Anotações sobre No Man’s Sky

Pensata de quem chegou no rolê atrasado

Ives Aguiar
Telejogo
4 min readSep 6, 2017

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É de conhecimento geral da nação a quantidade de erros encontrados na epopeia especial de No Man’s Sky. Depois do lançamento desastroso em Agosto do ano passado, é visível o esforço por parte da Hello Games em tentar consertar todo o estrago realizado.

A cada atualização nova lançada, pequenos elementos são adicionados para que fique mais próximo da visão original, deixando o conceito apresentado mais convidativo.

Entrar nesse vasto universo pela primeira vez depois de toda a balbúrdia, me fez enxergar qual foi o grande erro de No Man’s Sky: a falta de habilidade na hora de comunicar sobre do que a experiência se tratava.

Até o dia em que o jogo ficou disponível, a incerteza sobre o que a gente faria de diferente dos outros títulos de ficção científica apenas aumentava. Parecia difícil explicar que seria um Minecraft no espaço que não soube entender o charme intrínseco ao o original.

A grande diferença é angariar recursos em busca de um objetivo, a motivação para explorar a galáxia é apenas porque colocar todos os minerais necessário em um planeta só, seria um grande vacilo.

A falta de síntese por parte do diretor do jogo, Sean Murray, em explicar o que eu fiz em poucas palavras foi preocupante.

Como alguém envolvido na parte criativa do projeto, não consigo entender a dificuldade em responder com precisão as dezenas de dúvidas postas por jornalistas nas entrevistas (que não foram poucas). Não é como se tivesse criando algo como Everything (David OReilly), que é um conceito fora do comum. No Man’s Sky não reinventa a roda e nem tenta na verdade. Os desenvolvedores acharam que tinha algo de diferente em mãos, que estavam seguindo um caminho tão diferente com um jogo aonde tudo poderia ser feito, supostamente.

O trabalho ruim feito nas relações públicas, vendeu a oportunidade ir em busca do seu próprio significado, numa jornada por um universo orgânico, infinito, cheio de mistérios e não foi bem assim que aconteceu.

Importante ressaltar que o produto entregue pela Hello Games é impressionante na medida do possível, colocando o alagamento de 2013 e o tamanho reduzido do estúdio em perspectiva. Mas mesmo explicando de maneira clara todos os conceitos que desejava explorar com aquela leve pitada de exagero porque ainda estamos falando da indústria de games, não ajudaria muito para ser sincero.

No Man’s Sky é uma experiência vazia. Nenhuma de suas ações parece ter um peso, mesmo com toda as adições feitas até então.

As trinta horas de narrativa, construção de estruturas, sistema de agricultura, veículos, nova moeda, é claramente perceptível os elementos que foram adicionados pelas atualizações, eles parecem “pedaços” que foram inseridos ali sem se preocupar com o resto.

É um bolo de frutas exóticas onde o sabor de cada fruta tenta se impor.

Faltou esforço tentar unir os sabores das frutas, não existe uma motivação certa para sair explorando por aí. Cumpre o papel em nos fazer angariar recursos especiais para que o nosso Chevette espacial chegue no destino que fica especificamente longe.

Enquanto isso, podemos construir uma base, conversar com uma galera nas estações espaciais, explorar planetas já habitados por alienígenas, mas o jogo insiste em nos proclamar descobridores já que se importar com coesão em uma história de ficção cientifica é algo do passado, a moda é namorar pelado mesmo.

Não só isso, você é forçado a explorar novos lugares apenas por precisar de um minério especifico, transformando No Man’s Sky em uma sequência de fetch quest. Uma grande barreira é colocada na sua frente logo após ser introduzido a possibilidade de fazer algo grandioso. Se quiser ser o desbravador dos sete mares precisa de plutônio para fazer a nave sair do chão. Ser o minerador precisa de carbono para recarregar a sua arma e caso queira investir na sua casinha especial, tá ferrado já que combustível para outro sistema solar não dá em árvore.

As comparações com Minecraft são impossíveis de fugir, já que ambos dão ao jogador um universo orgânico que anseia ser explorado em cada centímetro. Enquanto o jogo de blocos é recheado de nuances e respeita a decisão de apenas brincar de casinha, sem o encher de tarefas, a jornada especial não é bem assim. Cada tarefa realizada tem diversos pré-requisitos, podando a sua experiência/liberdade e no final, qual o verdadeiro motivo para montar um jipe ou até mesmo ir em outro planeta?

As recompensas por sua ações são minimas dado o esforço que tive para juntar vinte peças de urânio. Melhorar o seu personagem também é broxante, os preços são irreais, desmotivando ainda mais para que seja o Cristovão Colombo do espaço.

É uma pena que os conceitos apresentados foram mal utilizados, tudo soava ótimo no papel. Infelizmente, a clareza do discurso de Murray não resolveriam os problemas que são intrínsecos à estrutura do jogo, mudaria apenas a forma na qual seria tratado pelo público e a imprensa. Acabou sendo mais um projeto grandioso que falhou ao entregar algo coeso.

Adicionar mais frutas a esse bolo não vai resolver a falta de harmonia entre os sabores, mesmo se o gosto estiver um pouco melhor.

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