TaqTalkies #1: Ed Miyake

Viviane Ducarme
TaqtileBR
9 min readAug 29, 2017

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Aqui na Taqtile estamos sempre buscando formas de aprimorar o relacionamento de toda a equipe. Começamos com almoços 1x1 para conhecer uns aos outros e vimos os efeitos positivos no ambiente de trabalho. Para dar seguimento a essa iniciativa, resolvemos criar o TaqTalkies. A ideia é conhecer os taqtilers através de entrevistas com perguntas elaboradas por nós mesmos. E por que não divulgá-las para os mediúnicos também? Começamos essa série com o co-fundador da Taqtile, Ed Miyake! Aproveitem porque a conversa é profunda e vai te fazer pensar.

Ed, o que você faz na Taqtile?

Atualmente um pouco de tudo: desenvolvimento, criação/design sprint, suporte para os projetos e parte financeira/administrativa.

Quais foram suas outras experiências de trabalho?

Comecei desde criança a ajudar meus pais na feira. Tive que aprender a tabuada antes de entrar na escola para poder ser útil nas vendas. Com 16, 17 anos fiz meu primeiro estágio não remunerado no ITA/Inpe (São José dos Campos) em desenvolvimento de hardware e programação de microcontroladores PIC (assembly) para alguns simuladores de vôo. Mudei-me para o Canadá para aprender inglês dos 19 aos 21 anos. Lá trabalhei de lavador de prato, garçom, pedreiro, desenvolvedor freelancer, etc. Voltei para o Brasil na área de desenvolvimento (21–22 anos), participei de alguns projetos de segurança em instituições financeiras. Comecei a empreender aos 23 anos enquanto cursava meu segundo ano de administração (Compass e Indigo, de 2004–2012). Fiz de tudo nesse meio tempo: dev, design, administração… Em 2012 co-fundei a Taqtile e hoje em dia, além da Taqtile, tenho uma academia de Crossfit, onde dou aulas de terças e quintas.

O que a maioria das pessoas não sabe sobre você?

Talvez minha história. Que é longa. Mas vamos lá.

Sou filho de feirantes, segundo filho de três. Morávamos em São José dos Campos, e meus pais plantavam verduras/legumes entre dois postes da eletropaulo num terreno arrendado. Ajudei meus pais até os 9 anos de idade na feira, a vida nunca foi muito fácil. Durante a semana, acordava 4 da manhã para montar a banca, depois ia estudar, voltava ao meio dia para desmontar. Final de semana, feira também.

Meu pai foi trabalhar no Japão como dekassegui para tentar melhorar as condições financeiras da família. Aos poucos eles conquistaram algum patrimônio. Isto fez com que conseguisse migrar para uma escola particular a partir dos 15 anos.

Dos 15 anos em diante, a situação financeira de casa melhorou da água para o vinho. Foi quando passei a achar que ser rico era o objetivo. Não sofria mais os bullyings de criança por ser pobre e filho de feirante, passei a estudar em escola particular, de ter mesada.

No entanto, aos 17 anos, meu pai sofreu um acidente de carro com meu irmão mais novo que os matou. Foi quando tive o primeiro grande aprendizado da vida: dinheiro não é tudo. Tínhamos uma boa qualidade de vida, segurança financeira, mas infelizes.

Daí em diante, foi uma grande busca pelo sentido da vida, pelo propósito. Sempre questionei, frequentei algumas igrejas, livros de filosofia, etc. Junto a isso, o medo de me “ferrar” se minha mãe morresse e a necessidade de andar com as próprias pernas o mais rápido possível. Vim para São Paulo e foi onde tudo começou….

Como você explicaria sua filosofia de vida?

Evolução pessoal constante para contribuir para as pessoas que estão à volta, seja com conhecimento ou com exemplo. Tento pensar: “se eu morresse hoje, que diferença eu fiz além de simplesmente poluir este mundo”. Sei que no ápice da existência humana, sendo bem racional, isto não vai importar. Mas se a gente pensar assim, é mais fácil a gente se matar hoje.

Tento pensar: “se eu morresse hoje, que diferença eu fiz além de simplesmente poluir este mundo”.

