[E3 2018] EA, me ajuda a te ajudar

Eletronic Arts parece que perdeu as estribeiras

Ives Aguiar
Telejogo
4 min readJun 10, 2018

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Quando uma desenvolvedora alemã vestindo uma camisa do Kraftwerk começou a falar sobre como a solidão transforma os humanos em monstros, um silêncio se instaurou, daqueles no qual apenas escutamos o que está sendo dito e tentamos absorver o máximo possível.

Era visível o quão emocionada ela estava em transmitir suas intenções criativas com Sea Of Solitude, jogo onde quer explorar diferentes tipos de solidão ao nível pessoal mas também como amigos e familiares também lutam contra esse sentimento.

A solidão, raiva, inutilidade e desesperança saem do interior de Kay e a transformam em um monstro. Nosso objetivo é tentar entender o motivo dessa transformação e como podemos reverter essa situação.

Cornelia Geppert desenvolveu essa ideia enquanto se encontrava em um profundo estado de solidão. Ela acredita que enquanto uma artista, você processa suas emoções deixando-as expostas e colocando na sua arte. Nem é preciso se esforçar muito para comprovar o que ela diz, só nessa pequena apresentação já é possível assimilar informações o suficiente para embarcar nessa jornada emocional.

Embora não seja um anúncio oficial, é sua primeira aparição formal enquanto título do selo EA Originals, que dá exposição para pequenos estúdios desenvolverem suas ideias de forma independente sob tutelagem da EA.

Minutos antes, Martin Sahlin diretor de Unravel, anunciou a sequência do adorável Yarny que agora conta com um amigo feito de lã azul para acompanhar em uma nova jornada. E do nada, também anunciou que Unravel Two já está disponível. Tipo, você pode comprar agora se quiser, coisa de louco mesmo.

Em mais ou menos vinte minutos, desenvolvedores independentes receberam a oportunidade de basicamente mostrar para a própria EA como se deve empolgar uma galera com videogames o que é muito estranho e bem incompetente por parte dela. É sempre bom lembrar que os últimos anos para a Eletronic Arts tem sido terríveis, seja o fiasco do SimCity ou o recente fuzuê envolvendo deixar países europeus pistolaços da cabeça.

Talvez seja por isso que o EA Play 2018 deixou um gosto amargo na boca, foi uma confusão tremenda onde jogos que geralmente ganham maior atenção, como uma exposição excessiva, foram comedidos e mornos.

Toda a empolgação que poderia ser gerada com Battlefield V ficou em trailers que saíram logo após o fim da conferência. As desculpas a cerca do lançamento de Battlefront 2 foram qualquer coisa e se você quer criar entusiasmo com uma franquia enorme como Star Wars é preciso melhor do que uma foto pré-renderizada do General Grievous. E nem vou perder tempo falando do desastre que foi “anúncio” de Jedi Fallen Empire da Respawn Entertainment.

Até mesmo os anúncios envolvendo seus títulos de de esportes não tiveram aquele gás. Colocar FIFA 18 de graça por tempo limitado para celebrar o novo modo da Copa do Mundo era de se esperar mas foi divertido ver a emoção dos desenvolvedores em ter a licença da UEFA já que a Konami desistiu de se importar com videogames.

Mesmo com novidades interessantes como o Origin Acess Premier que dá acesso antecipado aos grandes jogos da EA, não aconteceu um equilibrio em colocar importância naquilo que realmente merece.

Quando isso aconteceu, não foi muito agradável e resolveram sentar os desenvolvedores de Anthem para bater um papo sobre um jogo da maneira mais chata possível. O conteúdo da conversa e as informações passadas eram interessantes, mas isso no contexto de uma conferência só fez quebrar o ritmo que já estava zuado.

Ainda bem que colocaram um trailer que conseguiu ilustrar um pouco sobre o que se trata mas faltou sustância. Esse é o primeiro projeto original da Bioware em quase 10 anos e depois de Mass Effect: Andromeda, o estúdio não tá com essa moral toda. Existe uma importância que não foi passada de forma clara, só conseguimos entender o rolê inteiro quando informações novas foram publicadas pela Game Informer.

A EA geralmente tem um histórico duvidoso em termos de conferências, mas dessa vez eles se esforçaram em não colocar peso em seus títulos grandes. Mostrou coisas interessantes com seu serviço por assinatura e demonstrou seu apoio ao desenvolvedor independente mas está neglicenciando a sua própria marca.

É desse jeito, com aquele gostinho ruim na boca, que a E3 2018 começa.

Que deus nos ajude.

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