TOP 10: OS VINIS MAIS PRECIOSOS DA MINHA COLEÇÃO

Marco Antonio Barbosa
Telhado de Vidro
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9 min readSep 10, 2017

Não me peça para contar meus discos de vinil. Faltam-me tempo, saco, vontade. Digamos que sejam mais do que eu preciso ter, mas menos do que eu gostaria de possuir. Num cálculo chutado, acredito que a quantidade total seja… uma estante de ferro daquelas do Shopping Matriz, cheia de LPs e singles de alto a baixo. Desde os 12 anos, do primeirão, comprado em 1986 d.C, ao mais recente, perdi/troquei/desfiz-me de pouquíssimos discos; venho arrastando a bendita coleção mudança após mudança, uma tarefa digna de Sísifo que se torna mais sacrificante a cada encaixotamento-desencaixotamento. Por que? Ora, como eu já expliquei aqui, sou um cara apegado à música em formato físico. Cada uma dessas placas redondas de material preto cheio de sulcos é parte da minha biografia. Não tem a ver com o (suposto) glamour do formato, com a (suposta?) qualidade sonora superior, com a beleza das artes gráficas. Precede isso tudo: no momento em que comecei a me interessar por música, ouvi-la e possui-la fisicamente eram uma coisa só, e essa inextricabilidade, cristalizada na minha mente há mais de três décadas, nunca deixou de fazer sentido. E agora, que sou um velho, aí que eu não vou mudar mesmo.

Cada disco da minha modesta coleção tem uma história. Enquanto meu combalido cerebelo assim permitir, trago na memória todas elas. Onde e quando os adquiri, meu estado de espírito no momento, as circunstâncias específicas. Hoje, com as feiras de vinil e as facilidades da internet, comprar LPs é como visitar um zoológico. Quando comecei a colecionar, a atividade assemelhava-se a um safári pela selva mais profunda, sem guias ou armas adequadas.

Resolvi relembrar aqui as 10 histórias mais pitorescas: aquisições importantes, compras inusitadas, raridades. Provavelmente há discos mais raros e/ou valiosos (em termos monetários) em meu acervo, mas esses 10 são os que mais me dão orgulho de ter.

Magical Mystery Tour, The Beatles (versão compacto duplo)
Onde e quando: uma lojinha tosca em Madureira, 2009
Quanto: R$ 50
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 48 e R$ 446

Este eu achei quando morava nos confins da Zona Norte carioca. Era um sebo pequeno e mal iluminado, encravado em uma galeria dessas com manicure, chaveiro, botequim etc. As pilhas de LPs não tinham nada interessante, mas na parte de baixo das bancadas havia caixas com compactos de 7 polegadas — muita coisa dos anos 70 e, lá no meio, estava a edição brasileira original (1968) do MMT, a versão com dois singles e um livreto de fotos. As canções foram reempacotadas no lado A da versão LP do disco, com uma capa diferente. O cara pediu 50 mangos e nem hesitei; eu nunca sequer havia visto aquela edição na vida, nem sabia que tinha sido lançada no Brasil. Como já conheço as músicas de trás pra frente, até hoje não pus os singles na vitrola. Tenho um acervo beatlesco até razoável, e este disco é a joia da coroa.

The Beatles, The Beatles (edição brasileira original estéreo)
Onde e quando: Barbarella Discos, 1990
Quanto: esqueci (quanto vale um cruzado novo?) Sei que foi bem barato.
Valor hoje (segundo o Discogs): tem um oferecido a R$ 1.040

O fim dos anos 1980/começo dos anos 1990 foi uma excelente época para comprar vinis velhos baratos. Muita gente se desfazendo de seus LPs e trocando-os por CDs. Discos dos Beatles eram facilmente encontráveis e eu, como bom esnobe, priorizava as edições dos anos 60. Minha cópia do Álbum Branco é daquela famosa tiragem brasileira com o erro de prensagem em “Revolution Nº1”.

