Assistentes virtuais e feminismo

Thaís Lago
TED/UNEB
Published in
2 min readMay 17, 2021

A presença de assistentes virtuais na rotina das pessoas tem se tornado cada vez mais comum, seja para obter uma informação simples como informar o clima, quanto para auxiliar o usuário com um problema pessoal específico. Segundo a empresa de ciência e dados Ilumeo, ocorreu um aumento de 47% no uso de assistentes virtuais, na quarentena.

A questão é que, em sua maior parte, esses projetos são sempre desenvolvidos e representados como uma figura feminina. Empresas como a Amazon, Apple, Google e Microsoft possuem assistentes virtuais configuradas com vozes femininas, além de outras empresas adotando tal programação, que tem recebido cada vez mais popularidade. Contudo, ultimamente na internet, surgiu certo questionamento: Por que assistentes virtuais são predominantemente associadas ao sexo feminino?

Em 2005, o professor de comunicação da Universidade de Stanford, Clifford Nass, escreveu o livro “Wired for Speech: How voice Activates and Advances the Human-Computer Relationship” [Conectado por discurso: como a voz ativa e avança a relação humano-computador, em tradução livre] para explicar melhor essa questão. Após 10 anos de pesquisa, Clifford percebeu que as pessoas assimilam características humanas às interfaces de voz.

De acordo com a pesquisa, as pessoas tem preferência à voz masculina quando precisam de ajuda com alguma questão mais séria, como computadores e demais coisas voltadas ao cenário intelectual, mas quando se trata de conselhos para problemas pessoais ou ajuda para realizar alguma tarefa de casa, as pessoas optam por ouvir uma voz feminina.

Logo, entende-se que a voz feminina é atribuída à sentimentos de acolhimento, comportamento maternal, dócil e prestativo, enquanto a masculina, é associada ao poder, autoridade e competência.

A problemática dessa padronização na criação, é que essa personificação feminina, por mais que seja considerada “atraente”, reforça estereótipos, que aliás, já são muito comuns em nossa sociedade, quais as mulheres são colocadas em posição de subserviência, que cabe somente a elas cuidar, receber ordens, e atuam melhor como secretárias, enquanto homens são considerados mais eficientes em mandar, ensinar e se encontram em predominância no cargo de chefe.

“A mulher é reconhecida como cuidadora oficial e dela se espera sempre uma mensagem acolhedora e dócil. Quando a mulher é firme, direta ou mais incisiva, recebe respostas como ‘está de TPM?’, ‘chefa brava’ ou ‘mamãe maluca”, diz Daniela Graicar, criadora do movimento Aladas pelo empreendedorismo feminino e diretora do selo WOB (Women on Board) que reconhece empresas com duas ou mais mulheres em conselhos.

Existem assistentes virtuais masculinos, desenvolvidos para áreas científicas (reforçando o pensamento de que homens são os mais aptos para questões intelectuais). Em alguns programas, é possível modificar o gênero de tal assistente para que a experiência seja mais confortável para o usuário, mas essas configurações ficam “camufladas” nas interfaces.

As pessoas associam gênero às máquinas, consequentemente, assistentes virtuais são vítimas de xingamentos e assédio por diversos usuários. Recentemente, houve uma atualização realizada pelo Banco Bradesco, em sua assistente virtual “Bia”, que reagia de forma passiva e conivente à comentários inapropriados, e passou a reconhecer os mesmos como negativos e até mesmo criminosos. Pequenos progressos que começam a fazer a diferença.

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