Onde tudo começou. Inclusive o descobrimento do Brasil.

Ciça Ferrarezzi
Te vejo na volta
Published in
4 min readJul 2, 2018

Essa não foi exatamente minha primeira viagem. Mas, se fosse para escolher um marco, um ponto de partida, aqui seria onde meu gosto — mais organizado, mais frequente e mais desbravador — por viagens, começou.

Eu já tinha estado em alguns países da Europa, na Argentina, nos Estados Unidos e em diversos estados brasileiros, mas foi com uma mochila nas costas e 15 dias pela frente, em julho de 2007, que embarquei (embarcamos) em minha (nossa) primeira experiência — mais longa juntos.

Éramos eu, meu marido (na época, namorado) e quatro passagens de avião. As de ida e as de volta. Sem nenhum hotel reservado, sem roteiro. Para quem me conhece (e para quem leu “Como eu viajo”), aquilo tudo era uma grande bizarrice. Mas digamos que eu era jovem. Mais jovem. Já faz 10 anos.

Nosso destino era a Bahia, que eu conhecia muito pouco. Só tinha estado em Porto Seguro (adivinha fazendo o quê?) na mesma época que Cabral e eu estava animadíssima. Começamos a viagem, que era total pinga-pinga, descendo em Minas, depois em Ilhéus. Em Ilhéus, no aeroporto, decidimos que iríamos para Itacaré e, de lá mesmo, com uma internet sofrível, fizemos algumas pesquisas e ligamos para umas três pousadas. Tinham vagas — ufa (sim, minha parte aventureira era, e sempre foi, bem menor que minha parte precavida, e eu tava me c* de ficar de malas na mão, a ver navios literalmente).

Itacaré

No aeroporto, pegamos um transfer de carro até Itacaré. Muita emoção. Motorista animado, imprudente, muitas curvas. Foi sofrido. Viajei de olhos fechados. Mal sabia que essa não seria a última vez — até agora, na vida — a viajar de olhos fechados.

Vivos e a salvos, entramos na primeira pousada, na frente da praia da Concha. Gostamos e ali ficamos por quase uma semana:

Era uma pousada honesta. A poucos passos da praia (dessas que você vai no fim do dia, já que Itacaré é pra quem gosta de camelar), com uma mini piscininha simpática.

Não posso dizer que amei Itacaré. Tem pouco a ver comigo. Achei ‘bicho grilo’ demais, com praias de difícil acesso demais… Itacaré é, definitivamente, um lugar incrível para os amantes da caminhada embaixo do sol. Não sou exatamente dessas. Foi bom ter tido contato com isso logo na nossa primeira aventura. Isso moldou muito das minhas escolhas futuras e me fez ter segurança para respeitar meus gostos (e verbalizá-los! e isso faz uma diferença danada na vida em geral).

Aprendi que férias são para serem legais. Não sofridas. Repito esse mantra sempre que saio de casa, com as malas na mão.

Partimos para a 2a etapa dessa trip pelo sul da Bahia. Rumo a Trancoso. E aqui entra um detalhe que também diz muito sobre a forma como viajo. A ideia original era irmos de ônibus de Itacaré a Trancoso. Meu marido achou melhor não — fomos de carro, com um motorista prá-lá-de-bacana, o Edney, que havíamos conhecido dois dias antes no passeio a Maraú.

A viagem de Itacaré a Trancoso é um capítulo a parte. Fomos eu, Dinho (meu marido), Edney e seu filho pequeno (uns 7 anos, não tenho lembrança exata) em um Fiat Uno, sem ar condicionado, por muitos kms. Fomos parando no caminho. Ora pra fazer xixi, ora pro menino (fi-gu-ra-ça) tomar sorvete, ora pro Edney ir ao banco. Levamos quase o dia todo até Trancoso. Mas valeu. Nunca vou me esquecer dessa jornada.

Trancoso

Chegamos em Trancoso já era quase fim de dia. Edney estacionou seu Fiat Uno próximo ao quadrado e ali nos despedimos deles. Pisei ali e já senti que Trancoso era mais “lar doce lar” pra mim. Havia crianças brincando e velhos papeando ali no Quadrado. As casinhas coloridas, o gramado. Tudo conspirava a favor das minhas férias.

Caminhamos pouco, entramos em umas três pousadas. A última daquela viela nos encantou (e o preço era maravilhoso na época). Chamava (chama, pois ainda existe) Mar à Vista, a dona é uma inglesa e sua filha. Quarto amplo, varanda com vista para o mar, café da manhã gostoso, piscina honesta e uma churrasqueira que a própria dona usa para assar peixes e convidar os hóspedes. Taí mais uma coisa que nunca vou esquecer, apesar de termos declinado o convite (mais uma idiossincrasia nossa).

Lembro bem de Trancoso e tenho vontade de voltar (meu marido voltou sozinho esse ano de 2018, durante o sabático que ele está vivendo). Quero comer de novo no Cacau, no Portinha (li que fechou, procede?), saborear abacaxi e lagosta na praia… caminhar sem pressa até a praia, “caçando caraguejos”.

De lá, ainda partimos para Arraial D´Ajuda. Mas não quero falar sobre Arraial. Gostei zero de lá. Pessoas andando de salto alto no paralelepípedo azedaram o clima de quem estava chegando de Trancoso. Sei lá. Talvez eu precise dar uma segunda chance a Arraial, assim como dei a Roma e a Nova York. Mas isso são outros posts. Outras histórias. Outras viagens.

Te vejo na volta!

--

--

Ciça Ferrarezzi
Te vejo na volta

Jornalista e cientista política de formação. Escreve como terapia. Escreve porque não sabe rezar. Escreve para se ouvir em silêncio.