E por que eu viajo como eu viajo?

Ciça Ferrarezzi
Te vejo na volta
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2 min readJul 3, 2018

Amo o trajeto de casa até o aeroporto. Qualquer um deles. Congonhas, Cumbica, Viracopos. Pra mim, viajar começa muito antes de colocar os pés no destino.

Posso arriscar dizendo que começa uns seis meses antes, quando começamos a escolher os destinos, a fazer as reservas (para as férias programadas). Essa fase é um misto de ansiedade e irritação. Nunca sei para onde quero ir. Não consigo lidar bem com a ideia de que “cada escolha, uma renúncia”. Eu sempre quero ir para todos os lugares. E, ao mesmo tempo, para lugar nenhum.

Eu e meu marido tínhamos um combinado. Cada ano um escolheria o destino. Não tem funcionado. Arrisco dizer que escolhi quase todos. Não por ser egoísta (talvez ele tenha outra opinião), mas porque tomo a frente, faço as pesquisas, bato o martelo. E, convenhamos, faço boas escolhas. So far, ele não tem muito do que reclamar.

As únicas prerrogativas que perseguimos quando vamos viajar são:

  • Que, prioritariamente, tenha praia
  • Que seja algo inédito para nós (a não ser que sejam viagens não-férias, dessas de menos dias ou no meio de outros destinos)
  • Que caiba no bolso
  • Que não seja, prioritariamente, nos Estados Unidos

Sobre esse último ponto, explico um pouco melhor. Nada contra os EUA. Já estive lá algumas vezes e vou sempre que dá. Mas não encaro como férias. Fico ansiosa nos EUA. Fico (mais) consumista nos EUA. Sou uma pessoa pior nos EUA.

E na minha particular concepção de férias não cabem compras (desenfreadas) e arquivamento de incontáveis notinhas de cartão de crédito, né?

Férias são relax. Tempo pra pensar. Pra comer. Pra beber vinho tinto, rose, branco! Pra observar a vida passar. Talvez por isso nosso destino máximo seja praia. Eu sou feliz em frente ao mar. Em frente de qualquer mar. Mas, pelas minhas andanças, notei sou mais feliz em frente ao mar na Bahia, na Itália e na Grécia. E olha só que coisa esquisita. Sou mais feliz em lugares em que também eu possa ser feliz de costas para o mar.

Não fez sentido? Explico: gosto de lugares com mar e com vida noturna. Com mar e vila simpática. Com mar e histórias pra conhecer.

Mas sou do tipo que não viaja só com biquíni e canga. Eu gosto de sair da praia (ficamos até depois do almoço), ir pro hotel, tomar banho, me arrumar, reservar um restaurante e sair pra jantar. Não sou da balada, da madrugada nas viagens. Mas sou da vida noturna. Não sou do “fica direto na rua até o jantar”, “come um lanche”, “pega alguma coisa e come no quarto do hotel”.

Não. Não sou. Por isso volto às férias nos EUA. NY foi o único lugar que, das duas vezes que fui, tive vontade de não sair à noite. É um lugar que te metralha, sei lá. Te esgota. Gosto de viver a vida mais devagar. Pelo menos nas férias.

Afinal, saio de férias para me reenergizar, pra me reencontrar. Saio de férias para ler. Ler muito. E também pra escrever… (ler mais no “por que eu viajo”)

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Ciça Ferrarezzi
Te vejo na volta

Jornalista e cientista política de formação. Escreve como terapia. Escreve porque não sabe rezar. Escreve para se ouvir em silêncio.