Controle da mente

Rafaela Aparecida
Tendências Digitais
4 min readSep 30, 2018

Aviso: pode conter spoilers de Upstream Color, Inception, The Manchurian Candidate, Oblivion, Men in Black e Total Recall

Provocar uma certa reação ou até mesmo prever um certo tipo de comportamento de um indivíduo faz parte do trabalho de um designer. Utilizando de uma certa paleta de cores é possível transmitir um conceito que atrai um certo tipo de usuário, também é possível causar uma sensação específica, como tranquilidade, com a cor azul. Não só as cores, como a escolha de formas, estilos e até da música faz diferença no momento de criação.

Ainda que seja em uma escala muito pequena, isso é, de certa forma, uma espécie de controle da mente do usuário, uma vez que estamos utilizando recursos que transmitem uma ideia que será inconscientemente consumida pelas pessoas, fazendo com que elas se sintam atraídas por um produto especifico ou se sintam de uma maneira predeterminada.

Alguns filmes de ficção científica acabam levando a ideia de controle da mente muito mais longe do que isso, mexendo diretamente com a mente do alvo para fazê-lo ter um comportamento desejado. Parece muito conveniente poder modificar a forma como outra pessoa pensa e age, mas ao passo que isso é interessante, é também assustador. Talvez seja por isso que essa ideia seja tão fascinante quando representadas pela ficção.

No filme de ficção científica ‘Upstream Color’ (2013), a personagem principal, Kris, é sequestrada por um ladrão que utiliza de uma droga para deixa-la em um estado mental vulnerável e, em conjunto com diversos tipos de distrações elaboradas, manipula sua mente para liquidar todos os seus bens e esvaziar sua conta bancaria. No fim, Kris acaba esquecendo todos os eventos relacionados ao controle de sua mente, no entanto, um ano depois, ela conhece Jeff, que passou por uma experiência similar.

Já em ‘Inception’ (2010), uma equipe que invade os sonhos para roubar segredos do subconsciente acaba recebendo sua missão mais difícil até então: implantar uma ideia na mente de outra pessoa. A ideia é, basicamente, manipular o sujeito para ele agir de uma forma desejada, ou seja, controle da mente. Para isso, eles se utilizam de uma máquina que, conectada a todos eles, incluindo o alvo, permite que eles se infiltrem no sonho e no subconsciente da vítima, dessa maneira tornando possível o controle da mesma.

Cena do filme ‘Inception’ (2010), onde os personagens planejam como implantar a ideia.

Apesar de não ser de ficção cientifica, no filme ‘The Manchurian Candidate’ (1962), o sargento Raymond Shaw retorna, junto com vários soldados, para os Estados Unidos, após terem sido prisioneiros de guerra para a China comunista, e ele é aclamado como herói por salvar a vida do pelotão. Muito tempo depois, é descoberto que o ato heroico foi apenas uma memória implantada e o personagem Shaw teve sua mente manipulada para se tornar um soldado adormecido que, ao comando, se tornaria um assassino infiltrado.

De forma um pouco diferente, e de volta a ficção cientifica, em ‘Oblivion’ (2013), uma inteligência artificial alienígena clona os sobreviventes da raça humana, porém apaga as suas memorias de forma a fazer os clones acreditarem que são seres humanos e que estão trabalhando para lutar pela sua raça contra os alienígenas, quando, na verdade, é exatamente o oposto. Similar a esse conceito, na trilogia de ‘Men in Black’ (1997 / 2002 / 2012), os agentes da MIB se utilizam de um aparelho chamado de neuralizador para apagar as memórias das pessoas e, se desejado, implantar novas em seu lugar e promover um certo comportamento.

Imagem promocional do filme ‘Oblivion’.

Ainda na ideia da manipulação das memorias para controle da mente, em ‘Total Recall’ (1990), que teve um remake em 2012, existe uma companhia chamada de Rekall que oferece serviços de implantação de memorias de viagens e lazer. No entanto, quando o personagem Douglas Quaid visita esse lugar em busca de entretenimento, ele acaba descobrindo que possui lembranças adormecidas. Na realidade, ele é um agente que teve suas memorias apagadas e substituídas por novas que o fazem acreditar que possui uma vida que, na verdade, é falsa. Novamente, uma outra forma de controle da mente.

Cena do filme ‘Total Recall’ (1990).

Ainda que controlar a mente não seja possível atualmente, já existe algo que se utiliza de uma ideia um pouco parecida, mas que na verdade é o oposto, que é controlar outras coisas com a mente. Mesmo sendo básico, a companhia Emotiv, considerada pioneira na área, está pesquisando e produzindo uma tecnologia que permite o ser humano a controlar objetos, como mover uma bola ou apagar a luz, utilizando apenas a mente.

Video sobre a Emotiv e o controle da mente.

No caso da Neurable, uma startup de Boston, está trabalhando no projeto chamado de ‘Awakening’, um jogo onde o jogador utiliza os controles com comandos cerebrais. Na demo produzida pela companhia, o usuário conseguia pegar e arremessar objetos virtuais usando a mente.

Observando esses avanços, talvez seja possível dizer que sejam essas pesquisas e esse fascínio pela mente humana que acabe nos tornando capaz, um dia, de não apenas utiliza-la para controlar outras coisas, mas para controlar ela própria.

Referências:

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