O vale da estranheza

Rubens Beraldo Paulico
Tendências Digitais
3 min readSep 30, 2016
Uncanny Valley, aquilo que parece e age como ser humano, mas não o suficiente para ser reconhecido como um ser humano.

Vale da Estranheza, conhecido também como "Uncanny Valley" em inglês, é um termo criado nos anos 70 por Masahiro Mori e publicado no journal Energy. Sua teoria, no ramo de estudos de robótica, descreve a reação de repulsa que o ser humano tem ao observar um objeto ou criatura que se assemelhe muito à um ser humano mas que, perceptivelmente, não o é.

R2D2 e C3PO, os icônicos robôs de Star Wars (1977). Um robô totalmente mecânico, outro com uma silhueta humanóide.

Para evitar o efeito do Vale da Estranheza alguns filmes mantém apenas algum aspecto humanóide (C3PO de Star Wars, Maria de Metropolis, Baymax de Big Hero 6).

WALL-E, design de personagem que transforma câmeras robóticas em olhos expressivos
T-800, de O Exterminador do Futuro (1984). Efeitos visuais começam a ser utilizados para mesclar feições humanas e partes robóticas.
Ava, de Ex Machina. Quando o Vale da Estranheza é usado para questionar o que torna algo humano.
A.I. — Robôs e a Síndrome de Pinocchio. "Quero ser um humano de verdade"

Outra forma que filmes acharam para retratar robôs expressivos, mas sem assemelhá-los o suficiente à um ser humano para evitar o Vale da Estranheza, é o uso de Pareidolia, que são estímulos vagos e simples que "enganam" o cérebro, causando a sensação de enxergar um rosto. Assim, os filmes adicionavam pequenos detalhes em criaturas completamente mecânicas (WALL-E, Chappie) para torná-las expressivas.

Conforme os efeitos visuais avançaram, surgiram novas ideias na industria do entretenimento: mesclar humanidade e automatização robótica intencionalmente.

Usada em filmes em que robôs são vilões. Essa "estranheza" gerada pelo Uncanny Valley fortalece a sensação de perigo e terror causado por um inimigo que exteriormente é humano e que poderia passar despercebido na multidão, mas que certamente não é humano.

Nos últimos anos no entretenimento surgiram questionamentos sobre o que diferenciaria uma máquina criada para simular um humano e um humano genuíno. Se antes robôs eram claramente criaturas mecânicas, ou se apenas se disfarçavam como humanos mantendo sua natureza fria e exata, agora está em alta os robôs que questionam, os que trazem perguntas ao invés de ameaças. O que faz com que algo que se parece como humano e age como humano não seja considerado humano?

A narrativa de uma réplica humana ansiando por se tornar genuína não é recente. Desde o mito de Pigmalião e Galatéia até Pinocchio. No entanto, atualmente os efeitos visuais digitais são capazes de mesclar visualmente o ser humano com a máquina, e, com essa habilidade, estão buscando explorar mais essa narrativa.

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