Reflexos da intolerância religiosa nas plataformas digitais

Arilin Oliveira
TED/UNEB
Published in
3 min readJun 9, 2021

Em 22 de maio de 2021, ao postar um pedido de boas energias, a assessora técnica da Corregedoria do Instituto Penitenciário do Acre (Iapen), Larissa Sppezápria, sofreu horríveis ataques provocados pela intolerância religiosa nas redes sociais.

A advogada Larissa Sppezápria usa a sua página pessoal no facebook para professar a sua fé na religião de matriz africana, pois congrega na Tenda de Umbanda Luz da Vida, e sempre compartilha conteúdos sobre o sincretismo religioso, com o objetivo de combater o preconceito de determinados setores conservadores das comunidades cristãs fundamentalistas.

Quando postou um pedido de boas energias, já que ela, o padrasto e irmão forma contaminados com o novo coronavírus, o ataque veio em seguida: “Pede para o Diabo te salvar e salvar a tua família, macumbeira”, “Cadê teus santo? kkkkkkkkk (sic)”, “Agora vem pedir oração rsrs quando as coisas estão ruins de repente lembra de Deus né?”.

Dias depois, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AC, Lúcia Ribeiro, posicionou-se sobre caso de intolerância contra a umbandista:

“O crime de intolerância pode ser praticado contra qualquer religião praticada no nosso país. Contudo, a recorrência da prática afeta, principalmente, os integrantes de religiões de matriz africana, dentre elas o Candomblé. Vale dizer que a Umbanda é uma religião brasileira e os seus seguidores também são vítimas do crime, fruto do racismo estrutural presente na sociedade brasileira.”

Além de ressaltar as infrações legais cometidas pelos internautas nas redes sociais da vítima, ela repassou orientações:

“O Brasil é um país laico, ou seja, não possui uma religião oficial. Todavia, a Constituição Federal foi promulgada em 1988 com a “proteção de Deus”, conforme dispõe seu preâmbulo. Isso significa que o Brasil reconhece, valoriza e respeita a fé do seu povo, que se manifesta através das diversas religiões, incluindo aqueles e aquelas que não professam nenhuma religião. Neste sentido, a intolerância religiosa é crime. Não podemos deixar passar batido”

Casos como esse acontecem diariamente, tanto nas redes sociais quanto fora delas também. Com isso, muitas pessoas acabam preferindo esconder sua religião por medo das agressões que podem sofrer. Esse foi o caso da influenciadora Monique Elias.

Nas redes sociais, onde acumula um milhão de seguidores, Monique Elias contou que escondeu qual era a religião que segue por quatro anos. E as mensagens de ódio, segundo contou, teriam começado em julho, após revelar em um post que segue o Candomblé. “Você é macumbeira e é cercada de demônios, vai queimar no fogo dos infernos. Sua alma já tá vendida para o diabo” dizia uma das ofensas.

Também comentou que o desrespeito a tem deixado desanimada com a internet. “Eu fico me questionando, será que eu preciso passar por isso?”, indagou. “É esse nível de mensagem que eu recebo o tempo inteiro. Fora as críticas contra a minha condição de mulher”, completou a jovem.

Apesar de ter que lidar com a intolerância diariamente, após revelar sua religião, Monique se sente feliz por finalmente não precisar mais se esconder: “Venho sofrendo discriminações absurdas, mas no lugar de tristeza, sinto alegria. Não me escondo mais; sinto orgulho das minhas guias, vestes”, escreveu.

Fonte:

Servidora é alvo de intolerância: “Pede para o Diabo te salvar” | ac24horas.com — Notícias do Acre

Servidora pública é vítima de intolerância religiosa nas redes sociais — O Alto Acre

Comissão de Direitos Humanos da OAB/AC posiciona-se sobre caso de intolerância contra umbandista — Jornal A Gazeta (agazetadoacre.com)

Influencer sofre intolerância religiosa após revelar que segue Candomblé (emaisgoias.com.br)

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