Autodestrutividade

Débora V
Tendências Digitais
3 min readNov 24, 2018

A popularização de personagens autodestrutivos é notória e vêm sendo abordada cada vez mais nos últimos anos como forma de representação de um lado mais obscuro da natureza humana. Disseminados através da internet, principalmente através de GIFS, esse arquétipo de personagem pode influenciar a maneira como se compreende algumas facetas do ser humano.

Vindos das mais diversas origens, muitos desses personagens têm visões conturbadas e apresentam conflitos internos que podem se relacionar com o que o espectador experiencia. Por conta disso, assistir esses personagens se torna um exercício de autoconhecimento, já que o observador se transporta para o universo desses personagens, onde muitas vezes a forma como se lida com suas questões autodestrutivas é mais fantasiosa.

Fonte: Movie Sayings

Talvez o fascínio por essa personalidade esteja na suposta complexidade, e seja o motivo de tanta popularização. Pode ser também provindo da associação feita entre os problemas de convivência ou até mesmo internos que o personagem passa com a realidade do espectador, como Laura Mulvey pontua:

O cinema oferece uma gama de possíveis prazeres. Um deles é a escopofilia. Existem circunstâncias em que olhar, em si mesmo, se torna uma fonte de prazer, assim como, na forma inversa, pode existir o prazer em ser visto.

(Laura Mulvey, 1999 — Tradução por Mariana Amara)

A vantagem para indústria de representar esse arquétipo no meio audiovisual está na variedade de possibilidades e níveis de profundidades que pode se obter dentro da narrativa. A personagem Deadpool, do filme Deadpool (2016) por exemplo, expõe diversos conflitos de motivação e moral, o que o torna comportamental e autodestrutivo, mas em nível cômico e satírico. Seu filme exibe um cenário mais leve e por mais que tenha um certo antagonismo, o personagem ainda é carismático e segue a narrativa do herói.

Fonte: GIFER

A personagem Madison Montgomery, pertencente à terceira temporada da série norte-americana American Horror Story, manifesta um outro meio de representação desse tipo de personagem, sendo mais explorada em suas questões comportamentais e a motivação e causa por trás do narcisismo. Ela também está inserida em um contexto mais fantasioso, como o Deadpool, o que promove maior distanciamento entre o universo da tela e a realidade, mas nem sempre isso ocorre.

Personagens como Brandon do filme Shame (2011), que apresenta um homem viciado em sexo lidando com problemas cotidianos, ou Nina de Black Swan (2010), uma bailarina obcecada pela perfeição em seus passos, propõe uma complexidade em seu desenvolvimento muito maior e têm a representação da autodestruição em suas essências.

Fonte: SPDM

Claro que essa diferença no meio de representar ambos se deve também ao fato do meio e do público ser outro (o primeiro é um filme de super-herói, o segundo uma série de suspense, e os dois últimos filmes de drama), mas isso só reforça o grande potencial de aplicação desse arquétipo.

Em tempos onde transtornos mentais são triviais, lidar com os mesmos não é nada simples, e a representação dessa situação com totalidade causa comparação imediata e promove também uma visão externa de dramas pessoais. A representação da autodestruição na mídia audiovisual é, então, realmente inesgotável, e talvez mais do que nunca, necessária.

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