Ideia "boa”, produto ruim
Porque os melhores produtos são aqueles que resolvem problemas reais dos usuários.
O que não falta hoje em dia são pessoas falando que tem uma ideia genial para um aplicativo ou produto, todos querem ser o novo Airbnb ou o próximo Snapchat. Pegue uma caneta e um papel e faça um brainstorm de meia hora, provavelmente surgirão diversas ideias para aplicativos, livros ou produtos. Ter ideias não é a parte mais difícil do processo, o difícil é fazer algo que as pessoas queiram usar.
“Life’s too short to build something nobody wants.” Nikkel Blaase — Why Product Thinking is the next big thing in UX Design
Inovadoras ou não, as funcionalidades são só uma pequena parte do produto. Elas são uma de várias soluções possíveis para os problemas do usuário que aquele produto se prontifica a resolver. Entender qual é o problema, quem é o usuário e qual a visão do produto para resolver essa dificuldade é uma decisão que precisa vir antes de “como” ela será resolvido.
Se você parar para pensar nos produtos e serviços que usa todos os dias — aqueles que mudam indústrias e alcançam bilhões de dólares em valor de mercado — verá que todos eles resolvem problemas reais na vida dos usuários.
Pode até parecer simples, mas saber o que resolver é mais difícil do que você pensa. Alguns caminhos podem facilitam essa tarefa, e é sobre eles que vamos tratar nesse post.
1. Deixe as coisas convenientes
Atualmente, quase tudo o que fazemos é bastante conveniente. Com um ou dois cliques você descobre a música que está tocando, assiste ao último episódio de Game of Thrones, chama um táxi e até manda nudes. Vivemos tão em função de produtos que nos poupam tempo e trabalho que é fácil negligenciar oportunidades de criar algo novo.
Apoorva Mehta foi alguém que reconheceu essa oportunidade ao criar o Instacart, nomeada pela Fast Company como uma das empresas mais inovadoras do varejo em 2015. Com ele você faz suas compras online no supermercado que quiser e, em seguida, a empresa envia um personal shopper para retirar os produtos e entregá-los na sua casa em poucas horas.
Sempre há uma maneira de tornar as coisas mais convenientes. Pare para pensar em quais são os problemas sobre os quais as pessoas reclamam diariamente e o que te incomoda todos os dias e você verá a quantidade de coisas que ainda podem ser melhoradas.
2. Acabe com a ineficácia
Praticamente todos os mercados são ineficientes de alguma maneira.
Isso foi algo que o Uber percebeu e aproveitou muito bem. A ideia para o serviço surgiu quando um grupo de amigos percebeu a quantidade de motoristas particulares que passavam horas parados na entrada de hotéis, esperando até que um hóspede precisasse de uma carona, bem como a dificuldade para se conseguir pegar um táxi enquanto carrega malas em um dia chuvoso. Nesse caso o serviço trouxe mais conveniência para os usuários e também mais eficiência para os motoristas.
Uma busca rápida no Product Hunt por “Uber for” mostra a quantidade de soluções que surgem todos os dias prometendo fazer o mesmo que o Uber fez pelo transporte privado.
Tome nota do tempo, dinheiro e esforço desperdiçado em cada tarefa que você fizer, se você puder encontrar uma maneira de torná-la mais rápida, fácil, ou barata então você tem um mercado para seu produto.
3. Preveja a inevitabilidade
A tendência de queda no custo do poder de processamento, armazenamento, largura de banda, dos dispositivos e do acesso à dados facilita não só a inovação mas também a adoção de novas tecnologias pelos consumidores. Soluções novas e melhores vão eclipsar as já existentes na medida em que trazem mais eficiência e superam os obstáculos à sua utilização, vide o caso do Airbnb.
É preciso reconhecer essa inevitabilidade como uma oportunidade, sempre lembrando que o timing é um elemento crucial nessa equação: coloque suas ideias em prática antes que a tecnologia ou que o mercado esteja pronto e você estará adiantado demais; espere muito e alguém chegará na sua frente.
Quem está sofrendo com isso é o Apple Watch, que foi lançado para entrar logo no mercado de smartwatches mas ainda não resolve problema nenhum dos usuários.
4. Reconheça o sucesso dos outros
A inovação surge de diferentes mercados, em níveis e momentos diferentes. Um mercado que aparenta ser conservador pode ser extremamente inovador em relação a outros, assim como um produto que é comum em um mercado pode ser revolucionário em outro.
Fique sempre atento ao sucesso das outras indústrias e analise se é possível adaptar a mesma abordagem para o seu produto. Isso foi algo que o Slack fez muito bem, trazendo elementos das redes sociais para a comunicação empresarial. Esse era um mercado que já tinha vários concorrentes consolidados, mas que foram esmagados quando o Slack surgiu com algo melhor.
5. Olhe para o todo
Mesmo com tudo isso, também é bom se perguntar se a sua solução é realmente necessária ou se o problema que você está tentando resolver é na verdade um sintoma de algo maior.
Em um barco que está furado não adianta você tentar tirar a água de dentro com uma caneca. Dando um passo para trás você pode descobrir que é mais importante gastar seus recursos e habilidades para tapar o buraco primeiro.
Sempre haverá pequenas ações que poderão ser feitas para resolver um problema, e será ótimo se você conseguir realizar uma delas. Mas é muito importante mensurar qual é o valor do investimento que está sendo feito para analisar se ele não poderia ser voltado para algo ainda maior.
Resumindo, para criar um bom produto você precisa olhar para as oportunidades e encontrar um problema que valha a pena ser resolvido. Uma vez que você tenha feito isso o próximo passo é manter o foco em descobrir o que você precisa saber para resolver esse problema efetivamente, não só em fazer o que você sabe. Pessoas com grandes ideias geralmente possuem também um espírito aventureiro e por isso acham difícil colocar as necessidades do usuário em primeiro lugar, já que para elas a ideia deve ser bem-sucedida a qualquer custo.
Portanto, gastar um pouco de tempo extra descobrindo qual é o problema — ao invés de simplesmente passar horas “tendo boas ideias” e se matando para fazê-las funcionarem — vai aumentar significativamente as chances de que alguém queira usar de fato o seu produto ou serviço.