Worldcoin: escaneie sua irís e receba criptomoedas em troca disso

Cláudia Ikeda
TED/UNEB
Published in
4 min readNov 16, 2021
Worldcoin converte íris em combinação única de números e letras

Uma nova empresa de criptomoedas chamada Worldcoin, criada em outubro de 2021, tem por objetivo democratizar o acesso à cripto: aqueles que desejam adquirí-las precisam topar em deixar seus olhos serem escaneados por um dispositivo denominado de “orbe”. De acordo com a Worldcoin, mais de 130 mil pessoas em todo o mundo já se inscreveram - com ambições de mais de 1 bilhão de inscrições nos próximos anos.

A iniciativa Worldcoin distribuiu 30 unidades do seu scanner “orbe” em quatro continentes. Os desenvolvedores do projeto querem aumentar a quantidade dos orbes pelo mundo e distribuir 4 mil unidades por mês. Não se sabe ainda quantas critpmoedas cada pessoa receberá ou quanto cada uma delas valerá.

Como funciona a Worldcoin?

Primeiro a pessoa tem que provar que não é robô e garantir a sua identidade através da biometria. Para isso é necessário utilizar o dispositivo Orbe, ele captura a imagem dos olhos, faz a leitura no íris ocular e converte em código numérico curto chamado de IrisHash. Esse código é armazenado em um banco de dados do sistema do site da empresa, já a imagem capturada no momento é descartada, ou seja, não será guardada em nenhuma base de dados, dessa forma é possível controlar quem já recebeu e quem não.

Simulação do escaneamento dos olhos de uma voluntária, disponível no website Coinrivet.com
Diagrama de funcionamento da Worldcoin, disponível no website Worldcoin.org

Polêmicas da criptomoeda Worldcoin

Essa nova moeda que está prevista para entrar em circulação em 2022 e isso tem levantado grandes polêmicas, principalmente por questões relacionadas à privacidade dos voluntários do projeto. Segundo Alex Blania, fundador da Woldcoin, esse procedimento não fere a privacidade das pessoas criptografadas. Entretanto, alguns indivíduos, preocupados com sua privacidade, acreditam que o método de autenticação da Worldcoin — varredura ocular — está longe de ser seguro, conforme relatado pela Slate.

O ex-agente da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, Edward Snowden, foi uma das vozes contrárias à proposta da Worldcoin no Twitter:

Printscreen retirado do Twitter

Parece que isso produz um banco de dados global (hash) das varreduras da íris das pessoas (pelo “bem”) e rejeita as implicações disso dizendo: “excluímos as imagens! Sim, mas você salva os *hashes* produzidos pelas varreduras. Hashes que correspondem às varreduras *futuras*. Não cataloguem globos oculares.” — Edward Snowden

O desenvolvedor argentino Santiago Siri, responsável pelo projeto “Proof of Humanity”, que propõem uma forma de identificadação digital descentralizada, falou sobre os perigos da manipulação de dados biométricos sob controle de uma empresa. De acordo com ele, pode haver interesses subjetivos por trás de um empreendimento desta natureza que coloca em risco alguns pilares da sociedade democrática, como manipulação de resultados eleitorais ou mesmo desvio de recursos.

No Twitter a discussão adquiriu um tom de confronto entre a comunidade cripto e os capitalistas de risco do Vale do Silício, colocando em perspectiva duas visões sobre as reais intenções do projeto. Além das questões relativas à privacidade dos voluntários, outra crítica levantada diantes da apresentação do projeto diz respeito à decisão de destinar 20% do suprimento total da Worldcoin à equipe do projeto. No caso do sucesso da Worldcoin, os maiores benefícios econômicos da nova criptomoeda caberá aos seus criadores, pois quanto maior for a adoção da Worldcoin, maior o lucro potencial da Tools for Humanity, empresa criada para o desenvolvimento do projeto, e que está avaliada em US$ 1 bilhão, hoje.

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Escrito por Claudia Ikeda e Claudia Solares

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