A arquitetura do design comportamental por trás dos emojis e desdobramentos da dataficação
Pode-se dizer que a dataficação da vida é um fenômeno contemporâneo, onde os dados comportamentais de usuários de interfaces digitais são coletados de maneira massiva de acordo com cada ação realizada, a dataficação está conectada a diversas áreas que circundam o universo digital e tecnológico, e embora seja um assunto atual, vem gerando sérios questionamentos éticos a alguns anos, como no artigo da dra. Fernanda Bruno, publicado em 2008, onde ela aborda o monitoramento, coleta de dados e violação de segurança, alertando a necessidade de atenção extra a questão e citando casos já existentes em 2007 dentro da plataforma do Facebook.
Para exemplificar esse processo de dataficação da vida, pode-se observar a arquitetura por trás dos emojis, que assim como as demais plataformas de coleta de dados foi projetado para que sua real função passasse despercebida. Os sistemas de coleta seguem um modelo de design comportamental também conhecido como Behavior ou Behavioural Design, que utiliza o conhecimento da ciência comportamental para influenciar o comportamento humano por meio de persuasão. Partindo da coleta dos dados de ações realizadas, inteligências artificiais (IAs) fazem análises para extrair os padrões comportamentais e desses padrões extrair dados psicológicos e emocionais, entretanto, para chegar a um resultado mais preciso dessas análises as plataformas usam arquiteturas projetadas para facilitar a leitura realizada por essas IAs, como é o caso dos emojis, que funcionam como um atalho de leitura emocional, proporcionando uma interpretação imediata.
Bruno (2021), fala sobre a mediação técnica em aplicativos de autocuidado psicológico, onde é discutido o resultado da análise de vários aplicativos móveis de autocuidado psicológico utilizados no Brasil. onde na primeira camada é mostrada a parte visível aos usuários, que envolve todo o discurso de promessas, e a camada que é camuflada, que consiste nas formas automatizadas de coleta e compartilhamento de dados comportamentais, emocionais e psicológicos desses usuários. Que em posse das corretoras de dados ou grandes corporações de marketing digital, que torna possível através do mapeamento das análises indicar por exemplo quando pessoas ansiosas, ou com depressão estão próximas de entrar em crise, que é o momento que costuma ser de maior compulsão, e ocorre o que é chamado no artigo de Exploração de vulnerabilidade, onde começam a injetar ainda mais anúncios para essas pessoas com a intenção de ter seus produtos e serviços vendidos.
Zuboff chama esse sistema de exploração de dados do usuário como um “Excedente Comportamental”, onde os usuários além de ter seu direito à privacidade e segurança violados, são bombardeados com propagandas que ajudou a segmentar fornecendo gratuitamente informações colaterais ao usar o Google, por exemplo. E com o termo, Capitalismo de Vigilância, ela engloba todo esse contexto e o define como “Uma nova ordem econômica que reivindica a experiência humana como matéria-prima gratuita para práticas comerciais dissimuladas de extração, previsão e vendas. […] Uma ameaça tão significativa para a natureza humana no século XXI quanto foi o capitalismo industrial para o mundo natural nos séculos XIX e XX.” — ZUBOFF, Shoshana (2021).
Saiba mais em:
BRUNO, Fernanda et al. “Tudo por conta própria”: autonomia individual e mediação técnica em aplicativos de autocuidado psicológico. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 33–54, 2021. <https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/47084>
A era do capitalismo de vigilância, por Shoshana Zuboff. Medium.<https://medium.com/contagious-brasil/a-era-do-capitalismo-de-vigil%C3%A2ncia-por-shoshana-zuboff-fee5ac25b774>
ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: A luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Editora Intrínseca, Nova York, 1ed digital, 2021.
