Chegas ao microfone, vais contar uma história: qual das 6 irás contar?

Beatriz Moreira
TEDx ISTAlameda
Published in
3 min readNov 6, 2017

O porquê dos Engenheiros serem grandes contadores de Histórias (mesmo que não o saibam). Escrito por Beatriz Moreira e Inês Mataloto.

A ciência comprovou que a grande maioria das histórias que conhecemos — e adoramos — segue um de seis modelos básicos. A análise computacional feita a 1372 livros de ficção em inglês veio confirmar a teoria que Kurt Vonnegut apresentou nos anos 40. Este autor norte-americano quebrou a barreira entre os simples contadores de histórias e os ratos de laboratório na sua tese de mestrado, ao propor que todas as histórias têm uma forma que pode ser desenhada num gráfico bidimensional. Para seu azar, na altura em que tentava obter o grau de mestre em Antropologia na Universidade de Chicago, a ciência da computação não estava ainda preparada para corroborar a sua teoria — e a tese foi rejeitada.

Mais de meio-século volvido, investigadores das Universidades de Vermont e de Adelaide desenvolveram um algoritmo que utiliza dez mil palavras-chave para encontrar a curva emocional das histórias. Apesar de se tratar de uma análise simplista, o algoritmo permitiu analisar a linha de tendência emotiva de 1372 livros — algo impossível de fazer à mão, e que permitiu generalizar a curva emocional das histórias em seis modelos:

  • 1. Do pobre ao rico (ascensão)
  • 2. Do rico ao pobre (queda)
  • 3. “Homem no buraco” (queda-ascensão)
  • 4. Ícaro (ascensão-queda)
  • 5. Cinderela (ascensão-queda-ascensão)
  • 6. Édipo (queda-ascensão-queda)

Embora os autores sejam muitas vezes representados como lobos solitários, de cachimbo na boca e robe de lã axadrezado, escrevendo os seus contos numa máquina Underwood, afastados da realidade mundana e em constante conflito interior; a verdade é que seguem, mesmo que inconscientemente, um conjunto de regras. Regras essas quase matemáticas (embora alguns destes lobos solitários se prefiram demarcar de tal ciência).

Assim, num gráfico em que o eixo vertical seja a sorte do protagonista e o eixo horizontal seja o passar do tempo, todas estas histórias se traduzem em funções polinomiais perfeitamente contínuas. Melhor ainda, está mais que comprovado que estas funções produzem êxito. O casamento perfeito entre a ciência e o storytelling, entre a matemática e o sentimento; entre seres apanhado pela tua mãe a ler “Harry Potter e os Talismãs da Morte” e poderes justificar-te dizendo que estás a estudar para o teste de Cálculo.

Histórias traduzidas em gráficos.

Mas até que ponto a “Ode a uma Flor” de Richard Feynman faz sentido? A compreensão do mecanismo subjacente da obra de arte arruína a sua beleza? Pelo contrário, preferimos acreditar que lhe acrescenta dimensão e novas camadas de mistério. Como uma curva de aquecimento ou uma curva de titulação, a curva emocional de uma narrativa é dotada de diversas fases, as quais contribuem, na sua simplicidade singular, para a incredibilidade final.

O mesmo gráfico adaptado a um semestre de vida de um universitário.

É de notar que as seis formas supracitadas modelam apenas a carga emocional da narrativa, deixando de parte o enredo, o qual está realmente na base do estímulo à leitura voraz. Resta ainda saber como calcular (e como interpretar) a derivada e o integral da curva de cada história. O primeiro a conseguir fazê-lo terá, sem dúvida, um lugar no palco do TEDxISTAlameda de 2018. Se estás a pensar nisso, podes candidatar-se ao Speaker Contest 2018 neste link: Formulário (PT) | Form (EN).

Qual o impacto da queda de Ícaro se não tivéssemos a ascensão desmedida a culminar no clímax da narrativa e consequente queda? Qual o impacto daquele sapato de cristal 35 que só cabia mesmo no pé da Cinderela, se não tivéssemos o momento dramático em que ela foge para que o vestido de gala não se transforme num saco serapilheira à vista do príncipe? Analogamente, qual o impacto deste artigo se as cinderelas do TEDxISTAlameda não tivessem feito uma pausa na dissertação de ideias para poderem agora ascender nesta curva matemática que modela a narrativa da nossa história? Menor, certamente.

Cinderela no seu momento de ascensão (de primeira derivada positiva, claro está!)

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Beatriz Moreira
TEDx ISTAlameda

I’m a Gryffindor with what I believe is a great sense of humour. I automaticallly like a movie or song more if it’s old. I love dogs and swimming pools.