Povoados de Pitangui: tão longe e tão perto de mim

Tatiana Santos
tatianasantosmg
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4 min readDec 17, 2018

Por que uma pessoa de Cláudio está lendo um livro sobre povoados de Pitangui?

Era muito comum ouvir essa pergunta por aí enquanto lia o livro-reportagem Tão longe, tão perto: a vida nos povoados de Pitangui, do jornalista Ricardo Welbert. E com razão. Apesar de serem cidades geograficamente distantes, eu fazia questão de levar o livro comigo para os quatro cantos do mundo. Sempre que alguém pedia uma informação, eu ia toda empolgada contar cada detalhe. Sim, o livro é maravilhoso e eu vou explicar o motivo.

Eu conheço o Ricardo Welbert desde… 2011? Sim, eu tive que ir lá no Facebook para ver o “amigos desde tal data”, mas não encontrei a opção e resolvi me guiar pelas datas das publicações mesmo. Desde então acompanho o trabalho dele, seja no rádio, no impresso, na internet, na TV ou nas redes sociais. É óbvio que eu não ia deixar de ler esse livro (apesar dele pensar o contrário, hahaha).

Um pedacinho de Pitangui em mãos

Foi na Flid 2016 que recebi a obra das mãos do próprio Ricardo, um dos autores convidados para o evento. Teve até dedicatória no livro e “fotinha” (que não vou colocar aqui porque fiquei horrível, as usual). Terminei algumas leituras pendentes e #partiu conhecer uns povoados aí.

Eu já comecei a leitura com uma grande expectativa. Afinal, conhecia muito bem o jeito de escrever do autor e simplesmente adorava. Mas confesso que os assuntos sobre Pitangui nunca tiveram muito minha atenção. Entre Cláudio e a cidade tricentenária tem mais de 100 quilômetros de estrada. Jamais pensei em conhecer Pitangui e nunca nem passei perto — até agora.

Durante a minha leitura de Tão longe, tão perto: a vida nos povoados de Pitangui, fui surpreendida desde o começo por muitas histórias que, de verdade, pareciam ser das comunidades de Cláudio. As dificuldades, as preocupações, os anseios e as boas lembranças são muito semelhantes. De alguma forma, eu me sentia lá, no meio de cada uma dessas pessoas entrevistadas por Ricardo Welbert.

Cada capítulo, um povoado e muitas narrativas incríveis

No livro, cada parte é dedicada a um povoado pitanguiense e seus respectivos lugarejos: Campo Grande, Coqueiros, Manoel de Souza, Melos, Rio do Peixe, Sacramento, Tijuco, Velho da Taipa e Veloso. Cada um com seus momentos felizes e tristes eternizados por meio da obra.

Uma das mais divertidas narrativas se passa no povoado de Campo Grande, localizado a 12 quilômetros do perímetro urbano. Um senhor recebeu apelido de “homem da água” por ser responsável pelo gerenciamento da distribuição de água no local. Eis que um dia a esposa dele sofre um pequeno acidente doméstico enquanto cozinhava. A partir desse momento, o casal ficou conhecido como “Homem da Água e Mulher do Fogo”.

E as coincidências? Em Coqueiros, tem uma família de talentos musicais. O pai tocava violão e cantava e hoje o filho dele dá sequência à profissão. O legal é que na Cidade Carinho também tem esse talento passado de pai para filho em uma família com o mesmo sobrenome da pitanguiense: Braga. Inclusive, trabalhei com um deles no lançamento do CD da cantora Cleide Clara.

Um luta de partir o coração

A ordem adotada na organização dos capítulos foi a alfabética. Coincidência ou não, em Veloso, último povoado da lista, tem uma história tão emocionante que não haveria espaço mais perfeito para esses relatos do que no final do livro. Arrisco-me a comparar com o epílogo surpreendente de um grande romance: você não espera por aquilo e gasta um bom tempo para digerir as informações e as emoções.

Trata-se de um empenho muito grande dos moradores de Veloso em prol de melhorias nas oportunidades de trabalho da comunidade. A forma como Ricardo narra cada momento é empolgante e faz o leitor se envolver com os planos, expectativas e, infelizmente, frustrações de toda essa gente. Eu terminei de ler o livro minutos antes de uma reunião. Confesso que fiquei bem aérea durante o encontro. Foram horas pensando em tudo que eu li. É uma história (até então) triste e que certamente vai me marcar para sempre.

Hoje, após essas 212 páginas, posso dizer que os povoados de Pitangui também estão tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto de mim.

WELBERT, Ricardo. Tão longe, tão perto: a vida nos povoados de Pitangui. Belo Horizonte: Comunicação de Fato, 2015. 252 p.

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