Mechanical Turk e brasileiros: A desumanização do ser humano em troca da sobrevivência

Dois mil e vinte um. Capitalismo. Uma das principais necessidades para garantir a sua sobrevivência neste sistema desumano é o emprego. Com ele, as portas se abrem mesmo ganhando pouco, pois não há que se preocupar com a fome (que desalenta) e desabrigo (que nos leva ao perigo). Com a mente tranquila, o resto se esvai, possibilitando pensar e planejar em melhorias ao longo da vida. Mas e quando os acontecimentos te levam novamente a zona de perigo? É aí que a precarização do trabalho entra, dando asas a essa tal liberdade democrática para sofrer. Microtrabalho é uma delas.

Na matéria ‘Os Brasileiros da Amazon Mechanical Turk’ da digilabour, pude sentir o quão se sentem desprezados pela plataforma. Além de não fornecer documentação sobre como usar, o que irá fazer, não ter contato com outras pessoas que trabalham com ela e faltar garantia de pagamento por quem está contratando (pois tem a possibilidade do calote do contratante), também tem o fator residência, pois a MTurk só autoriza o recebimento em dinheiro caso seja residente dos EUA ou Índia, forçando o trabalhador de outros países a gastar o vale-compras em produtos digitais pela Amazon EUA e vender em outras plataformas para obter o que foi trabalhado.

E como não há legislação do microtrabalho, quem obtém o poder pode usar a influência para coercer quem tenta mudar o que foi proposto. Quando consegue e afeta a saúde mental da pessoa, o suporte psicológico é necessário, mas a falta de dinheiro e a saúde pública precarizada, intencionamente pelo estado burguês batem na porta para avisar que a culpa é sua por estar assim. Afinal, o “livre arbítrio” da democracia liberal induz a consequência de sofrer um pouco mais. E eu como ser humano sou apenas uma das milhões de pessoas latino-americanas sem dinheiro no banco e sem parentes importantes.

Enquanto não lutarmos para tornar o capitalismo obsoleto, estaremos fadados a lutar somente pelo atraso da nossa morte.