O aumento de ‘vídeos sem dono’ no nosso cotidiano
Já faz algum tempo que, ao entrar em uma rede social, Facebook principalmente, se recebe uma torrente de conteúdo, sejam eles imagens, videos, ou o que for. Enquanto se passa pelo feed sem fim, aparece um certo vídeo. Ele é engraçado, impressionante, ou algo do gênero. O usuário da um like nele, e por vezes na página que o compartilhou, por ela ter vários vídeos semelhantes. E em muitos casos, nem se percebe que, a página, que está recebendo toda a atenção por esse conteúdo que o usuário tanto gosta, não teve nada a ver com a produção dele. Os donos de tais páginas chamam isso de “ Centralização de conteúdo “, uma palavra bonita para disfarçar o que realmente estão fazendo, usando o conteúdo de terceiros, sem autorização, para promover-se (e em certos casos, lucrar encima disso).
Não é algo atual, mas que tem crescido ultimamente. Essa tendencia pode ser notada na quantidade de páginas de Facebook sobre Vines (Vine é um popular aplicativo para mobile que permite ao usuário criar um video de 6–7 segundos, e enviá-lo para a rede social do aplicativo). Essas páginas simplesmente fazem postagens repetidas de diversos videos baixados do Vine, e enquanto existem algumas que realmente apenas centralizam o conteúdo, dando os devidos créditos aos criadores, ou compartilhando as próprias postagens deles direto pelo Vine, existe um grande número dessas que apenas os posta e na descrição de seu post pedem pelo like do usuário, ou promovem outra página sua.
A centralização do conteúdo em si, mesmo quando devidamente creditado, trouxe para a vida das pessoas uma enorme quantidade de videos diariamente, vários risos, suspiros de emoção e outras reações divididos entre vários criadores de conteúdo diversos. Porém, essa atenção e apreciação que o conteúdo recebe, não vai toda para os artistas. Vai para as páginas que “promovem” esse conteúdo, quando na verdade o usam para promover a si mesmas, prejudicando os criadores cada vez mais, e assim os desmotivando de melhorar com o tempo e criar conteúdo de melhor qualidade. Existem pessoas que se sustentam com o conteúdo que criam na internet, o que torna isso muito mais do que só uma questão de devida atenção por devido esforço.
Essa facilidade que é criar uma central de conteúdo na internet foi o que possibilitou o nascimento dessa onda. E é devido a essa mesma facilidade que a quantidade dessas “centrais de conteúdo” é tão alta. Porém, com o novo sistema de monetização do Facebook, logo essas páginas não estarão apenas roubando atenção com conteúdo de terceiros, estarão lucrando encima disso.
E não seriam as primeiras pessoas a fazerem isso. A notória cadeia de canais do Youtube “SoFlo” lucra encima de conteúdo roubado a um bom tempo. Por volta de 30 mil dolares mensais, de acordo com um vídeo do canal “h3h3 productions”, canal este que inspirou este artigo, não só por expor o esquema da cadeia de canais “SoFlo”, como também mostrar essa tendência de aproveitamento de “vídeos sem dono”. Sem dono, por que raramente damos atenção a quem REALMENTE o fez. Pode-se notar o quanto deixamos de ligar para quem criou o conteúdo quando nos é perguntado “ Onde você achou esse vídeo? “ e a resposta é “ Apareceu no meu feed “.
Por mais invisível que pareça ser essa tendência, ao sabermos de sua existência, passamos a prestar maior atenção em seus efeitos. E talvez seja essa atenção que possa ajudar criadores de conteúdo a contra-atacar. Não é impossível encontrar a fonte de um vídeo aleatório no facebook, mas pode dar muito trabalho, dependendo da situação. E por que não pode existir um serviço para ajudar nesse quesito? Não muito tempo atrás, as pessoas achavam impossível encontrar a fonte de uma imagem que alguém os mandou pela internet, e hoje temos a possibilidade de jogar essa imagem no Google, para procurar outros lugares onde ela pode ser encontrada, facilitando a busca pela fonte. Seria possível também colocar o trecho de um vídeo em um site de busca para o mesmo fim? Pelo bem da comunidade criativa que vê na internet uma chance de se sustentar fazendo o que ama, um projeto que prove essa possibilidade seria algo animador. Pois o trabalho posto em criar algo com a possibilidade de trazer alegria e divertimento para as pessoas não deveria ser desmerecido da forma que está sendo.