“Criptodólar”?! Entenda o que são as CBDCs.

Cláudia Ikeda
TED/UNEB
Published in
3 min readOct 29, 2021
Jerome Hayden “Jay” Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA, imagem por portal “Mais Retorno”

O crescimento das criptomoedas somado a sua constante popularização, têm chamado atenção devido ao seu viés libertário, sendo dito por muitos como uma alternativa para escapar do poder dos bancos e governos. Muito disso ocorre em função da segurança oferecida através do blockchain. Sendo uma base de dados distribuída, que guarda o registro de transações compartilhado e (teoricamente) imutável. A confiança no sistema Blockchain muito se dá em função da publicidade em suas transações, validadas através de uma cadeia de computadores envolvidos. Por isso, ao contrário do que muitos pensam, as transações em criptomoedas podem ser rastreadas.

A rastreabilidade de uma criptomoeda, apesar de ser uma característica relativamente simples, se mostrou como um tema muito atrativo para grandes empresas interessadas em levantar dados em larga escala. Um caso recente e muito popular foi o projeto iniciado pelo Facebook, que em parceria com outras grandes empresas (Visa, Spotify, Mercado Pago, Mastercard, Ribbit Capital e etc) objetivou-se lançar uma criptomoeda chamada Diem.

Em seu site (diem.com/en-us) são apontadas diversas qualidades, como: estabilidade, independência governamental e segurança. No entanto, o que não é amplamente divulgado, mas que consta no contrato de criação, é que as empresas que contribuíram com o projeto terão acesso a todas as transações realizadas por sua base de usuários. Isso torna possível mapear o fluxo econômico de uma cidade, estado, país ou caso essa criptomoeda seja amplamente aceita, mundial. Na história nunca existiu uma entidade com tamanho poder, mas sabemos que, superficialmente, seria possível mudar (e quem sabe prever) o rumo da humanidade. Com dados específicos e detalhados de tendências de consumo, bem como a venda de informações em larga escala.

Claro que esse tipo de artifício não passou despercebido e diversos países já declararam que não vão permitir o uso do Diem em seu território. Mas o que será que aconteceria se alguma entidade pudesse simplesmente implantar o uso de uma criptomoeda sem ser submetida à regulamentação internacional ou resistência externa?

CBDCs

CBDC (Central Bank Digital Currency ou Moeda Digital Emitida por Banco Central) é, basicamente, uma versão virtual da moeda de um país. Atualmente grande parte das transações são realizadas na forma digital mas, mesmo nesses casos, a emissão é feita através de notas e moedas em espécie. Com a criação do CBDC seria possível emitir moedas em formato virtual, colocando-as em circulação sem que sejam impressas.

Diversos países já declararam interesse em produzir CBDC, até o momento nenhum deles se concretizou e tudo indica que a China seja pioneira, com um projeto sólido, onde 20 milhões de chineses já possuem carteiras digitais emitidas pelo Banco Popular. No entanto, grande parte da atenção está voltada aos EUA, que através da fala do presidente do Fed (Banco Central Estadunidense) Jerome Powell, em um encontro realizado virtualmente em outubro de 2020, comentou sobre os riscos de expor a maior moeda de reserva global à digitalização e, a respeito do Diem (cujo nome era “Libra”), ressaltou as questões de privacidade e cibersegurança. Apesar da resistência declarada anteriormente, em maio de 2021, novamente Powell, afirmou que os EUA estavam envolvidos em “Um programa sério para entender a política de emissão de CBDCs”.

Ao que tudo indica, há mais sendo feito do que dito por parte do Fed e a possibilidade de uma CBDC americana se mostra cada vez mais eminente, uma vez que seu interesse na produção já foi declarado. Os EUA já foram, outrora, responsáveis por quebras legais de privacidade, sobretudo em outros países. Vincular uma moeda cuja transação é 100% rastreável é um ato perigoso. Apesar da constante exaltação do Fed às questões de proteção do consumidor, bem como a sua privacidade, desenvolver uma moeda de peso global regulamentada unicamente por um país marcado pela política majoritariamente republicana irá levantar uma margem de utilização com possibilidades muito questionáveis.

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