No entanto, pensando em evolução humana, as ações são incrementais. As tecnologias são incrementais, os valores humanos são incrementais graças às contribuições das pessoas que não se satisfizeram com o status quo e contribuíram para mudanças que ultrapassam as próprias gerações.

Não gostaria de atuar como mais uma pessoa, que tem os gostos corriqueiros, seguem a vida como a média, que acabam sendo mais um, que almejam algo maior, mas não se movem para conquistar. Prefiro pensar totalmente diferente para agregar como mais uma forma de viver a vida.

Qual qualidade você julga ser a mais imprescindível para ser um bom profissional?

Difícil definir apenas uma qualidade, no entanto, na nossa área seria constante desenvolvimento. Para isso é preciso ter disciplina, enxergar o valor do estudo e esforço. Estudar de forma correta também é importante. Para um desenvolvedor, por exemplo, mais do que aprender linguagem, o importante é entender os princípios/conceitos. Aprender Swift ou Kotlin pode se tornar obsoleto. É preciso entender os princípios da plataforma, e como isso pode ser transferido para outras tecnologias. Isso também vale para as outras áreas.

Para um desenvolvedor, por exemplo, mais do que aprender linguagem, o importante é entender os princípios/conceitos.

Acredito que a resiliência também seja um fator importante para o profissional. Eu sinto que muitas pessoas encontram uma adversidade e desistem de seus projetos, iniciativas. Vejo também muitas pessoas começando muitas coisas, mas raramente vejo a conclusão delas.

Você possui propósitos de vida que te ajudam a levar o trabalho nos momentos mais árduos? Quais são eles?

Sim. Sem propósito, qualquer ação vira mais uma ação. Isto pode parecer clichê, mas o propósito é tentar fazer alguma diferença nesse mundo. De que forma? Tentando questionar o status quo, o estereótipo, as formas tradicionais, as convenções sociais.

Acredito que o princípio da inovação seja a transgressão das normas e do status quo para que haja um progresso.

Acredito que o princípio da inovação seja a transgressão das normas e do status quo para que haja um progresso. Exemplo: há poucos anos era “errado” beijar na rua, uma transgressão virou aceitação na sociedade e um progresso. Simplesmente aceitar as normas significa estacionar e ir no curso da média.

Hoje, vejo muita gente reproduzindo discursos, sem saber o porquê deles, como: “é preciso casar até os 30, trabalhar mais que 8 horas por dia é overwork, família em primeiro lugar, preciso fazer uma faculdade "top" para ter um bom emprego”, mas no fundo não pensam o porquê disso.

Meu mindset é sempre questionar tudo, por isso talvez eu seja visto como chato. Tentar enxergar de uma forma diferente o corriqueiro, o estereótipo. O desejo na Taqtile (originalmente inspirado nas crianças Indigo) era despertar esse senso crítico nas pessoas e questionar seu papel na sociedade. Desta forma, poderiam contribuir melhor para um nível de consciência maior para a sociedade, e criar um ambiente que ajude a formar as pessoas e essa evolução se perpetue.

Nas questões do dia-a-dia, no que você é melhor do que outras pessoas? Qual o seu segredo?

Disciplina para ir até o fim com as coisas que defino como meta. Tento utilizar as coisas prazerosas como recompensa. Assistir um filme se eu terminar de ler tal livro, poder dormir se eu ler 5 minutos, etc.

Muitas vezes, o processo é árduo. Não vou mentir, há momentos que leio sem muita vontade, treino sem muita vontade, mas entendo e enxergo o resultado do esforço e o propósito para as iniciativas. Quase nunca esse processo é prazeroso, ele se torna prazeroso quando você consegue imaginar e sentir o resultado. Isto é uma coisa que as pessoas deveriam saber, o prazer de fazer algo muitas vezes aparece só mais pra frente.

Quase nunca esse processo é prazeroso, ele se torna prazeroso quando você consegue imaginar e sentir o resultado.

No início, rola uma preguiça, mas o importante é ter disciplina para poder superar esta fase e também usar o racional para segurar as tentações. Hoje eu entendo que eu não preciso sair todo final de semana com amigos para ser feliz, que eu posso então me dedicar mais tempo com aquisição de skills que sair para bares. Inclusive, depois que você fica mais velho, você percebe que sair no final de semana é “mais do mesmo”. Não necessariamente você está aproveitando a vida.

