O que aprendi com minhas experiências em diferentes modelos de gestão

Thiago (Peter) Ferreira
Tech@Grupo ZAP
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4 min readFeb 15, 2017

Passei um terço da minha vida no mercado de trabalho e, apesar de não me achar tão experiente, tive a oportunidade de vivenciar realidades bastante distintas no que diz respeito a modelos de gestão. Trabalhei em empresas de grande porte pautadas em hierarquias super rígidas, mas também passei por microempresas com menos de 10 funcionários e startups de tecnologia de pequeno/médio porte.

Em cada experiência aprendi coisas valiosíssimas dos mais variados aspectos, mas neste post gostaria de destacar o modelo horizontal radical da VAGAS.com, que tanto me fez amadurecer.

Engraçado que apenas após sair da VAGAS.com e começar a trabalhar no VivaReal é que pensei em escrever a respeito desse modelo de gestão horizontal radical que possui muito em comum com a Holocracia (ou Halocracia, ambos corretos). O VivaReal possui também valores muito aderentes ao modelo holocrático e o desejo por escrever a respeito do modelo horizontal radical tem total relação com diversos benefícios que aprendi ao vivenciar o modelo e que agora me sinto na obrigação de disseminar.

Não sou nenhum especialista no assunto e corro o risco de falar uma ou outra besteira, mas como disse, estou escrevendo livremente aqui com base em minhas vivências. :)

Consenso X Consentimento

Num ambiente holocrático, não há um chefe/gestor responsável pela tomada de decisões. Além disso, não se trata de um ambiente democrático no qual ocorre uma votação e a maioria decide qual caminho será seguido. Neste ambiente a maioria discute até que se atinja o consenso.

É claro que na maior parte das ocasiões o consenso é utópico. Porém, é neste momento que se torna fundamental praticar a cultura do desapego, deixando egos de lado em busca do bem maior. Trata-se do exercício (nada simples) do consentimento, que consiste em aceitar seguir por um caminho que inicialmente não acreditávamos ser o ideal, mas que passamos a apoiar por não existirem quaisquer argumentos fortes contrários àquela idéia.

Entretanto, esta é a parte fácil do consentimento! A parte difícil surge quando a ideia é um total fracasso ou um total sucesso. Nosso diabinho interior tende a nos fazer verbalizar coisas como "Eu disse!", "Se tivéssemos seguido pelo meu caminho teria sido diferente!", ou em caso de sucesso podemos ser tentados a querer tomar os louros pela conquista. Neste momento precisamos deixar o ego de lado e compreender que o consentimento é uma palavra forte intrinsecamente atrelada a compromisso! Se consentimos com determinada ideia, então estamos juntos até o final.

Outro fator importante da dicotomia Consenso X Consentimento é a representatividade. Nem sempre conseguiremos envolver 100% dos interessados para determinada tomada de decisão. Nesses casos, novamente me lembro de um valor importante que trago da vivência que tive com o Mario Kaphan (um dos fundadores da VAGAS.com):

Quando a situação pede um número menor de participantes em sua resolução, o pressuposto do consenso permite que até uma única pessoa tome a ação necessária, sem deixar de lado um dos mantras da empresa (VAGAS.com), descrito abaixo;
Frase chave para a sobrevivência do profissional no ambiente horizontal: “Na VAGAS.com eu faço o que eu quero e todos têm tudo a ver com isso”.

Esta última frase é bastante rica e forte, e introduz o segundo tópico que gostaria de abordar e reforçar como aprendizado que tive neste modelo…

Senso de dono e empreendedorismo

Ao assinar um contrato de trabalho, assumimos como compromisso ceder horas do nosso dia e nossos conhecimentos e habilidades tendo como compensação nosso salário. Entretanto, muito além dessa simplificação, é importante termos como norteador o princípio de que todas as nossas ações (boas ou não) são em maior ou menor grau refletidas em todos ao nosso redor (geralmente nos times nos quais atuamos).

Ou seja, está totalmente em nossas mãos exercer uma autogestão eficaz, que envolve olharmos para nós mesmos como se fôssemos donos da empresa na qual trabalhamos. Fazer este exercício não é tão fácil, mas traz diversos benefícios como a noção de que a sua evolução e a evolução dos seus pares está totalmente nas suas mãos. Afinal, você é dono da sua carreira e a mesma é constituída pelo somatório de todas as relações com outras pessoas que você já teve ao longo das suas experiências. É preciso enxergar sua carreira como o seu próprio negócio, ser empreendedor da sua trajetória!

Sob esta ótica, o seu tempo dentro da empresa é uma constante negociação de você como empresa oferecendo serviços para outra empresa (eventualmente maior do que a sua). Portanto, é fundamental exercer sua liberdade (como empresa e dono do negócio) com total responsabilidade. Isto vai desde a responsabilidade por grandes projetos e iniciativas, mas também por outras más práticas (muitas vezes negligenciadas) como reuniões inefetivas ou totalmente desnecessárias. Já pensou (como dono da empresa) o quanto de dinheiro é gasto ocupando à toa o tempo de profissionais super competentes?

Concluindo, gostaria de reforçar que este post foi escrito com base nas minhas vivências pessoais em diferentes modelos de cultura, com ênfase em diferenciais muito ricos que aprendi num modelo horizontal radical semelhante a uma Holocracia. É válido observar que, o modelo funciona muito bem na VAGAS.com e é claro que o mesmo não é necessariamente aplicável a qualquer empresa, dada a necessidade de uma cultura/valores propícios, assim como a vivência de práticas que tornem o modelo sustentável. O que quis trazer são aspectos positivos que aprendi nestas vivências e como elas podem e devem ser consideradas por profissionais que queiram fazer a diferença em suas empresas e, principalmente, em suas carreiras.

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Thiago (Peter) Ferreira
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Engineering Manager | Agile Specialist | Digital Transformation | Agility Consultancy