Genoa 0 v 1 Roma

Hudson Martins
#impressões
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7 min readJan 9, 2017

Izzo 35' (gol contra)

Bruno Peres, Fazio, Juan Jesus e Perotti comemoram o gol da vitória.

Fiorentina, Milan, Napoli e mesmo a Juventus não saíram vitoriosos do Luigi Ferraris, em Genoa, nesta temporada. Na verdade, a equipe de Ivan Juric havia sofrido apenas uma derrota como mandante, um jogo maluco contra o Palermo. Mesmo assim, a vice-líder Roma conseguiu uma vitória importante: 1 x 0, gol contra de Izzo. A tônica do jogo esteve na profunda distinção no momento defensivo das duas equipes, o que permitiu vantagens numéricas e posicionais aos visitantes, além de controle na organização ofensiva.

Escalações

O Genoa foi a campo num 3-4-1-2, com Mattia Perín (rapidamente substituído por Eugenio Lamanna, após lesão); Armando Izzo, Nicolas Burdisso e Ezequiel Muñoz na primeira linha; Darko Lazovic e Diego Laxalt nas alas; Isaac Cofie, Luca Rigoni e Nikola Ninkovic como meias interiores; Lucas Ocampos e Giovanni Simeone avançados.

A Roma, por sua vez, começou em uma espécie de 3-4-2-1, com Wojciech Szczesny; Antonio Rudiger, Federico Fazio e Juan Jesus na primeira linha; os brasileiros Bruno Peres e Emerson nas alas, com Daniele de Rossi e Kevin Strootman por dentro; Radja Nainggolan e Diego Perotti uma linha acima e Edin Dzeko como centroavante.

Repare nos meio-campistas: em ambos os times, eles estão escalonados, mas por razões diferentes. Enquanto o Genoa o faz de modo reativo (Cofie recua por Nainggolan, Rigoni observa Strootman), a Roma deixa seus meias em linhas diferentes para maior fluidez na organização ofensiva pelo corredor central.

Primeiro Tempo

Desde o início, era nítido o interesse das duas equipes em bloquear a construção ofensiva adversária desde a origem, tendo como resultado diversos pressings. A diferença essencial estava na natureza da organização defensiva de cada equipe: enquanto o Genoa se defende através de referências individuais, a Roma o faz zonalmente. Este fato, associado à elogiável coordenação ofensiva da equipe de Spalletti, seria primordial para que os visitantes controlassem a maior parte do jogo.

Na primeira metade do primeiro tempo, os dois lados recorreram à diversas ligações diretas, substancialmente em razão dos pressings citados acima. Embora o Genoa tenha, pelo seu modelo de jogo, alguma familiaridade com os ataques diretos, a Roma se saiu beneficiada, por dois motivos básicos: primeiro, porque Dzeko foi mais eficaz como pivô do que Simeone (o que também é consequência de razões táticas: a compactação ofensiva da Roma foi melhor, o que facilitou a retenção da posse, assim como as perseguições individuais dos mandantes deixavam espaços generosos); segundo, porque o ataque genovês sofria a desleal concorrência de Fazio, sobretudo nas bolas aéreas - provavelmente, foi ele o melhor jogador em campo.

Assim, as melhores oportunidades para o Genoa se davam em transições ofensivas, especialmente pelo corredor esquerdo, onde Ocampos aproveitava os espaços às costas de Bruno Peres - geralmente avançado, assim como Emerson - para criar situações de 1 v 1 contra Rudiger. No primeiro tempo, há pelo menos três situações deste tipo, uma delas logo no minuto inicial. As demais possibilidades de transição geralmente esbarravam nas ações equivocadas do ganês Cofie - nitidamente desconfortável com a bola, com baixo volume de acerto de passes (apenas 70,8%, segundo o whoscored). Em ataques posicionais, o Genoa carecia de apoios e mobilidade, especialmente pelo corredor central, a despeito dos esforços de Ninkovic, o que dificultava a chegada segura ao último terço do campo. Além disso, os mandantes corriam severos riscos em razão da elevada profundidade dos alas na primeira fase de construção, eventualmente incorporados pelas ultrapassagens do zagueiro Izzo, já na segunda fase. Burdisso e Muñoz nem sempre coordenam o bloco ofensivo.

