Voz Feminina

Beatriz Mudrek
Tendências Digitais
3 min readApr 24, 2018

As vozes robóticas começaram a fazer parte do nosso dia a dia sem que percebêssemos. Entraram em nossas vidas nos ajudando em tarefas simples do dia-a-dia, ouvindo alguma tradução no google tradutor ou até nos auxiliando em nossos telefones. Curiosamente, todas essas vozes que ouvimos saindo de nossos eletrônicos são femininas. Como exemplo podemos citar a Siri, Cortana e Google Now.

Além de convivermos com essas vozes em nossas vidas pessoais, sempre foi muito comum encontrarmos as mesmas em robôs e androids na TV. Desde desenhos animados, como Bob Esponja, onde a esposa do personagem Plankton é um computador com voz feminina, até Samantha em Her, Pris em Blade Runner, T-X em Exterminador do Futuro III.

Compare todos esses exemplos e perceberá que essas mulheres sempre estão no papel de par romântico, mulheres dos sonhos e incorpóreas. Sempre sendo sexualizadas.

Nota-se que todos os filmes citados acima são de diretores do sexo masculino.

Também não é coincidência a relação entre a predominância de assistentes virtuais femininas e a de pessoas do gênero masculino no desenvolvimento de produtos e serviços das maiores empresas de tecnologia do mundo.

Na Microsoft, a presença de funcionários do sexo masculino é de 83%, no Google se calculam 80%. Já na Apple, 79% dos funcionários são homens, enquanto na Amazon a porcentagem cai para 61%.

As pessoas em geral normalmente preferem o som de uma voz feminina quando estão sendo auxiliados e certamente não hesitam em se sentirem mais confortáveis em assediá-las.

Karl MacDorman, professor na Indian University, disse ao Wall Street Journal que os designers de dispositivos enfrentam “um dilema ético”.

‘Talvez eles não devessem estar reforçando os estereótipos, mas desafiando-os ou sendo neutros com eles.’

O problema em dar gênero a robôs é que alguns dos estereótipos problemáticos geralmente são herdados.

Pesquisadores da Universidade de Stanford descobriram que as pessoas preferem vozes masculinas — mas apenas quando são usadas para ensiná-los sobre computadores.

Vozes femininas informatizadas eram apenas desejadas quando se tratava de dar conselhos sobre amor e relacionamento.

E tudo isso certamente é um reflexo da sociedade em que vivemos.

Sem fugir muito da vida real, todas as assistentes virtuais acabam lidando com comentários ou perguntas desrespeitosas e inapropriadas. Responsáveis pela Cortana, da Microsoft, contaram em entrevistas que uma grande parte das perguntas feitas para a assistente virtual eram sobre a vida sexual da mesma.

Como as assistentes virtuais respondem ao assédio também é preocupante. A Siri, quando dito “você é uma vadia” pode responder a seguinte frase “eu ficaria corada se pudesse”.

Um abaixo assinado inclusive foi criado para que as empresas responsáveis por essas IAs definam respostas mais adequadas a esse tipo de comportamento.

Os engenheiros das várias corporações trabalham afincadamente sobre este e outros problemas e a grande discussão gira em torno da humanização do bot ou serviço.

GIF via 2am | Tumblr

Já passou da hora de reverter o cenário atual.

É importante salientar que assistentes virtuais são representações humanizadas que se passam por mulheres e com a qual interagimos. Portanto, todas as informações e interações direcionadas a elas podem ser comparadas com as que são transmitidas a mulheres reais.

Pensando nisso, muito além de oferecer a opção de voz masculina ou feminina, as empresas devem ser muito cautelosas em relação a propagação de estereótipos de gênero.

A tecnologia deve ajudar a mudar positivamente, não perpetuar os males da sociedade.

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