Aqui, dentro de casa: os vizinhos de um palco internacional

Mariana Barcelos
Tchê, Jude!
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5 min readOct 11, 2017
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- Gente, o que vocês acham do trabalho do bimestre ser um especial no Medium de serviço para o show do Paul McCartney?, bradou a mais nova professora do curso de Jornalismo da faculdade. Tanira é o nome dela. Aceitamos.

Ah, vai ser fácil fazer isso. Já fizemos tantas matérias, não é mesmo? Não.

Tá, esta sou eu: Mariana, estudante do sexto semestre de Jornalismo na ESPM Sul e com certo desconhecimento sobre a obra dos Beatles ou do Paul McCartney. Escolhi o que achava ser o melhor assunto para minha reportagem: a vizinhança.

Fonte: Google Imagens

A menina tímida, com interesse em assessoria de imprensa resolveu ir para a rua e fazer aquilo que para ela é um desafio: falar com a vizinhança ao redor do Estádio Beira-Rio. Naquela manhã de sábado a mocinha despertou e ficou na cama o máximo de tempo possível, só “tomando” um pouco de coragem. E lá foi ela, atravessou a cidade inteira (do bairro Sarandi até o bairro Praia de Belas) e, finalmente, chegou ao seu destino.

Lá fui eu com aquele pensamento de “quer saber, não tenho nada a perder, sabe?”. Cheguei e fui direto para rua da frente do Estádio, que eu já tinha estudado em um mapa online. Primeira casa, número 17. Bato palmas três vezes e lá de trás sai um homem. Me apresentei, disse que estava fazendo um trabalho da faculdade e ele, prontamente: “Pode perguntar”. Alexandre Trindade, é seu nome. Mora ali desde que nasceu, há 50 anos.

Eu: “Alexandre, como é o movimento, o barulho aqui quando tem show?”

Alexandre: “Ah, quando tem show é tranquilo, agora quando tem jogo de futebol, é um porre”.

Pensei que seria completamente ao contrário. Mas tá, segui com as perguntas…

Eu: “E daqui você escuta o show?”

Alexandre: “Sim, nesse último show que foi do Bom Jovi, eu gravei no celular daqui do pátio…. Dava para escutar as músicas perfeitamente, como se eu estivesse lá dentro”.

Eu: “E você gosta dos músicos e bandas que tocam aqui?”

Alexandre: “Não, eu curto um som mais pop, como Pet Shop Boys”.

Agradeci e me despedi animada com a primeira entrevista, pronta para bater palmas na próxima casa.

Na casa da frente, dois cães me receberam aos latidos e mesmo com a casa aberta ninguém saiu.

Casas três e quatro fechadas.

A casa branca da metade da rua me deu esperanças. Bati e palmas. Nada.

Quando eu entrei na rua, tinha avistado um senhor com seu cão de estimação. Os dois davam uma volta pelas redondezas. Bom, foi aí que Sérgio Gonçalves se aproximou…

“Oi! O senhor mora aqui?”

“Sim, moro aqui nessa rua. Mas tô vendo que desde que tu entrou tu tá meio perdida. Qual número tu tá procurando?”

Essa foi a deixa para essa jovem tímida que vos fala entrevistar mais uma pessoa. Acho que de início eu posso dizer que o Seu Sérgio e eu conversamos por mais ou menos dez minutos (ou mais), ali, no meio daquela rua sem saída na frente do Beira Rio. Tentando me ajudar ele disse: “Olha, aqui nessa casa só moram freiras e elas são bem quietas. Aqui do lado tem um colégio. Nessa casa da frente mora um senhor sozinho, daqueles que mora em um casarão mas sozinho”.

Eu falei: “Bah…”

E ele perguntou: “Mas o que tu precisa saber?”

Deixa número 2.

Eu: “Queria saber como é pra você, em dia de show, morando aqui na frente do Beira Rio? É muito movimento? Incomoda?”

Sérgio: “Olha, em dia de show é movimento pra caramba. Essa rua aqui enche de carrocinha de cachorro-quente. Não sei como tem tanta gente que diz que brasileiro não trabalha, por que aqui em dia de show você vê famílias inteiras vendendo seus produtos”

Eu: “Mas e o barulho, não atrapalha os moradores?”

Sérgio: “Pra mim não atrapalha. Mas eu também moro na parte de trás do primeiro prédio da rua então não escuto muita coisa. Acho que quem se incomoda com barulho morando na frente de um estádio de futebol deveria se mudar”.

Eu: “Mas e do Paul McCartney, o senhor gosta?”

Sérgio: “Eu não, ele tá muito velho. Quando eu era mais novo cheguei até a dar um disco dos Beatles para a minha mãe, mas hoje não curto mais eles. Parece que a juventude não fez novos ídolos”.

Com essa eu me despedi do Seu Sérgio, morador daquela rua há 22 anos, e fui falar com a Andreia Rodrigues, frentista do posto de gasolina vizinho ao estádio. Provavelmente em seu horário de intervalo, sentada em uma cadeira de praia e sem me dar muito papo, logo na primeira pergunta a moça já disse: “Eu não falo os meus dados pessoais”

Eu: “Eu só queria saber… como é o movimento aqui em dia de show?”

Andreia: “Ah, o movimento é grande né? As vezes vai até duas horas da manhã a movimentação depois do show, mas é só”, finalizou Andreia sem me dar muita bola.

Deixei o bairro com a impressão de que a vizinhança nem se surpreende tanto quando chegam grandes artistas para fazer show ali, tão pertinho. Acham OK, legal, mas… como se já fosse parte da rotina.

A vizinha beatlemaníaca

Monique no show do Paul McCartney no Estádio Beira-Rio em 2010 (arquivo pessoal)

A exceção entre esses moradores eu conheci através de uma rede social.

Monique Chadutt, é uma cinegrafista/fotógrafa apaixonada pelos Beatles que mora a poucas quadras do Beira-Rio.

Sua paixão pela banda começou quando ela ainda era criança, por influência de sua mãe.

Como herança de família, hoje ela “ensina Beatles” para seu filho Gabriel, de apenas oito anos de idade. No vídeo abaixo ela nos conta mais sobre essa história.

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