[E3 2018] A Sony arrogante está de volta

O sucesso é um perigo meu amigo

Ives Aguiar
Telejogo
5 min readJun 15, 2018

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Existiu uma época em que a Sony enquanto empresa era insuportável. Era uma criança que foi mimada pelo sucesso do PlayStation 2 e essa atitude resultou no lançamento desastroso de seu sucessor.

O PlayStation 3 é uma bela história de superação e como a gigante japonesa aprendeu com seus erros. Em dois anos pós-lançamento, ela abaixou o preço do console e finalmente começou a investir em grandes títulos, principalmente em exclusivos. Além disso, começou lentamente a copiar a concorrência melhorando um pouco a infraestrutura online, deixando a PSN levemente parecida com a Xbox Live.

Com esse aprendizado, os últimos anos de vida do PS3 foram inacreditáveis: ótimos jogos exclusivos no catálogo, um serviço online decente, serviço por assinatura que dá jogos de graça todos os meses, novos modelos de console com maior capacidade de armazenamento e mais compactos. Foi assim que o console entrou no gosto popular que deu uma enorme vantagem para Sony quando ela anunciou o sucessor.

Isso deu uma base enorme para que o PlayStation 4 conseguisse vender 75 milhões de unidades até o momento.

Infelizmente, esse sucesso está dando abertura para que a Sony voltasse a agir como soberana, arrogante e cabeça dura. Alguns dizem que começou quando aumentou o preço da assinatura PS Plus mas é seguro afirmar que as declarações do Jim Ryan sobre retrocompatibilidade deixou uma galera pistolaça.

O assunto em si é bem complicado mas esse total desdém e falta de percepção do quão a retrocompatibilidade ajudaria a manter o PS4 no topo é bem desanimador.

Daí aconteceu a conferência da E3 2018, confirmando a volta dessa atitude. Por começar a falta de clareza em como seria a conferência em si, queria inovar mas não entraram em detalhes se seguiria o formato tradicional dos anos anteriores.

Foi uma bela confusão começando pela noção que existiria uma troca de cenários, começando com uma igreja que remete a The Last Of Us 2. Mesmo com um estranhamento, é impossível negar o impacto que o trailer deixou.

Como alguém que discorda com as opiniões formadas sobre o primeiro jogo, fiquei bastante impressionado com a direção e o aspecto técnico. É inacreditável como conseguimos perceber o amadurecimento da Naughty Dog enquanto contadora de histórias. As animações estão dinâmicas, o stealth parece melhorado gerando um nível maior de tensão, os movimentos estão fluídos o suficiente para gerar um questionamento do que é jogável e o que é animação.

Se no final será uma experiência gratificante ou não é difícil dizer, mas gerou interesse e é isso que importa.

Só que essa empolgação toda foi cortada, os jornalistas presentes no evento tiveram que ir para uma outra sala e aqueles que assistiam a conferência ficaram com um painel discutindo trailer já divulgados. Quebrou totalmente o ritmo e diminui bastante toda a euforia de The Last Of Us 2, tanto que ela não voltou.

O resto da conferência foi sim interessante, cada jogo apresentado é incrível de seu jeito particular. Anunciaram Nioh 2, Ghost Of Tsushima é tipo um novo Bushido Blade, Hideo Kojima está criando seu projeto mais artístico até o momento com Death Stranding e meu deus do céu Resident Evil 2 é a soma das melhores partes dos melhores jogos da série e vai sair logo em Janeiro. Teve mais do Homem-Aranha só para lembrar que parece bacana e pronto acabou, voltaram para o painel.

Acharam que era uma boa ideia anunciar algo novo logo depois da conferência e não deram a devida importância para Déraciné, projeto em realidade virtual da From Software dirigido pelo Hidetaka Miyazaki.

Parece que perderam a mão e não conseguiram entender quais títulos mereciam mais destaque. Todo o novo formato de conferência só fez criar um ritmo muito ruim e é difícil dizer algo bom sobre a apresentação.

Com esse gosto duvidoso na boca a gente foi dormir sem saber muito bem o que pensar. Daí no dia seguinte, isso acontece:

Eis que qualquer um que tivesse uma conta do Fortnite no PS4 e tentasse jogar em outro console, simplesmente não ia conseguir. Isso gerou uma enorme comoção online, Phil Spencer (Head Executive Xbox) e Reggie Fils-Aimé (COO Nintendo America) colocaram atenção diretamente na Sony como algo que não podem controlar e preferiram não se aprofundar na questão.

A Sony também não entrou em mais detalhes, falando que permite partidas online entre PC, Mac, iOS e Android, não vai comentar mais nada. Foi o mesmo rolê que aconteceu quando foram questionados sobre o cross-play de Minecraft e Rocket League.

Essa atitude, de alguém que está no topo e não parece se preocupar em se manter estável não é saudável. Parece que esqueceram o que aconteceu anos atrás e isso só é nocivo para quem consome, os jogadores só querem saber novidades sobre seus jogos e mais detalhes de como eles funcionam. O formato dos anos anteriores estava funcionando bem o bastante, não se mexe em time que tá ganhando. Ou pelo menos tenta melhorar o que já tá bom.

E não é como se eles tivessem títulos ruins, todos aqueles que foram mostrados na conferência são impressionantes de maneira única, não consigo dizer nada ruim sobre o conteúdo deles. Eu quero jogar todos tipo agora, mas a maneira no qual foram apresentados ainda desperta um receio.

A Sony pode criar a desculpa que fez uma E3 ligeiramente fraca por ter outras oportunidades de fazer anúncios ao longo do ano. Nos últimos tempos ela tem dividido o foco na Paris Games Week e na PlayStation Experience (e ainda tem a Tokyo Game Show). Mas dado que a E3 ainda possui a sua relevância, é uma desculpa sem cabimento.

Tenho medo das próprias ações de Shawn Layden e sua turma do barulho, não é nada benéfico se acomodar por está no topo. Espero que as reações do público sejam o bastante para que acordem e percebam que o caminho que estão seguindo talvez não seja bacana.

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