Cientistas Provam que a Verdade não tem Chance Contra a Ficção no Twitter

Pesquisadores descobriram que notícias falsas alcançam até 20 vezes mais pessoas — e usuários reais tem mais chances de as compartilharem do que bots.

Caio de Castro
Tecs USP
3 min readMay 22, 2018

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[Este artigo foi originalmente publicado em 8 de março de 2018 no The Guardian por Alex Hern, e traduzido pela equipe do Tecs em 19 de maio de 2018.]

‘Falsidades difundiram-se significantemente mais longe, mais rápido e de maneira mais abrangente que a verdade em todas as categorias de informação’, dizem os cientistas. Fotografia :Kacper Pempel/Reuters

“Mentiras voam, e a verdade vem mancando atrás”, escreveu Jonathan Swift em 1710. Agora um grupo de cientistas diz ter encontrado evidências de que Swift estava certo — pelo menos no que diz respeito ao Twitter.

No artigo, publicado na Science, três pesquisadores do MIT descrevem uma análise feita sobre uma vasta quantidade de dados do Twitter: mais de 125.000 histórias, tuitadas mais de 4.5 milhões de vezes no total, todas categorizadas como verdadeiras ou falsas por pelo menos uma de seis organizações independentes de checagem de fatos.

Os achados são uma leitura entristecedora. “Falsidades difundiram-se significantemente mais longe, mais rápido e de maneira mais abrangente que a verdade em todas as categorias de informação”, eles escrevem, “e os efeitos foram mais percebidos em notícias políticas do que em notícias sobre terrorismo, desastres naturais, ciência, lendas urbanas ou informações financeiras.”

O quão mais longe? “Enquanto a verdade raramente se difundia para mais de 1.000 pessoas, o 1% das avalanches de notícias falsas mais difundidas, rotineiramente atingiam entre 1.000 e 100.000 pessoas”, eles escrevem. Em outras palavras, fatos reais não são retuitados, enquanto afirmações boas-demais-para-ser-verdade são ouro viral.

O quão mais rápido? “A verdade levou até seis vezes mais tempo do que as falsidades para atingir 1.500 pessoas, e 20 vezes mais para atingir uma profundidade de cascata de 10” — o que significa que ela foi retuitada 10 vezes sequencialmente (por exemplo, B retuíta um tuíte de A, então C retuíta o mesmo tuíte, partindo do tuíte de B, e assim continua até atingir J).

Os pesquisadores especulam que as notícias falsas se espalham tão rápido porque elas satisfazem nosso desejo por novidades. Notícias reais, restringidas pelo requisito de que ela tem que ter realmente acontecido, são bem similares, mas notícias falsas podem surpreender e entreter sem limites. Os cientistas postulam que “quando a informação é inédita, não é apenas surpreendente, mas mais valiosa, tanto de uma perspectiva de teoria da informação [já que fornece a maior quantidade de informação para tomada de decisões] e de uma perspectiva social [já que confere um status social a “aquele que sabe” ou que tem acesso a informações “internas”].

Apesar do recente foco dado aos “bots” de Twitter, contas automatizadas parecem ter pouca influência na propagação de rumores falsos. Os pesquisadores inicialmente fizeram as análises removendo todos os bots que eles conseguiram encontrar, mas quando os colocaram de volta, as conclusões gerais se mantiveram as mesmas. A única mudança significativa é que os bots aceleraram a propagação de todas as notícias, verdadeiras ou não. “Isso sugere que as notícias falsas se propagam mais rápido e mais amplamente porque os humanos, não os robôs, são mais propensos a compartilhá-las”.

“Isso implica que políticas de contenção da desinformação devem se focar em intervenções comportamentais, como categorização e incentivos, e não exclusivamente em reprimir bots”.

Da mesma forma, notícias falsas não são propagadas por alguns poucos atores, cuja intenção é espalhar a desinformação. Ao invés disso, a distinção entre a distribuição de rumores reais e falsos se dá inteiramente pelas pessoas normais no meio da cadeia: aquelas que decidem apertar, ou não, o retuíte, para cada tuíte que eles veem.

Focar-se apenas em organizações confiáveis de notícias pode ajudar os usuários a evitar compartilhar notícias falsas — se houvesse qualquer consenso sobre quais são elas. Na verdade, os pesquisadores contam, “não há nenhuma correlação entre o grau de ‘confiança’ que o público americano tem numa fonte, e a porcentagem de histórias verificadas que são reais”(como medido pelo Polifact). A Fox News tem a confiança de três vezes mais americanos que a Bloomberg, enquanto todas as grandes redes de televisão tem mais confiança, e são menos fidedignas, que o Wall Street Journal e o The New York Times.

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