Feira de Ciências

Ariovaldo Carmona
Tech@Grupo ZAP
Published in
4 min readJun 24, 2020
Imagem de Kaleidoscope Discovery Center

Como seria se as pessoas pudessem escolher em qual time trabalhar? Será que isso daria certo? Contamos um pouco dos aprendizados que tivemos durante esta jornada.

Aqui no Grupo ZAP temos as áreas de Design, Produto e Engenharia organizadas em tribes, squads, chapters e guilds. Modelo bem conhecido — e recentemente debatido — para desenvolvimento de produto em empresas de tecnologia.

No final de 2019, tínhamos um grande desafio como equipe e empresa: Redefinir nossa visão de produto para o próximo ano e adaptar nossa estrutura. As equipes de engenharia, especificamente, teriam mudanças significativas para refletir a nova estratégia.

Com a primeira versão da visão definida, começamos a pensar qual seria a melhor estrutura de tribes e squads. Definimos os principais focos de negócio, quais domínios novos iríamos construir e quais produtos teríamos que evoluir e sustentar. Neste ponto, o maior desafio não é o que vamos fazer, mas sim o que NÃO vamos fazer. O que, de forma consciente, vamos deixar de lado por um período em detrimento de foco. Esta argumentação do que não faremos precisa ser documentada e bem comunicada para evitar frustrações pelo caminho.

Agora, o próximo passo seria, de fato, organizar os times. Nesta etapa tentamos fazer algo diferente, algo que aumentasse o engajamento das pessoas e despertasse interesse em entender melhor o ecossistema como um todo. É comum — ruim, mas comum — que com o tempo cada equipe foque em seu contexto e tenha baixa visão do todo, das relações e dependências entre as demais equipes.

Divulgamos o mapa de tribos e equipes com o Gerente de Produto e Gerente de Engenharia definidos e pedimos para que cada pessoa demonstrasse interesse em quais equipes gostaria de trabalhar. A idéia era que cada pessoa indicasse ao menos três opções de equipe, para termos alternativas de acordo com o tamanho da equipe e quais skills técnicos seriam necessários em cada contexto.

Nesta etapa aconteceu algo muito, mas muito legal e inesperado. Líderes de produto e engenharia começaram a “recrutar” pessoas para seus times, fazendo “pitch” do que seria a equipe, quais desafios e necessidades. Acabamos gerando um ambiente semelhante a uma grande “feira de ciências” durante este período. O timing foi muito interessante, porque, além de estarem engajados na visão para o próximo ano, também estavam escolhendo quais equipes poderiam contribuir de forma mais eficiente.

Tem uma frase do livro Work Rules que gosto bastante e reflete o momento:

“If you give people freedom, they will amaze you”
(BOCK, 2015, Work Rules)

Com todas as intenções em mãos, acertamos algumas distorções, principalmente pela limitação de tamanho de equipes e tivemos um resultado bastante interessante. Conseguimos manter cerca de 90% da intenção declarada das pessoas, dentre as opções sugeridas por cada uma delas. Isto não só demonstrou entendimento sobre aderência entre skill e necessidade, mas também maturidade como equipe.

Com o mapa de intenção de todo o time, além de ajudar na formação das equipes, agora temos a intenção declarada de todas as pessoas. Isto ajuda em movimentações futuras de equipes. Por exemplo quando precisarmos reforçar alguma frente.

Outra citação que gosto bastante é do Marty Cagan, que apesar de falar mais especificamente sobre Discovery, eu vejo encaixando em muitos contextos:

“If you’re just using your engineers to code,
you’re only getting about half their value.”
(CAGAN, 2017, Inspired)

A distribuição de gerentes de engenharia seguiu um modelo semelhante, porém mais enxuto, onde discutimos e fechamos uma versão em algumas conversas com toda liderança de engenharia à mesa e a lista de equipe + propósito na tela. O modelo adotado precisou ser colocado à prova e nada melhor do que experimentar entre o time de liderança.

Estamos rodando esta formação (org.) por dois quarters. Por mais que ainda seja subjetivo, já percebemos mais engajamento das equipes em olhar para o negócio e para os resultados de nossas iniciativas com ainda mais cabeça de dono, que é um pilar importante da cultura do Grupo ZAP. Nosso plano agora é continuar aprendendo e fazendo as adaptações e evoluções necessárias para o que vier de desafio no futuro. Nossa torcida é para que tenhamos muitos desafios como esse pela frente.

[1] CAGAN, Marty. Inspired. 2 Edition. Wiley, December 4, 2017.
[2] BOCK, Laszlo. Work Rules. 1 Edition. Twelve, April 7, 2015.
[3] MAMOLI, Sandy; MOLE, David. Creating Great Teams. 1 Edition. Pragmatic Bookshelf, November 11, 2015.
[4] CAGAN, Marty. Spotify vs. Fitbit. Apr 28, 2020. <https://svpg.com/spotify-vs-fitbit/>
[5] LEE, Jeremiah. Failed #SquadGoals. April 19, 2020. <https://www.jeremiahlee.com/posts/failed-squad-goals/>

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