O Motivo da Perda de Confiança na Mídia Tradicional

Caio de Castro
Tecs USP
Published in
4 min readMay 25, 2018

[Este artigo foi originalmente publicado em 15 de setembro de 2016 na Fortune por Mathew Ingram, e traduzido pela equipe do Tecs em 22 de maio de 2018.]

Fundador do Facebook Mark Zuckerberg sorri na sede da empresa em Palo Alto, Califórnia.

De acordo com uma nova pesquisa feita pela Gallup, a confiança na grande mídia nos Estados Unidos está em seu ponto mais baixo desde que a organização começou a fazer essa pergunta, em 1972. Para se ter algum contexto, Richard Nixon era presidente em 1972 e os Estados Unidos estavam bombardeando o Vietnã.

Porque a confiança na mídia estaria tão baixa? Existem várias razões, mas uma das mais óbvias é que o panorama midiático atual não se parece nada com o que os consumidores americanos tomaram como garantido em 1972, ou 1982, ou 1992, ou até 2002.

Em muitos casos, a ascensão da internet e a teia social melhoraram muito as coisas, em particular no que concerne se manter informado sobre o mundo. Entretanto, em outros casos — como ocorre com tantas das coisas que são tocadas pela internet — as coisas se tornaram muito, muito piores. E nossa relação de confiança com a mídia (se é que se pode chamá-la assim), sofreu a maior parte dos danos.

Ao invés de um punhado de jornais, canais de TV e jornalistas confiáveis, nós temos o equivalente a uma Torre de Babel: centenas de milhares, senão milhões de fontes de notícias, muitas das quais estão apenas replicando qualquer coisa que elas esperam que faça os leitores ou usuários clicarem.

A “economia do clique” tem levado até veículos de mídia tradicionais a focarem em sucessos rápidos e histórias “virais”, mesmo se tais histórias contiverem pouca verdade. Mesmo se essas histórias forem corrigidas posteriormente, apenas uma pequena fração das pessoas verá ou compartilhará a correção. Essa é a natureza humana.

Conforme a indústria da mídia se tornou cada vez mais desesperada por fontes de renda, essa conduta se espalhou. O presidente da CBS, Les Moonves, disse recentemente que a cobertura excessiva do candidato Republicano Donald Trump “pode não ser boa para os Estados Unidos, mas é muito boa para a CBS.”

É de se surpreender que as pessoas iriam perder a confiança em uma organização com esse tipo de motivação?

“Comece aqui: CEO da CBS, Les Moonves, ‘Pode não ser bom para o país, mas é muito bom para a CBS.” Original

Ao mesmo tempo, esse fenômeno está sendo alimentado pelo crescimento de um novo ecossistema para a distribuição de notícias, que tem em seu centro, como uma aranha em sua teia, o Facebook.

A gigante rede social tem travado uma batalha bem pública com histórias de notícias falsas, que continuam entupindo seus “Em Alta”, assim como a linha do tempo principal. A empresa utilizava editores humanos para remover esse tipo de coisa, mas se livrou da maioria após uma controvérsia sobre acusações de que o processo de remoção tinha algum viés político.

A história maior no entanto, é que o Facebook desempenha um papel maior na indústria de notícias do que qualquer entidade única desempenhou na história do consumo moderno de informações. Mais de 1.5 bilhão de pessoas utiliza a rede, e uma grande parte delas consegue suas notícias dela.

O Facebook nega repetidamente que é um veículo de notícias, ou que tem que se comportar como um, ou que tem qualquer responsabilidade de informar as pessoas sobre o mundo ao seu redor de qualquer forma minimamente jornalística.

De seu ponto de vista, engajamento é a métrica número um, não precisão.

Na realidade, as mudanças no ambiente midiático vão bem além do Facebook. Para muitos jovens, uma pessoa que eles seguem no Snapchat, no Instagram, no Youtube ou no Twitter tem a mesma chance de ser uma fonte confiável de notícias de uma grande instituição de mídia. E quanto mais eles confiarem nessas fontes, menos elas irão confiar na mídia tradicional.

“Confiança na mídia de massa tem baixa histórica, fontes independentes tendo cada vez mais alcance. Mega mudança de percepção crescendo”. Original

Como Emily Bell, do Columbia Town Center, levantou, a noção de confiança no contexto do meio jornalístico é complicada. Nós confiamos nas fontes que nos dizem a verdade, ou naquelas que nos dizem o que queremos ouvir ou acreditar?

O fato de que atualmente temos aceso a milhares de fontes é algo imensamente positivo para o jornalismo, em linhas gerais, porque agora podemos escutar o que pessoas diretamente envolvidas nas notícias estão falando, aumentando a probabilidade de que a verdade irá emergir.

Mas a falta de curadores centralizados — ou a terceirização da função de curadora da grande mídia — também significa que não existe consenso sobre quem está dizendo a verdade, e essa é uma tendência que não da sinais de se reverter no futuro.

--

--