O que você gosta de fazer no seu tempo livre?

  • Ler (meta de 24 livros por ano). Terminei o 19º deste ano (entre audiobooks e Kindle);
  • Aprender alguma tecnologia nova (meta de uma tecnologia ou framework novo por ano). Este ano foquei em algumas capacitações: concepção de um Template Node.js, Nativescript, React;
  • Aprender novos skills fora da área da computação (fisiologia, patologias ortopédicas, biomecânica, teoria do treinamento, desenho industrial). Por enquanto, estou conseguindo conciliar estas iniciativas.
  • Culinária (dedicação nula atualmente).
  • Bar/jantar em grupos muuuito pequenos (eu e mais 1… hahahaha. Brinks).
  • Assistir seriado, somente em horas “perdidas” como durante o jantar, momentos de insônia… Atualmente acompanho Game Of Thrones e House of Cards.

O que você está lendo atualmente? Ou algo que gostaria de recomendar?

Lendo atualmente: "The normal animal" e "Anatomy trains".

Início da carreira (que eu me lembro de imediato, não necessariamente os que mais me inspiraram):

Must read para quem está em busca incessante da felicidade:

Para saberem mais, vejam meu perfil no Goodreads.

Ilustração de Edmar Miyake feita por George Chaves, atual designer da Taqtile.

Quais são seus filmes preferidos?

Não necessariamente os preferidos, mas são os filmes que lembro agora: O Poderoso chefão, A Lista de Schindler, Monty Python e Efeito borboleta.

Como você recarrega as energias? O que você faz quando quer esquecer sobre o trabalho?

Eu me recarrego quando estou sozinho, em casa. Quando estou treinando também esqueço de tudo.

Uma palavra que melhor descreve a forma como você trabalha.

Impaciente e ansioso.

Quais são os apps, software, ferramentas que você não pode viver sem?

Audible, Feedly, Instagram e Kindle.

Quais seus maiores medos?

  • Estacionar e me tornar obsoleto;
  • não ter conseguido conquistar meus objetivos profissionais contribuindo para o empreendedorismo no Brasil;
  • ficar doente.

Que realização você está mais orgulhoso por ter feito?

Ter tido um dedo para o crescimento de algumas empresas/pessoas: Codus, Infosimples, meu sócio no CrossFit, alguns amigos com quem dividi apartamento.

Como você irá salvar o mundo?

Questionar as coisas como elas são. Tentar introduzir e agir de forma diferente de 99% das pessoas e ter uma esperança de que isto sirva de exemplo para as pessoas mudarem. Tentar contribuir para o empreendedorismo no Brasil. Tentar juntar as pessoas com a "mesma pegada", para assessorar novas iniciativas.

Tentar introduzir e agir de forma diferente de 99% das pessoas e ter uma esperança de que isto sirva de exemplo para as pessoas mudarem.

Se você soubesse que morreria daqui um ano, o que você faria e o que você gostaria de ser lembrado por?

Hardworking, mostrar que o tempo não é uma desculpa. Quem aloca o tempo é a própria pessoa para aquilo que ela acha importante. Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, mas dá para priorizar. Todos têm as mesmas 24 horas no dia, mas há pessoas que fazem muito mais com essas 24 horas (Elon Musk é um grande exemplo).

Falta realizar algum sonho? Qual?

Sim, profissionalmente desenvolver alguma forma de incubar empresas/ideias e ajudá-las a tirar do papel.

Pessoalmente, ter a tranquilidade de poder tirar férias sem ansiedade do trabalho, ou sentimento de culpa, além de poder trabalhar de qualquer lugar do mundo.

Outro sonho é estudar medicina.

Se alguém te pedisse um conselho, qual você daria?

Idade é só um número. Se te disserem que vc está muito novo para fazer X, duvide. Quando comecei a empreender, me disseram que era muito novo e não tinha maturidade para fazer uma empresa dar certo. Se está muito velho, também. Duvide de tudo, tire a prova você mesmo. Questione os “achismos”.

Pense nas consequências de seus atos. Exemplo: se você estuda em faculdade pública, pode ser que você teve uma regalia no lugar de outros que realmente precisavam e não tiveram. O mínimo seria contribuir de volta para eles.

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