Pequeno Manifesto

Ou porque os textos epistolares do Te Escrevi uma Carta podem te interessar.

Camila Narduchi
Te Escrevi uma Carta
2 min readJul 26, 2019

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Uma carta. Uma correspondência escrita entre duas ou mais pessoas. Um remetente e um receptor.

Definir exatamente o que é uma carta pode ser uma tarefa difícil, principalmente em tempos de e-mail e WhatsApp. O que podemos dizer com certeza é que mensagens nos conectam, seja como for, de maneira mais ou menos específica, e servem também para nos dar uma sensação de pertencimento. Ninguém é uma ilha.

A escrita é, afinal, uma forma de diálogo. Consigo mesmo, e com os outros. Muitas vezes, a mágica inclusive não está nem no envio consumado dessas correspondências, mas sim no ato de redigi-las. Como Nina Sankovitch já ressaltou, talvez as cartas que escrevemos sejam mais importantes do que as que recebemos — e pelas quais às vezes tanto esperamos. Quantas cartas você já escreveu, até mesmo em pensamento?

Sem adentrar nos pormenores se a escrita à mão seria mais “pessoal”, podemos argumentar que a vantagem de uma carta publicada abertamente, e principalmente de maneira eletrônica, é o alcance. Claro, as cartas de papel talvez tenham uma vantagem física quase metonímica em relação a publicações como esta, mas aqui a intenção é muito mais o compartilhamento de sensações e experiências; muito mais que uma relação epistolar ou uma correspondência à distância entre amigos ou amantes, é uma aproximação de um Eu, frequentemente estranho e isolado, de outro.

A escrita dessas cartas não se mede em saudade ou impossibilidades. Ela é regida por outros sentimentos, que anseiam identificação e pertencimento — ou, ao contrário, estranheza e debate.

No que essas cartas possam se assemelhar com a carta de papel, é provavelmente no desejo de não provocar atenção imediata com uma notificação, como um e-mail ou uma mensagem de texto no celular. Aqui, queremos a introspecção da leitura, a imersão numa pequena bolha meio íntima, meio compartilhada, num universo de reconhecimento.

É a beleza de uma intimidade quase pública, de se ver na experiência do outro, sem esperar resposta, conclusão ou solução imediata. É a indagação silenciosa, nem sempre profunda, a partir de experiências pessoais: você me vê?

Em tempos de interações instantâneas, essa leitura meditativa nos convida a uma reflexão mais empática, e nos propõe uma pausa em contemplação sobre a condição humana, sobre o que nos distancia e nos aproxima, o que nos difere e nos assemelha.

A autoridade pessoal expressa numa carta pode ser uma ferramenta poderosa de ponderação do Eu no mundo, e também do desenvolvimento de uma visão mais profunda das dores e alegrias de ser quem somos, seja para quem escreve ou para quem lê.

Nós, afinal, talvez não sejamos tão diferentes assim.

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