Por outro lado, a Roma controlava o jogo através de duas formas: primeiro, pelo trabalho admirável de Dzeko como pivô, não apenas do ponto de vista qualitativo, mas também posicional: seus deslocamentos sempre traziam um marcador, geralmente Muñoz, o que resultava em grandes espaços para Nainggolan - há uma chance de gol, aos 14 minutos, que exemplifica isto bem. Aliás, a inteligência posicional do belga merece elogios: percebendo a marcação individual que sofria, Nainggolan carregou Cofie por diversas zonas do campo, gerando vários desequilíbrios ao sistema defensivo do Genoa. Foi, provavelmente, o duelo mais desigual do jogo.

A partir da outra metade do primeiro tempo, a Roma explorou a segunda forma de controle: a superioridade numérica na primeira fase de construção. Basicamente, havia uma situação de 3 v 2, sendo que o posicionamento de Ocampos (à esquerda), direcionava tanto o ataque quanto a defesa dos anfitriões. Como Simeone geralmente ficava mais próximo de Fazio, e tendo em vista as perseguições individuais do Genoa, era comum que Juan Jesus tivesse vários metros disponíveis para subir no terreno, o que forçava desencaixes defensivos e, à medida em que o brasileiro atraía marcadores, gerava uma espécie de efeito dominó, através do qual a Roma comumente encontrava um homem livre no meio-campo. A liberdade dada a Juan - curiosamente ignorada até a entrada de Mauricio Pinilla, já no terço final do jogo - foi um fator preponderante para a conservação da posse romanista, progressão ao alvo, além de maior e melhor ocupação do lado esquerdo do campo.

A Roma faria o primeiro e único gol aos 35 minutos, em jogada que começa após transição qualificada de Strootman e Nainggolan (que, em um toque, elimina Cofie). Na sequência, Bruno Peres - ótima leitura, ocupando o espaço de Nainggolan - aproveita o rebote de um cruzamento e conta com enorme infelicidade de Izzo para abrir o placar. O gol potencializou o conforto conquistado pela Roma no primeiro tempo, conforto este inabalado até o intervalo.

Os dois mapas de calor (à direita, o da Roma): repare como a equipe de Spalletti utilizou fortemente o corredor esquerdo, geralmente através de combinações entre Perotti e Emerson. A gênese esteve na liberdade dada à Juan Jesus. (Fonte: whoscored)

Segundo Tempo

Ao contrário do esperado, Juric não promoveu mudanças importantes na sua equipe após o intervalo. Na verdade, estruturalmente o Genoa era o mesmo, o que significa superioridade numérica e posicional (e, muitas vezes, qualitativa) da Roma, Nainggolan passeando com Cofie pelos corredores central e direito, e Juan Jesus com grande espaço na primeira fase ofensiva.

Apesar do cartão amarelo de De Rossi, recebido logo no início do segundo tempo, Ninkovic continuava com dificuldades para explorar o corredor central, sobretudo pelo número limitado de apoios, como citado acima. Além disso, o sérvio parecia extenuado, razão pela qual foi ele o primeiro substituído, para a entrada de Edenílson, ex-Corinthians. A priori, o brasileiro ocuparia o mesmo espaço, como um dez, mas acabou encontrando outra solução.

