ou espírita, mas acredito que aquele leão foi meu amante em várias outras vidas. Eu diria o nome dele se não tivesse escrúpulos. Há dias nos quais me lembro do significado do termo escrúpulos.
Ele me mandou uma mensagem e foi direto, sendo sutil. Queria me ver. Quando nos vemos não é para conversar sobre as teorias Freudianas sobre sexualidade: nós fodemos. O cheiro dele é de dominação, peso, calor. 1,88m de um belíssimo moreno, alguns cabelos brancos, um corpo desenhado por ninfas e fortalecido por titãs. O homem é simplesmente um semideus.
Há nele uma noção clara do que quer e vai direto ao ponto. Não que apenas meta sem “gracejos”. Ele é um semideus na cama, no sofá, no box… Sua perfeição chega ao cúmulo de ter um pênis proporcional a um corpo de Apolo. Ele sorri e escorre em mim um líquido docemente ácido. Ele lambe. A barba falhada arranha e acaricia. Saliva. Tremor. Espasmos. Tremor. Gargalhadas.
Ele lê meus pensamentos mais íntimos e os executa enquanto mete fundo, segurando-me pelos quadris saltitantes, olhando no fundo dos meus olhos. Quadros tremem nas paredes. Homens que olham nos olhos, mesmo que eu fuja, me fazem gozar mais rápido. Quadris de mulher que ….
Por sorte minha, ele vai direto ao ponto e eu pouco pergunto. Envolvimentos agora não seriam o ideal. O caminho da sordidez é o mais fácil e covarde. Eu sigo admirando aquelas mãos grandes colocando a camisinha naquele pênis circunciso, grosso e maior que um palmo, como a prevenção a uma entrega. Não me entregar é uma pena, pois é bom. Contudo, a liquidez dos meus atos e das minhas pernas trêmulas não permitiriam a solidez de uma entrega plena.
Começamos pelo chuveiro. Na verdade, já na porta ele sorriu, me beijou, abriu as minhas pernas e checou se a fêmea ainda molhava só com o sorriso dele. Claro que sim. Aquela pele morena, nos ombros largos mais bonitos que já vi, são a melhor tradução de sexo pelo sexo. Havia um tempo em que só um amor me fazia gozar. Aquele amor. Mas ele não passava de uma ideia de amor. Costumo me apaixonar por ideias. Escorpião. Ele me fazia gozar pela dor, o leão, pelo prazer intenso do cuidado e daquela masculinidade marota de um rapazote de 29 anos. Eu comeria aquele homem no café da manhã todo santo dia. Minha boca enche d’água só de pensar.
Já na porta, ele mostrou a que veio sem sequer dizer “oi”. Ele sabe que não busco amor nele. Um dia eu o quis, hoje eu o degusto. Sou suave com ele. Nunca vou usá-lo como brinquedo descartável. Ele é a parte perfeita para o meu sexo, minha necessidade de me sentir fêmea dominada pelo cheiro do seu alfa. Eu o uso, mas reúso sem descartá-lo por ser gentil e útil. Meu apartamento, em Copacabana, fica bem com o cheiro dele.
Eu não faço perguntas, mas ele me fala. Ele não pergunta e eu falo também. Somos um reflexo, só que eu tenho mais fôlego e apetite. Ele tenta me acompanhar, mas acredito que não seja fácil bombear tanto sangue várias vezes. Quando chegou, pediu para ficar nu. Eu não negaria. Aquele homem deveria ser proibido por lei de usar roupas em público. Deveria ser um patrimônio tombado — porém rijo — pelo IPHAN.
Eu ofereci um chocolate com canela e pimenta para ele. Disse que ficaria pronto em minutos. Antes, queria tomar banho. Ele veio ao banho, passei sabonete líquido pelo corpo dele e fui tirando em movimentos de massagem. Aquela pele me ligava a cada centímetro percorrido e movimentos circulares eu fazia até decorar cada centímetro daquele corpo de Doce de Leite de Viçosa. Peles morenas deveriam ser recomendação médica para regular hormônios femininos. E aquele sotaque?! Homens mineiros são pepitas escuras e barrocas de Ouro Preto sob olhar de soslaio.
Aquele leão tem um gosto especial pelo meu traseiro e se delicia me comendo de quatro. Eu, que estava tomando analgésicos para os joelhos, recebi o melhor medicamento que existe. Freud estava certo. Aquela voz com sotaque cantado e Ss suaves era uma bossa nova nas mãos de Miucha ou João Gilberto. Desta vez não disse que eu era dele. Mesmo sendo mentira, gostava de ouvir. Talvez de dizer. Mentiras ditas com lábios doces de gozo me apetecem.