Tem Um Cara Aqui Em Casa- Parte 6

Xico Mendes
Tem um Cara Aqui em Casa
4 min readJul 28, 2022

Gente, já começo pedindo desculpas! Nosso amigo Estones (sem limites) tomou um porre daqueles na passagem pelo RJ e precisou de uma semana para se recompor.

Cá estamos novamente!

Na eminência de achar em minha infância inspiração para o árduo trabalho que temos pela frente. Estones, temendo represálias, em Sonhos — que sofre com a tomada das tropas de Pesadelos — me ofereceu essa alternativa.

Nessa semana de recuperação de meu amigo, discutimos muito sobre o assunto e eu tive noites de sono pesado e impressionantemente vazio.
Confesso ter ficado contente com a limpada no HD que estas noites singelas de sono, tão comuns a tantos, me proporcionaram.

Imagine você, dormir sem descanso mental algum, com o cérebro à milhão produzindo toneladas de bobagens como essas que vos escrevo.
O resultado disso é a sensação física matinal de ter passado a noite carregando e descarregando caminhões de telhas e tijolos.
Mas, enfim chegamos à conclusão de que vale o risco de retornarmos a Sonhos. Segundo o próprio Estones, tem uma galera que me aprecia por lá, justamente por dizerem que proporciono muito entretenimento a seus habitantes.

Além do papo com Deivid Béquirram, ficou registrada na memória afetiva daquele povo a cena de Morgan Freeman fazendo demonstrações de um videokê, em uma filial das Casas Bahia, cantando My Way com uniforme e tudo. Resultado de uma de minhas incursões por lá.
Houve também uma ocasião que meu amigo de gole e banda (Pedro Torres), foi tocar em um piano bar acompanhado de sua namorada Glória Pires e, na plateia, um complacente e civilizado Orlando de Morais apreciava a competência de nosso baterista e suplente matrimonial dele, tomando taças comedidas de vinho do Porto.

Quando Estones me puxou isso à memória, relatei que sofro uma zuera infinita quando conto isso a alguém por aqui.
O papinho é sempre o mesmo:
“Essa maconha é da boa né!”
Quando, no fim, é só minha mente que não descansa mesmo.

E é por isso mesmo que preciso dar sequência ao nosso Projeto, para dar uma esvaziada nesse meu HD e me livrar um pouco da visita não muito desejada, que é o companheiro Estones.
Decidimos que a tática para minha ingressão em Sonhos seria não chegar direto pela Capital, que está completamente monitorada pela tropa colostômica de Pesadelos.

Afinal, existem cidadelas, vilarejos e comunidades às cercanias desse local onírico, então, a escolhida por mim e aprovada por Estones foi Pestana.

Acostumados a receber visitantes em trânsito durante o pós almoço, o lugar é simpático por ser habitado por aquelas pessoas que fazemos questão de esquecer.
Ex-chefes, ex-amigos, ex’s ex’s….estão todos lá, solícitos e disponíveis a uma segunda chance.

Quando Estones me disse isso, de pronto perguntei:

- Cara, mas sendo assim, não corro risco de entrar em Pesadelo não?
Pelo jeito que você tá me contando, essa galera me parece um monte de teletubbies presos no cérebro do Bob Esponja. E pra isso eu nem preciso dormir! Tenho um exemplar a poucos metros daqui de casa….

Estones deu um riso de canto de boca e respondeu:

- Pode ser, sim, mas para isso tenho umas dicas técnicas pra te passar. Primeiro que você não vai até lá em seu descanso pós almoço. Como você dorme pouco, podemos organizar sua ida à noite mesmo. E, para dar uma aliviada no cenário e você não entrar em Pesadelo colorido exagerado de good vibes, tome dois dedos de chá de limão puro antes de dormir e firme o pensamento em um ambiente que queira estar, segundos antes de pegar no sono.

Assim o fiz. Dei um pulo na casa do vizinho Albino, apanhei umas dúzias de limões cravo (já para deixar uma reserva pro meu Cuba Libre) ao entardecer.
Cumpri o rito pré-sono indicado pelo Stones: fiz o tal chá, deitei-me e, segundos antes de pegar no sono, mentalizei um dos botecos copo-sujo mais legais que já fui, acompanhado de um amado Tio, lá no Vale do São Patrício, interior do Goiás.

Ao cair no sono lá estava eu, num boteco de Pestana em um horário que me parecia o happy hour da turma.
O bar não era TÃO rústico como o que fui com Tio Nena, mas era bacaninha.

Tinha as paredes metade branco, metade azul anil, duas portas grandes de madeira. Duas mesas de sinuca e um pebolim dividiam o salão. Porém, à cabeceira da mesa de sinuca notei uns equipamentos de som montados e ligados, o que indicava que logo menos haveria música ao vivo. Me arrepiei em pensar que poderiam contar comigo para tal tarefa. DE-TES-TO canja, jam e afins. Trabalho com isso e se já não toco em churrasco, imagina me pedirem pra fazê-lo em meu sonho!

Beleza, se tô sonhando que vou fazer um show em qualquer local, tranquilo. É o ofício. Agora, caraí’ tô de rolê e do nada aparece alguém com um violão:

“-Faz um sonzinho aí pra gente!”

NÃAAAAAOOOOO!

Vamos conversar, me fale mais de você, mas sumam com esse violão!
Pronto, desabafei, voltando à estória.

Puxei a cadeira de uma mesa do local mais escondido do bar, sentei-me observando o vai e vem de pessoas empolgadas por ali.
Tinham uma alegria na medida que não beirava o enjoo. Sinto um cutuco no ombro direito seguido de:

- Oi Hilton, tudo bem? Vai querer tomar o quê?

Era Natalie (com a sílaba tônica no I, pra não confundirem com a moça dos filmes), gerente de uma loja que trabalhei como vendedor em 2005.
Na hora pensei se valeria à pena mesmo essa minha incursão a Sonhos, já que começamos de cara encontrando com essa “simpatia” a quem fui subalterno nos idos anos de 2005.

Continuará

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Xico Mendes
Tem um Cara Aqui em Casa

Musico prático desde o milênio passado e amante da arte de contar potoca!