China PROÍBE transações com CRIPTOMOEDAS: Entenda o que aconteceu.

Cláudia Ikeda
TED/UNEB
Published in
4 min readOct 18, 2021
Imagem por Portal Tecmundo

Na última sexta-feira de Setembro (24/09/21), o Banco Popular da China, banco central do país, anunciou que todas as operações com criptomoedas serão consideradas ilícitas, incluindo os serviços prestados por bolsas fora do país. O regime chinês acusa esses instrumentos de desestabilizarem o sistema financeiro e de serem utilizados em práticas de lavagem de dinheiro e outros crimes. Os indivíduos participantes dessas atividades estarão sujeitos a processos legais, caso descobertos.

Essa não foi a primeira ofensiva da China contra as criptomoedas. Em abril de 2021, o governo chinês proibiu a mineração de criptomoedas, com a justificativa de que a atividade consumia energia demais e agravava o crônico problema da poluição no país. Na época, segundo a revista “ISTO É Dinheiro”, a China representava 47% da capacidade computacional mundial dedicada à mineração, um indicador conhecido como “hash rate”. A decisão provocou uma escassez de bitcoins por algumas semanas, enquanto a maioria dos grandes mineradores transferia suas operações para outros lugares. Posto isto, para garantir que nenhum minerador vai atuar clandestinamente, as autoridades provinciais e municipais estão obrigadas a reportar consumos anormais de energia.

Ainda de acordo com a revista “ISTO É Dinheiro”, pode-se dizer que essas intervenções são passos na direção de banir as criptomoedas da economia chinesa, abrindo espaço para o famigerado yuan digital, uma versão virtual da moeda oficial do país, o yuan, para transações sem dinheiro vivo, que possam ser controladas e rastreadas.

Moeda yuan, imagem por Portal Ideias Radicais

Esta é a grande aposta de Pequim para internacionalizar o mercado financeiro chinês sem abrir mão dos rígidos controles sobre essa atividade. Quem conhece o assunto avalia que estratégia de Pequim será lançar uma criptomoeda ligada ao yuan que tenha a chancela das autoridades monetárias, introduzi-la aos poucos na economia chinesa e, em seguida, disseminar seu uso por empresas de outros países, que estejam interessadas em fazer negócio com a segunda maior economia do mundo sem ter de recorrer ao dólar. “Será um dos maiores passos para transformar o yuan em uma nova moeda de referência, como o dólar ou o euro”, disse à Reuters o sócio da divisão chinesa da PwC dedicado a criptomoedas, Henry Chang.

Entretanto, segundo o portal Olhar Digital, a repressão dos criptoativos na China não ocorreu apenas por conta dos impactos negativos da mineração no meio ambiente ou pelo fato dos ativos estarem comumente ligados a transações ilícitas. Outro fator mais relevante é: o governo chinês provavelmente reconhece os riscos de um setor imobiliário gigantesco prestes a “explodir” (a crise da Evergrande, um grupo de construção civil chinês que está chacoalhando o mercado com a possibilidade de calote de uma dívida de US$ 300 bilhões), e está tentando limitar as consequências quando o “estouro da bolha” vier, restringindo cada vez mais o setor de criptomoedas no país.

Prédio da incorporadora Evergrande no centro de Hong Kong, imagem por G1/ Globo

Afinal, mesmo o governo chinês controlando o fluxo de capital e preferindo que os investidores mantenham o dinheiro circulando na economia do país, quando o assunto são criptomoedas, fica mais difícil controlar essa saída devido à natureza anônima e à facilidade com que os ativos digitais podem ser convertidos em outras moedas, possibilitando que os investidores possam mover o seu dinheiro para fora do país caso, por exemplo, os problemas da Evergrande reflitam na economia chinesa.

Posto tudo isso, para as criptomoedas e as pessoas que nelas investem, a China será cada vez mais uma área proibida.

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