Gabriela Biló/Estadão

Rumo a 2022 (10)

Atualizando a corrida eleitoral com os acontecimentos de Outubro de 2019

Gustavo Laet Gomes
5 min readNov 1, 2019

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Seguimos nossa série de previsões sobre a eleição presidencial de 2022 com base no método que explicamos na primeira edição da série Rumo a 2022. Primeiro, os gráficos:

O mês de outubro deu uma boa embolada no campo da direita. Uma pesquisa encomendada pela Veja sinalizou que Sergio Moro é, hoje, o candidato mais viável. Ganha de todos os concorrentes num eventual segundo turno, inclusive de Jair Bolsonaro. Em relação ao primeiro turno, o cenário 3 da pesquisa é o que mais se aproxima do escopo que estamos tratando aqui, que inclui todos os presidenciáveis:

É sempre bom lembrar que a análise que fazemos aqui não é uma tentativa de prever o resultado da eleição em termos de percentual de votos, mas uma avaliação das chances que os pré-candidatos têm de tornarem-se o próximo Presidente da República. Assim, o fato de o Bolsonaro liderar a pesquisa não implica que ele sairá vencedor. O que a pesquisa sugere é que ele está conseguindo manter uma base fiel de cerca de 1/5 do eleitorado. Essa fidelidade certamente será posta à prova no momento em que houver uma campanha eleitoral de fato, quando os outros candidatos terão mais visibilidade do que têm agora.

O que talvez pareça mais destoante na comparação com a pesquisa da Veja é que estamos dando 7 pontos para o João Doria, que, aliás, tinha caído bastante no mês anterior. O motivo disso é que o mês de outubro testemunhou uma radicalização da campanha em patamares até então inéditos. Isso enfraquece a posição de Luciano Huck, que aposta em se posicionar ao centro, pagando de bom moço (esta thread tem uma boa análise da transformação pela qual Huck vem passando). Daí sua tendência de queda. A tendência de queda para Doria é porque ele, na verdade, oscila muito. Neste mês ele se lançou numa ofensiva eleitoral (coisa que ele já tinha feito antes), mas pode daqui a pouco arrefecer um pouco (talvez por ser governador e ter mais o que fazer).

De todo modo, a melhora no posicionamento de Doria tem a ver com a radicalização do discurso. Ele tem maior capacidade de encampar o discurso antipetista do que Huck. Não tem, porém, maior capacidade de fazê-lo do que Moro (que, aliás, tem mais capacidade que o próprio Bolsonaro). O que levou à queda da aposta em Moro nos últimos meses era a expectativa de que a Vaza-Jato pudesse afetar a sua imagem. Isso não aconteceu e já está bem claro que não acontecerá. E mesmo que o STF resolva endurecer com relação a ele e gerar algum constrangimento novo, a tendência é que ataques do STF o fortaleçam, e não o contrário.

A grande vantagem de Moro é que a transferência de votos de Bolsonaro para ele será maciça. Além disso ele contará com potenciais eleitores de Huck e, claro, de Doria. Na verdade, se Moro sair candidato, é muito provável que Huck nem entre na disputa, embora Doria certamente estará lá.

No campo da esquerda a expectativa diz respeito ao que acontecerá quando Lula deixar a prisão. Isso já é praticamente certo, seja por uma imposição do regime semi-aberto (o partido da Lava-Jato já se tocou que mantê-lo preso em Curitiba é dar um imenso palanque para ele), seja como efeito de uma eventual queda da possibilidade da prisão em segunda instância, que será decidida pelo STF em novembro.

Há quem analise que uma eventual soltura de Lula, mesmo que ele não consiga recuperar seus direitos políticos, acirrará a polarização com Bolsonaro e prejudicará ainda mais a posição de Huck. Isso favorece Doria, que tem mais propensão para endurecer o discurso e, assim atrair o antipetismo, mas favorece, sobretudo uma candidatura do Moro.

Note ainda que o antipetismo, embora ainda será a principal força em 2022, certamente estará enfraquecido por causa do governo Bolsonaro que não tem como dar certo. Some-se a isso os reveses que estão acometendo a extrema-direita tresloucada nas eleições que estão ocorrendo este ano em vários países. O cenário evidentemente ainda pode — e vai — mudar muito.

A espera do destino de Lula deixa tudo estagnado na esquerda, como já estamos indicando há alguns meses. O único “poste” conhecido até o momento é Fernando Haddad, que continua na mesma. Mudamos o status de Flávio Dino indicando queda, porque ele não engatou muito no debate eleitoral (e faz bem, pois, afinal, tem um Estado para gerir). De todo modo a sombra de um possível retorno de Lula à cena eleitoral tende a inviabilizar todas as outras candidaturas do campo da esquerda.

Por fim, a Mônica Bérgamo deu notícia de que a ala bivarista do PSL pretende lançar Joice Hasselmann como pré-candidata à presidência, para mostrar que há uma “direita do bem”, contra Bolsonaro. Antes das eleições municipais (onde Joice é cotada como candidata), porém, não dá para falar em candidatura dela. Além disso, como se sabe, a Joice é muito próxima do Doria e dificilmente o enfrentaria num pleito presidencial. Isso sem falar que essa direita misógina não elegeria uma mulher para presidente, nem se fosse a própria Ayn Rand.

2º Turno

Essa embolada geral dificulta a previsão de um 2º turno. Mas diante da pesquisa da Veja não resta alternativa a não ser considerar um segundo turno entre Moro e Haddad.

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