Videografia

Izabelle Cristine
Tendências Digitais
9 min readDec 5, 2018

A proporção absurda de informações que estão disponíveis e são distribuídas pela internet já não é mais tão impressionante, porém, a proporção do formato com que essas informações estão tendendo a serem condensadas e transmitidas talvez seja.

Analisando as tendências registradas e aglomeradas no Observatório de Tendências Digitais desde 2015 até hoje e, principalmente, no período entre 2018–2019, viu-se o crescimento de uma necessidade que uniu diversas áreas e interesses: velocidade e praticidade nas informações.

Onde? Em todo o lugar.

E de que maneira? Todas.

Assim como desejamos enviar informações mais práticas e rápidas, também queremos recebe-las da mesma forma.

iPhone X, lançado em 2018 pela Apple

A princípio, com o fator quantitativo das informações somado com o desejo de praticidade, temos como resultado a adesão e expansão do minimalismo digital, onde menos é mais. Grandes marcas adaptaram suas identidades visuais, grandes plataformas sociais adaptaram seus layouts e grandes sistemas operacionais atualizaram suas interfaces.

Tudo isso para serem capaz de distribuírem informações da maneira que o usuário tanto necessitava: rápido.

O ser humano é uma criatura extremamente apegada à visão e ao longo do tempo fomos aprendendo técnicas para resumir e reproduzir conteúdo visual para o consumo fácil. E é aí que entra o grande tema do Cluster que venho abordar : a videografia.

Screenshot da região onde o Cluster for identificado.

Mas o que é videografia?

VIDEOGRAFIA:

substantivo feminino

Processo que permite transmitir e visualizar, por meio de televisão, mensagens alfanuméricas ou gráficas em uma tela catódica.

Bom, aqui venho tratar da videografia de uma forma mais ampla, visto que atualmente somos capazes de reproduzir mensagens gráficas em diversos tipos de aparelhos digitais, muito além da tela catódica.

E isso nos leva à proliferação de serviços de Stream e a decadência da TV como meio principal de entretenimento audiovisual. Não queremos mais passar pelo ritual de esperar o filme ou a série chegar à TV, queremos poder vê-los em qualquer lugar e depois rever quantas vezes quisermos! Serviços como Netflix e Popcorn Time que além de suprir essa urgência de consumo vieram a crescer em adesão tão rapidamente por conta do preço de custo, visto que um smartphone ou um computador tem muito mais opções de uso além de transmitir videos.

Tão forte foi esse fator que, praticamente, “obrigou” os canais de televisão a aderirem os formatos de conteúdo em stream para não perderem seus telespectadores.

Screenshoot do Globoplay, plataforma de stream da emissora Rede Globo.

Quando mencionamos conteúdos em vídeo logo falamos de filmes, séries e novelas, mas isso ainda é só o começo do tema. É possível consumir tudo por meio de imagens em movimento! E não há como falar de vídeo na internet sem mencionar o Youtube, claro.

Youtube é uma rede social destinada à consumo e compartilhamento de vídeos e já é a segunda maior rede social do mundo com 1,9 bilhões de usuários, quase 1/3 dos usuários que acessam a internet. A plataforma oferece gratuitamente diversos tipos de conteúdos que podem ser acessados de qualquer dispositivo com acesso à internet, possuindo restrições apenas quanto à obras cinematográficas devido à direitos autorais — problema esse que depois foi solucionado com os serviços pagos de stream.

Essa plataforma foi a primeira a atender, e até mesmo gerar, a necessidade de urgência e praticidade no consumo de informações, se tornando o canal aberto das novas gerações. Os vídeos postados no Youtube não tem hora para serem acessados, possuem uma variedade gigantesca de abordagens para todos os gostos, é muito mais pessoal e ainda permite que qualquer um mergulhe nesse universo e seja parte dos produtores de conteúdo e ainda receba dinheiro por isso.

Os que se arriscam à produzir conteúdos para esta rede social vieram a ser conhecidos como youtubers, esses usuários viraram referência para muitos jovens. A prática vem evoluindo sem parar, se tornando até mesmo uma profissão e, devido à concorrência e ostentação no meio, também se tornou o sonho da vida de muitos.

É possível publicar vídeos sobre qualquer assunto, porém não de qualquer maneira.

No início, os vídeos eram o mais básico possível: uma câmera filmando uma pessoa falando sobre algo. Porém isso já ficou muito atrás. Hoje em dia, mesmo que o conceito do vídeo seja esse básico mencionado, há por trás um trabalho minucioso de iluminação, posicionamento de câmera, organização do cenário, etc. Além disso, Youtube se tornou uma plataforma tão grande e acessível que gerou disputa de mercado por conta da audiência, fazendo com que os usuários produtores tivessem que investir na cinematografia de seus vídeos para conquistar audiência pela qualidade e inovação do conteúdo.

Assim, grande parte dos vídeos postados seguem certas tendências e é possível observar um fator predominante entre elas: velocidade. Como já citado anteriormente, a praticidade e a velocidade é o que mais desejamos na hora de consumir informações. Por conta disso, até mesmo os vídeos de humor passaram a acelerar seu processo.

Screenshot do canal de humor Parafernalha.

