Vídeo chamadas
A câmera frontal, que hoje estamos tão habituados a usar e abusar, só existe por causa de uma ânsia anterior e histórica, de uma realidade onde duas pessoas de lugares diferentes conversem face a face. A jornada tecnológica rumo a isso surge ainda dos filmes espaciais dos anos XX de ficção científica, que somente com artefatos tecnológicos avançadíssimos permitiriam tamanha comunicação e troca de dados sem fio.
Eis que em 2003 os primeiros aparelhos celulares começam a lançar câmeras frontais, mirando mais à video-conferência do que ao auto retrato. Mas outra chegada definitivamente mais impactante pra ascenção da vídeo chamada foi o lançamento do iPhone 4 em 2010 com câmera-frontal. Em um cenário em que o iPhone já estava amplamente aclamado pelo público tecnológico e escalando a aceitação popular, a Apple ainda integrava o mobile na interação com os computadores com webcam da sua linha.
A partir de então, seria questão de tempo para ser cada vez mais comum outros celulares também adotarem essa tecnologia e estarmos nós mesmos conversando e olhando para os nossos familiares, que muitas vezes estarão em outras cidades ou estados, pelas telas dos nossos dispositivos mais pessoais, que estão conosco o tempo todo. Seis anos depois da Apple lançar o FaceTime, já temos seriados da TV americana que, por estarem contextualizados em contextos contemporâneos, abordaram essa nova forma de manter contato.
Essa tendência exige que nos atentamos para os impactos que isso têm nos nossos conceitos de “manter contato” e no quão presente pessoas distantes podem estar nas nossas vidas. Passar a poder ver o que antes só podíamos ouvir pode também nos escancarar uma realidade que não queremos conhecer. Um bom exemplo desse mau uso é a nudez indesejada e escancarada em sites de chat pela webcam com estranhos de todo o mundo (Chatroulette e Omegle). Mas apenas daqui a alguns anos saberemos os reais impactos de termos colocado a webcam nos nossos bolsos.
Em contraste, também possibilita mais pessoas se comunicarem, como a população surda, por exemplo, além de todos os incontáveis benefícios que somente o contato visual proporciona. Estando mais difundida e presente na vida das pessoas, combate-se o estigma de que a tecnologia afasta as pessoas. E ainda há espaço para avanço, pois a ficção científica continua desafiando e exigindo do desenvolvimento tecnológico.
