O branded content como atitude da marca

Inovação em Jornalismo
Tendências no Jornalismo
5 min readNov 20, 2018

Uma nova ferramenta de marketing construindo relações mais duradouras entre marcas e consumidores

Isabel Povineli

A publicidade está passando por mudanças profundas, deixando para trás os formatos e linguagens tradicionais e abrindo espaço para conquistar um consumidor mais conectado, ativo e questionador.

Conexão é a palavra chave nesse momento, pois as pessoas nunca estiveram tão conectadas com outras pessoas, lugares, idéias e marcas. Mais engajada, empoderada e exigente, a sociedade impõe novas demandas e desafios para o consumo de mídia. Isso traz um grande desafio e oportunidades para as marcas desenvolverem formatos que encantem a audiência e fortaleça o envolvimento com a marca.

Segundo Henri Jenkins (2015), no livro Cultura da Conexão, “hoje, as pessoas não se limitam ao simples papel de consumidor. Discutem, reagem, espalham seus interesses e críticas pelas diferentes modalidades de mídia. Querem ser ouvidas, atendidas, recompensadas. Entre as muitas possibilidades dessa cultura cada vez mais ligada em rede, há pelo menos uma grande certeza — será mais bem-sucedido quem souber lidar melhor com as aspirações e desejos de um público ávido por participar e opinar”.

É nesse cenário que surge o branded content — definido por Luisa Medeiros (2017), como a ação de uma marca para ganhar afinidade com o público por meio da geração de conteúdo de forma espontânea.

Segundo Caio Túlio Costa (2014), no relatório Um modelo de negócio para o jornalismo digital, afirma que apesar do tema ser polêmico, a venda de conteúdos patrocinados, existe há tempos em jornais e revistas impressas, seja como “Publi Editorial”, Anúncio Pago”, “Native Ads” ou “Matéria Paga”, entre outros.

As empresas de mídia criaram seus próprios estúdios de conteúdo para suprir a demanda do mercado anunciante. Ainda segundo Caio Túlio, o The Washington Post criou o WP BrandedConnect, o Gawker Media criou o Studio Gawker. No Brasil, temos o MediaLab do Jornal Estado de SãoPaulo, a Editora Abril possuiu o Estúdio ABC, a Editora Três tem o Núcleo Três de Conteúdo, entre outros exemplos.

Com uma narrativa inovadora, capaz de contar histórias através dos seus propósitos, o brandes content, chamado também de conteúdo de marca, abriu espaço para as marcas desenvolverem conteúdos diferenciados, tendo o gênero jornalístico como aliado importante.

A pesquisa Content Management & Strategy Survey, desenvolvida pelo Content Marketing Institute (CMI) com cerca de 400 anunciantes americanos, deixa claro o potencial dos projetos de conteúdo de marca. A grande maioria dos clientes — 92% — afirma que sua empresa valoriza esse tipo de comunicação como um business asset –ativo de negócios que impacta diretamente o ganho de valor de uma companhia ao longo do tempo. Para as empresas, adotar essa narrativa — branded content — é estratégico para quem quer ter sobrevida em seus mercados.

Porém, afirma Patrícia Weiss, especialista em branded content, “essa modalidade não é e nem nunca será publicidade”, e concluiu que enquanto a publicidade vende um produto de forma intrusiva e interruptiva, o branded transmite conteúdo relevante e útil, que envolve, engaja e entretêm a audiência. “Publicidade é a marca falando sobre ela mesma, branded se refere às pessoas e o que interessa a elas (apud RAMOS, 2017).

A performance bem-sucedida do branded content levou os anunciantes a repensar suas inserções no mercado de mídia tradicional, deixando de lado seu foco voltado apenas para investimentos em publicidade para criar uma linguagem própria, proporcionando à marca um “momento editorial”.

O maior beneficiário disso é o consumidor, que tem a oportunidade de estabelecer um novo relacionamento com suas marcas por meio de um conteúdo de alta qualidade e relevância.

Porém, essa convergência entre linguagens, precisa estar bem delimitada para o consumidor. A marca tem que se posicionar claramente como sendo a patrocinadora daquele conteúdo. Só com transparência é que as marcas podem construir relações sólidas com seus consumidores, propagando histórias que confirmem suas causas e seus significados.

Para Adilson Xavier (2015), no livro Histórias que Deixam Marcas, existe uma disputa por atenção, tanto do entretenimento quanto das marcas. Em um mundo em que todo mundo é mídia, quem contar a melhor história se destaca.

A revolução está acontecendo. Então, de que forma captar a atenção dessas pessoas?

“Produza conteúdo relevante para seu target que você não precisará gastar uma fortuna tentando apenas cercá-lo, interrompê-lo, impactá-lo. Ele virá por conta própria atraído por este conteúdo irreversível” (Santa Helena; Pinheiro, 2012, p. 69).

Foi isso que o Bradesco fez no período das Olimpíadas, envolvendo o consumidor com histórias emocionantes de superação e inclusão social através do esporte. A ação ocorreu durante o período dos jogos, onde a cada semana na Revista Istoé, a história de um atleta era contada de forma envolvente, fazendo o leitor participar daquela história de superação. A marca Bradesco aparecia como “oferecimento”, deixando transparente para o leitor que aquele conteúdo era patrocinado.

Exemplo de Branded Content do Bradesco, publicado na revista IstoÉ, edição jul. 2016

Branded Content, portanto, evolui cada vez mais no cenário publicitário como uma ferramenta de conexão eficaz na construção de relações sólidas entre consumidor e marca, gerando relações duradouras e de confiança.

Referências

COSTA, Caio Túlio. Um modelo de negócio para o jornalismo digital. Columbia Journalism Review, Revista de Jornalismo ESPM, n. 9, 2014.

JENKINS, Henri; GREEN, Joshua; FORD, Sam. Cultura da Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. São Paulo: Editora Aleph, 2015.

MEDEIROS, Luisa. O futuro do Brand Content: cases Coca-Cola e O Boticário. Revista Exame, 28 fev. 2013.

RAMOS, Mariana. Branded Content não é e nem nunca será publicidade. ADNEWS, 03 out. 2016.

SANTA HELENA, Raul; PINHEIRO, Antonio Jorge Alaby. Muito além do Merchan: como enfrentar o desafio de envolver as novas gerações de consumidores. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2012.

TURLÃO, Felipe. Content marketing chama a atenção de empresas e transforma agências. PROPMARK, 14 fev. 2018.

VAZQUEZ, Rafael. Strotytelling e Branded Content provocam a propaganda. PROPMARK, 30 out. 2015.

XAVIER, Adilson. Histórias que Deixam Marcas. Rio de Janeiro: Editora Best Business, 2015.

Isabel Povineli, publicitária, com pós graduação em Propaganda (ESPM) e Especialização em Marketing (FVG), atua no segmento de mídia impressa há mais de 30 anos. Aluna do Mestrado da ESPM, pesquisando Branded Content como uma nova ferramenta narrativa.

--

--

Inovação em Jornalismo
Tendências no Jornalismo

Projetos desenvolvidos na disciplina “Inovação, Tecnologia e Sociedade” do Mestrado Profissional em Produção Jornalística da ESPM-SP