A piada está nos cortes abruptos, na fala sem pausas, nas expressões rápidas e exageradas, no canal que posta semanalmente vídeos de no máximo 5 minutos e alcança mais de 1 milhão de visualizações em menos de 5 dias. Essa tendência de edição cômica no Youtube é um dos diferenciais de mercado na categoria dos youtubers, nem todos que trabalham com humor na plataforma conseguem se adaptar a esse estilo e esses estão definitivamente ficando para trás.

Se no humor 5 minutos é muito, o que dizer das receitas de cozinha e da produção de peças de arte que, levam horas e até mesmo dias, porém cabem em um vídeo de 3 minutos?

Os famosos speed paintings são exatamente o que o termo significa: pinturas rápidas. Diversos artistas e ilustradores digitais e/ou tradicionais compartilham sue processo de produção de horas em videos que as vezes não chegam a ter 1 minuto, como também artistas plásticos que criam grandes peças de pintura à óleo — que costumam levar semanas — compartilham vídeos de 5 à 10 minutos com o processo. Por parte dos usuários que consomem esse conteúdo especificamente, essa urgência cria uma enorme frustração e ansiedade aos telespectadores que são artistas em formação. Tudo parece muito rápido e fácil, mas apesar de demonstrar o processo, um vídeo de 5 minutos jamais contará toda a trajetória do artista e da peça criada.

Screenshot do canal Tasty.

Outro conteúdo com o atrativo da aceleração de processos, e que nos levará ao próximo tópico, são os vídeos de receita. Canais como Tasty conseguem ensinar receitas complexas em vídeos de 2 minutos, algumas técnicas como os cortes de cena abruptos e as ações por vezes exageradas que são referência nos vídeos de humor rápidos, também marcam presença aqui e funcionam perfeitamente!

E isso tudo fica só no Youtube?

Não!

A técnica de timelapse que é frequentemente usada nesses vídeos foi abraçada por diversas outras redes sociais como Facebook e Instagram. Ambas as redes sociais são extremamente visuais, mas seus focos não vídeos então como aderir aos vídeos em meio à tantos outros conteúdos? Acelerando ainda mais!

A maioria dos canais de Youtube também possuem perfis em outras redes sociais e aprenderam a atrair os usuários das mesmas utilizando os vídeos curtíssimos, como por exemplo o Instagram que possui abertura para vídeos que vão 15 à 60 segundos e fez com que explodisse a ideia dos tutoriais de 50 segundos. No Facebook é possível fazer upload de vídeos bem mais longos, mas isso não quer dizer que esses vídeos serão consumidos já que a média de atenção à vídeos nessa rede social é de 7–15 segundos.

Screenshot do resultado da pesquisa “tutorial” no Instagram, todos com média de 50 segundos.

E considerando essa pressa toda, como garantir que os investidores que publicam conteúdo intelectual e publicitário nessas redes sociais não sairão no prejuízo?

Simples, acelerando ainda mais o processo e pulando etapa onde o usuário play no vídeo. Com a reprodução automática de vídeos nas redes sociais mais utilizadas como Instagram, Facebook, Twitter e Tumblr ficou impossível não assistir, ainda mais com a atualização (não tão recente) que permite os vídeos reproduzirem automaticamente sem som, para não haver nenhum inconveniente ao usuário — que pode ativar o áudio se desejar.

No Youtube ainda não há essa possibilidade, porém já conseguimos ver uma prévia apenas passando o mouse no thumbnail do vídeo desejado. Essa prévia vem quase como um GIF (Graphics Interchange Format ou formato de intercâmbio de gráficos), outra forma de utilizar a imagem em movimento de forma extremamente condensada e que se conecta com o minimalismo e a velocidade da informação, o qual foi e ainda é extremamente presente nas tendências, mas que não vamos nos aprofundar aqui.

Esse cluster se encontra em seu platô da produtividade, grau 5 do Hype Cicle de Gartner, isso significa que a tecnologia já se mantém organicamente e é cada vez mais uma necessidade. Podemos observar isso no Mapa de Tendências quando começamos a conectar uma tendência com a outra, todas elas abordam o vídeo, o GIF e o motion design, etc., em algum aspecto de sua formação e em suas conexões. A previsão é que até 2020, daqui apenas 1 ano, teremos 82% do conteúdo da internet sendo consumido em forma de vídeo.

Temos pressa! Pressa pra mostrar, pra ver, consumir, se conectar, se expressar.

E isso justifica a multidisciplinaridade dos conteúdos em vídeo que temos disponíveis. É quase uma doença coletiva transmitida pelo ar, onde quando menos percebermos já estamos mantendo dezenas de “relações” de amizade por stories do Instagram, aprendendo em uma video-aula de 10 minutos o que não tivemos paciência de aprender em 45 minutos na sala de aula, assistindo em 1 hora e meia a história que levaria 1 semana pra ser lida.

A nossa pressa está em absolutamente tudo, somos inquietos e somos ansiosos. Porém, é exatamente isso que nos fez criar, alimentar e armazenar praticamente toda a história da humanidade e toda nossa cultura em forma de imagens em movimento.

Estamos desenvolvendo um acervo cultural jamais imaginado.

Nós estamos produzindo a videografia de tudo.

Referências:

--

--