A Hard Day’s Night (Original Motion Picture Soundtrack), The Beatles
Onde e quando: um camelô em Botafogo, 2003
Quanto: R$ 3
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 77 e R$ 617

Vocês sabem que eu não posso ver uma banquinha com LPs na calçada sem dar uma olhadinha. Estava fazendo uma hora depois do almoço e me deparei com esse pitoresco disco, a trilha sonora do filme Os Reis do Iê-Iê-Iê (que tem nove dos hits do disco oficial e versões instrumentais para “And I Love Her”, “This Boy” e a faixa-título). Perguntei para o vendedor quanto custava e ele apenas esticou três dedos. Pensei: trintão, OK, parece justo. Quando estendi as notas, o cara retrucou: “R$ 30 não, R$ 3”. Fiquei sorrindo feito bobo o resto do dia.

I Am Kurious Oranj, The Fall
Onde e quando: Barbarella Discos, 1991(2?)
Quanto: não mais que NCz$ 200, ou Cr$ 20, ou algo assim
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 111 e R$ 305

Não expliquei pra vocês o que era a Barbarella Discos. Era um sebo que existia no centro de Niterói e recebia regularmente quantidades imensas de LPs usados, inclusive discos antes pertencentes ao acervo da saudosa rádio Fluminense FM. Apareciam coisas boas e baratas, mas encontrar verdadeiras raridades era, bem, raro. Frequentei o sebo por anos, sempre na esperança de extrair alguma pepita entre as centenas de cópias de Sertão 87 e discos de escolas de samba. Por isso, achar esse álbum importado do The Fall foi uma ocasião bem marcante. Vinis gringos indies eram muito difíceis de encontrar e, quando apareciam, custavam o olho da cara. E, no entanto, qual um Santo Graal num ferro-velho, lá estava essa maravilha perdida. A Barbarella mudou de nome, deixou de vender vinis (virou uma papelaria) e, anos depois, voltou a oferecer discos, mas hoje só tem lixão.

The World of David Bowie, David Bowie
Onde e quando: Barbarella Discos, 1991(2?)
Quanto: não lembro. Barato
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 18 e R$ 231

Essa coletânea meio picareta também foi escavada na Barbarella. Na época, fiquei muito orgulhoso do achado; era um disco raro do Bowie, original dos anos 70, com músicas que eu não conhecia… Já na era da internet, constatei que de raridade mesmo o LP não tinha coisa alguma, e o repertório (fraco) tinha sido reempacotado em diversas outras coletâneas. Mas na época, a descoberta fez com que eu me sentisse um verdadeiro arqueólogo do vinil.

Crooked Rain Crooked Rain, Pavement (edição nacional de 1994)
Onde e quando: Barbarella Discos, 1994
Quanto: R$ 5,90
Valor hoje (segundo o Discogs): No Discogs não tem cotação. Achei um cara pedindo R$ 120 no Mercado Livre

Até meados dos anos 1990, ainda era razoavelmente comum que as gravadoras nacionais fizessem lançamentos em vinil e CD. Os LPs saíam muito mais em conta e eram oferecidos como discos promocionais à imprensa e às rádios. Nessa época descolei uma cópia do meu amado segundo álbum do Pavement, lançado no Brasil pelo selo Natasha. Muita gente já babou nesse LP, até oferecendo uma boa grana por ele.

