O aumento de ‘vídeos sem dono’ no nosso cotidiano

Guilherme Müller
Tendências Digitais
4 min readMar 18, 2016

Já faz algum tempo que, ao entrar em uma rede social, Facebook principalmente, se recebe uma torrente de conteúdo, sejam eles imagens, videos, ou o que for. Enquanto se passa pelo feed sem fim, aparece um certo vídeo. Ele é engraçado, impressionante, ou algo do gênero. O usuário da um like nele, e por vezes na página que o compartilhou, por ela ter vários vídeos semelhantes. E em muitos casos, nem se percebe que, a página, que está recebendo toda a atenção por esse conteúdo que o usuário tanto gosta, não teve nada a ver com a produção dele. Os donos de tais páginas chamam isso de “ Centralização de conteúdo “, uma palavra bonita para disfarçar o que realmente estão fazendo, usando o conteúdo de terceiros, sem autorização, para promover-se (e em certos casos, lucrar encima disso).

Não é algo atual, mas que tem crescido ultimamente. Essa tendencia pode ser notada na quantidade de páginas de Facebook sobre Vines (Vine é um popular aplicativo para mobile que permite ao usuário criar um video de 6–7 segundos, e enviá-lo para a rede social do aplicativo). Essas páginas simplesmente fazem postagens repetidas de diversos videos baixados do Vine, e enquanto existem algumas que realmente apenas centralizam o conteúdo, dando os devidos créditos aos criadores, ou compartilhando as próprias postagens deles direto pelo Vine, existe um grande número dessas que apenas os posta e na descrição de seu post pedem pelo like do usuário, ou promovem outra página sua.

Uma rápida pesquisa no Facebook mostrou apenas algumas dessas páginas. Notem a quantidade de likes.

A centralização do conteúdo em si, mesmo quando devidamente creditado, trouxe para a vida das pessoas uma enorme quantidade de videos diariamente, vários risos, suspiros de emoção e outras reações divididos entre vários criadores de conteúdo diversos. Porém, essa atenção e apreciação que o conteúdo recebe, não vai toda para os artistas. Vai para as páginas que “promovem” esse conteúdo, quando na verdade o usam para promover a si mesmas, prejudicando os criadores cada vez mais, e assim os desmotivando de melhorar com o tempo e criar conteúdo de melhor qualidade. Existem pessoas que se sustentam com o conteúdo que criam na internet, o que torna isso muito mais do que só uma questão de devida atenção por devido esforço.

Essa facilidade que é criar uma central de conteúdo na internet foi o que possibilitou o nascimento dessa onda. E é devido a essa mesma facilidade que a quantidade dessas “centrais de conteúdo” é tão alta. Porém, com o novo sistema de monetização do Facebook, logo essas páginas não estarão apenas roubando atenção com conteúdo de terceiros, estarão lucrando encima disso.

E não seriam as primeiras pessoas a fazerem isso. A notória cadeia de canais do Youtube “SoFlo” lucra encima de conteúdo roubado a um bom tempo. Por volta de 30 mil dolares mensais, de acordo com um vídeo do canal “h3h3 productions”, canal este que inspirou este artigo, não só por expor o esquema da cadeia de canais “SoFlo”, como também mostrar essa tendência de aproveitamento de “vídeos sem dono”. Sem dono, por que raramente damos atenção a quem REALMENTE o fez. Pode-se notar o quanto deixamos de ligar para quem criou o conteúdo quando nos é perguntado “ Onde você achou esse vídeo? “ e a resposta é “ Apareceu no meu feed “.

Por mais invisível que pareça ser essa tendência, ao sabermos de sua existência, passamos a prestar maior atenção em seus efeitos. E talvez seja essa atenção que possa ajudar criadores de conteúdo a contra-atacar. Não é impossível encontrar a fonte de um vídeo aleatório no facebook, mas pode dar muito trabalho, dependendo da situação. E por que não pode existir um serviço para ajudar nesse quesito? Não muito tempo atrás, as pessoas achavam impossível encontrar a fonte de uma imagem que alguém os mandou pela internet, e hoje temos a possibilidade de jogar essa imagem no Google, para procurar outros lugares onde ela pode ser encontrada, facilitando a busca pela fonte. Seria possível também colocar o trecho de um vídeo em um site de busca para o mesmo fim? Pelo bem da comunidade criativa que vê na internet uma chance de se sustentar fazendo o que ama, um projeto que prove essa possibilidade seria algo animador. Pois o trabalho posto em criar algo com a possibilidade de trazer alegria e divertimento para as pessoas não deveria ser desmerecido da forma que está sendo.

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