Como Cofie era condicionado por Nainggolan, e Rigoni era um médio pela direita, havia um espaço pela esquerda, na mesma linha de Rigoni: foi por ali que Edenílson encontrou-se como um bom apoio entre os corredores central e esquerdo, na medida em que estava geralmente às costas de Strootman, mas em uma distância suficientemente segura de De Rossi. Assim, era possível organizar combinações interessantes com Ocampos e Laxalt pelo flanco ofensivo mais forte do Genoa, embora alguns desses ataques terminassem em cruzamentos quaisquer. Esta, aliás, seria uma tendência até o fim do jogo: cruzamentos para a área na mesma medida em que Fazio os afastava.

Edenílson recebe passe de Laxalt entre quatro marcadores: aqui, observe tanto o posicionamento do brasileiro - mais à esquerda do que Ninkovic -, quanto as superioridades criadas pela Roma. (Imagem: reprodução beIN Sports)

Aos trinta e dois minutos, duas alterações que modificaram sutilmente a organização das equipes: enquanto a Roma queimava a primeira substituição (Perotti por El Shaarawy, sem alterações estruturais), o Genoa fazia a última: Lazovic por Pinilla - aquele mesmo. Assim, Edenílson foi deslocado para a ala direita (setor difícil, muito bem ocupado coletivamente pela Roma, e com ótimo jogo de Emerson), e Pinilla ficou centralizado em um trio de ataque com Ocampos e Simeone. O chileno entrou participativo, e recuava bons metros para surgir como opção de passe para os meias - o que causou uma falta perigosa logo no seu primeiro lance. Nos dez minutos finais, a Roma definitivamente baixou as linhas, jogando mais próxima de um 5–4–1. Mesmo com as entradas dos ótimos Konstantinos Manolas e Leandro Paredes (nas vagas de Bruno Peres e Nainggolan - Rudiger virou lateral), a organização defensiva manteve-se intacta e, apesar de uma defesa assustadora de Szczesny já nos acréscimos, foi suficiente para garantir o resultado com alguma segurança.

Conclusão

Para além da ótima execução romanista nos momentos do jogo, a vitória em Genoa parece ter sua origem no campo das ideias: os encaixes de Juric submeteram-se à ocupação espacial de Spalletti. A natureza reativa da marcação dos anfitriões traz, por arrastamento, problemas importantes (aliada aos sistemas táticos das duas equipes, me parecem inevitáveis as situações de superioridade numérica para a Roma), mas pequenos ajustes poderiam ser úteis, a saber: a retirada de um dos zagueiros por outro meio-campista (especialmente próximo de Strootman e Nainggolan), a entrada do promissor Leonardo Morosini na vaga de Cofie (qualificando a transição) ou, principalmente, um ajuste estrutural - leia-se: 3-4-3 - que evitasse a liberdade dada à Juan, determinante para a construção ofensiva romanista.

Notas

  • é admirável a evolução de Bruno Peres desde o Guarani até a Roma;
  • Nainggolan é fortíssimo concorrente ao prêmio de melhor box-to-box do mundo. Grande jogador;
  • Fazio e Szczesny parecem em ótimo momento, e encontram um bom caminho para carreiras que pareciam promissoras no Sevilla e no Arsenal, respectivamente;
  • Laxalt fez um jogo discreto, mas vê-lo como ala é interessante; habituado aos requisitos defensivos da função, pode ser uma ótima opção não apenas para o clube, como para a seleção uruguaia;
  • Miguel Veloso, se não estivesse lesionado, poderia ter dado enorme contribuição ao Genoa, especialmente nas transições ofensivas; Leonardo Pavoletti, recém-saído para o Napoli, também seria importante;
  • O Genoa, veja só, marca individualmente com bola rolando mas, nas bolas paradas, marca por zona;
  • Paredes é um ótimo passador; Francesco Totti ficou no banco, Alessandro Florenzi está lesionado, Manolas ainda não está em perfeitas condições físicas, Mohamed Salah está na Copa Africana de Nações. Alternativas não faltam à Roma, que segue forte tanto na liga doméstica quanto na Europa League;

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Hudson Martins
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Filosofia e Futebol. Ciências do Esporte, Unicamp.