Eu Sou o Rio, Black Future
Onde e quando: uma loja tosquíssima em São João de Meriti, 1989
Quanto: Cz$ 3 (ou Cz$ 30? Lembro que tinha “3” no meio)
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 185 e R$ 216

Eu passava uns dias de férias na casa da minha avó, na Pavuna, e fui com meus primos ao centro de São João, que não ficava muito longe. A “loja de discos” era um buraco ao lado de uma casa de fliperamas & jogos eletrônicos (chamávamos de “flíper”; “Vamos lá no flíper?”). Bem perto à porta, havia uma bancada com as fileiras de LPs e, perdidos lá no meio, estavam alguns lançamentos do selo Plug, entre eles o segundo disco do DeFalla (várias cópias) e alguns exemplares da estreia do Black Future. Eu conhecia a banda de ouvir na Fluminense FM, mas nunca havia encontrado o disco à venda. A distribuição da gravadora era tão porca que não se achava o álbum do BF nas lojas do Centro do Rio — mas ali, numa biboca em São João de Meriti, tinha pra quem quisesse comprar. Ninguém queria, só eu. Acho que se eu não tivesse por acaso passado por lá, os discos estariam lá até hoje. Levei dois; um eu dei para um primo, o outro ainda está comigo.

Raw Power, Iggy and The Stooges
Onde e quando: uma banquinha de rua em Portobello, Londres, 2013
Quanto: £ 15
Valor hoje (segundo o Discogs): tem um à venda, e estão pedindo R$ 1.222!

Tenho um histórico complicado com este álbum. Primeiro eu tive a versão original em CD. Roubaram. Para substituir, comprei a versão remixada em 1996 pelo próprio Iggy — que é um dos discos mais ruidosos de todos os tempos e, para o meu gosto, quase insuportável. Acho que eu simplesmente já tinha me acostumado com o som do CD original. Daí, quando estava em minha segunda visita a Londres, achei essa belezinha dando sopa num camelô, na edição inglesa de 1973. Para minha surpresa, o som também era diferente da primeira mixagem em CD, talvez um meio termo entre o estardalhaço da versão do Iggy e a mais comportada mixagem feita originalmente por David Bowie. Enfim, é um dos dos meus discos favoritos ever e é foda ter um exemplar original na estante.

Country House, Blur
Onde e quando: uma lojinha meio bizarra no Saara, perto da saída Senhor dos Passos da estação metrô Uruguaiana, 1995
Quanto: R$ 3
Valor hoje (segundo o Discogs): entre R$ 52 e R$ 92

Quando o CD popularizou de vez no Brasil, logo após o Plano Real, subitamente os discos de vinil viraram lixo. Ninguém os queria mais e, com paciência e sorte, era possível achar coisas interessantes a preços irrisórios. Esse single promocional do Blur foi encontrado em uma loja estranha no Saara (zona de comércio popular no centro do Rio), junto a um grande lote de EPs e LPs importados, tudo dividindo espaço com discos (ruins) do Roberto Carlos e artigos de umbanda (!). É o único disco da minha coleção que só tem um dos lados prensado; o lado B não tem nada, é liso. O formato era comum em singles exclusivos para rádios. Certamente pertencia ao acervo de alguma emissora e foi desovado ali sem dó nem piedade.

Fools Gold 9.53, The Stone Roses (12 polegadas, vinil dourado)
Onde e quando: a mesma lojinha meio bizarra no Saara, 1994
Quanto: R$ 3
Valor hoje (segundo o Discogs): de R$ 37 a R$ 203

De toda a discarada que garimpei em sebos na vida, este foi o achado que mais me emocionou. Não só porque eu adoro a música, mas porque se trata de uma edição limitada. E em vinil dourado! (O lado B também é um clássico.) Comprei na mesma lojinha onde encontrei o Blur aí de cima, onde também achei importados de Siouxsie & The Banshees, Bowie, Beastie Boys, New Order… Tudo uma pechincha. Na época, discos de vinil eram realmente ouro para tolos.

Tem alguma história curiosa de discos e/ou sebos? Comenta aê.

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Marco Antonio Barbosa
Telhado de Vidro

Dono do medium.com/telhado-de-vidro. Escrevo coisas que ninguém lê, desde 1996 (Jornal do Brasil, Extra, Rock Press, Cliquemusic, Gula, Scream & Yell, Veja Rio)