O profissional “sênior”

Gabriel Hora
Tech@Grupo ZAP
Published in
4 min readFeb 7, 2017

Antes de entrarmos em detalhes sobre o tema do artigo, preciso lhes contar um pouco sobre esse rapaz ai ao lado, o irônico Sócrates, e seus diálogos.

Sócrates nasceu lá pelo século VI a.C. na Grécia em algum lugar pertinho de Atenas. É considerado um dos pais da filosofia, dedicou sua vida ao engrandecimento de espírito (busca de conhecimento e sabedoria), influenciou pessoas, acumulou discípulos. Dois desses discípulos, Platão e Xenofonte, foram lembrados pelo resto da história, e foram responsáveis por nos contar quase tudo o que sabemos sobre Sócrates, pois este nunca escreveu sequer uma palavra (pelo menos não que tenha sobrevivido ao passar do tempo).

É através dos diálogos escritos por Platão e Xenofonte (e outros) que conhecemos os “ensinamentos” de Sócrates. Escrevo ensinamentos entre aspas por que ai reside toda a ironia deste filósofo. Veja, Sócrates era muito sábio, o mais sábio de toda Atenas segundo o Oráculo de Delfos, porém ele mesmo julgava não possuir tal sabedoria (seu famoso paradoxo “só sei que nada sei”).

Então como uma pessoa que sabia tão pouco, angariava tantos discípulos e engrandecia tanta gente?

Através da conversa, do debate. Sócrates nunca sabia nada, ou se fazia de desentendido (daí sua ironia), mas era um curioso e habilidoso interrogador e eram através desses questionamentos, sempre buscando refutar as ideias apresentadas, que fazia com que seus interlocutores chegassem às suas próprias conclusões.

Elenchus é o nome utilizado para esse método Socrático. E é aqui a minha deixa para falar um pouquinho do tema original deste artigo, o que é ser um profissional “sênior”?

É uma tarefa difícil diferenciar em conhecimento técnico os profissionais da nossa área de tecnologia. O que um profissional júnior sabe? Um pleno? Uma pessoa pode ser um especialista em determinada tecnologia, mas por algum acaso essa tecnologia não é usada onde ela trabalha, como a classificamos? Talvez usamos anos de experiência então? Mas quem trabalha na área sabe muito bem que isso não significa muita coisa, pode-se aprender em um ano em alguma empresa o que não se aprende em cinco em outras. E mais complicado ainda, quando deixo de ser um profissional pleno e passo a ser um sênior?

E se o caminho para essa evolução não tivesse relação, necessariamente, com seu conhecimento técnico? O que poderíamos aprender com Sócrates e seu método? Penso que quanto mais sabemos, mais experiência adquirimos, menos importante é esse saber técnico. Deixe-me tentar explicar melhor.

O papel de um profissional dentro de uma empresa muda com o passar dos anos de experiência que ele acumula. Um sênior deve ser, acima de qualquer coisa, um agente do debate, um incitador, deve promover constantemente a conversa e a troca de conhecimento entre todos da equipe. Seu papel de executor deixa de ter tanta importância (porém, certamente, não deixa de existir) e ele passa a ser um guia, nunca ditando o caminho ou dizendo o que é certo ou errado, mas sim debatendo e questionando cada “verdade” apresentada.

O conhecimento técnico que adquirimos durante esses anos é sim de extrema importância, e é ele que vai ajudar a guiar, através dos questionamentos, a equipe pelo caminho mais seguro. Deve-se encorajar a busca do conhecimento nas outras pessoas, e ajudá-las quando for preciso. Assim todos evoluem, todos aprendem.

É claro que essa é uma filosofia pessoal. Existem diversas áreas especialistas onde o conhecimento técnico é de fato mais importante, mas acredito que a passagem de experiência deveria sempre ser valorizada e instigada. Aqui no VivaReal, por exemplo, fora toda bagagem técnica, temos o seguinte pré-requisito definido para engenheiros mais experientes:

[…] Compartilhar sua experiência é parte do dia a dia, seja através de tech talks, blogs, treinamentos, workshops, etc. Está sempre preocupado e disponível para evoluir os engenheiros e a arquitetura do VivaReal.

Não estou suscitando o completo abandono de todo e qualquer estudo técnico, afinal foi essa vontade de aprender que os trouxe até este ponto de suas carreira, e ela deve continuar pra sempre. Digo que é preciso aprender a questionar constantemente, inclusive o nosso próprio conhecimento (“só sei que nada sei”), e entender que nunca vamos saber tudo. A experiência do grupo sempre será maior que a do indivíduo.

Assim o profissional sênior se torna aquele que dá menos importância ao conhecimento técnico em relação à evolução contínua da equipe e da empresa através do compartilhamento de experiências e do constante debate.

E você, o que pensa dessa abordagem? Essa atitude é fomentada pela empresa onde você trabalha? E como você compartilha seu conhecimento com os outros?

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