Nossa casa já não é mais como era antes

Mudanças na sociedade que vieram para ficar?

Marden Rodrigues
Tendências pós pandêmicas
16 min readJul 11, 2020

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Bem vindo(a) de volta! Essa série de textos é para você que está conversando muito mais com as plantinhas agora do que antes da pandemia. Para você que comprou um curso online de desenho na promoção para ocupar o tempo, mas nunca começou. Para você que passou por aquela fase de neurose na quarentena em que bastava por o pé fora de casa para ir ao mercado que já se sentia febril e com vontade de tossir.

Estamos todos no mesmo barco, querido(a)! Então que a gente pelo menos tire o pó do mastro e dê aquela passada de óleo de peroba na proa, não é mesmo? Essa é justamente a lógica que deu início à macro tendência que abordarei neste texto: o novo papel da casa.

Se você não leu a parte 1 ainda (onde falo sobre o custo da certeza), clique aqui.

Espero, sobretudo, que você esteja bem. :) Vamos nessa!

Macro tendência 2: o novo papel da casa

Aquilo que é mais familiar tende a ser mais valorizado, por representar maior segurança. Isso é o que vimos no texto anterior. Mas… O que é mais familiar do que o nosso próprio lar?

Repentinamente, o mundo inteiro teve que se isolar o máximo possível em suas casas, o que gerou efeitos diversos no nosso comportamento e na forma como a enxergamos. Parafraseando o que apontam os estudos da Consumoteca sobre o consumidor nesse momento, parece que estamos vivenciando um conflito interno entre a parte de nós que enxerga a casa como privação e a outra que a vê como prevenção.

E se é para aceitar a realidade, ter paciência e se isolar, por que não fazer pequenas modificações no nosso cantinho para que nosso dia a dia seja mais confortável e a gente ocupe a mente com coisas que vão nos fazer bem? No processo de adaptação, muitas pessoas pensaram isso, como vemos abaixo.

Investindo no cantinho

Segundo dados compilados pelo relatório “O legado da quarentena para o consumo”, do BTG Pactual, os sites das lojas Coral e Suvinil registraram 1,4 milhão de acessos entre fevereiro e março de 2020, um aumento médio de 6%.

As buscas por “como pintar uma parede” cresceram 56% desde o início da quarentena. Materiais de construção também apresentaram um aumento expressivo de, em média, 35%, em especial em decorrência das buscas por “tinta de parede”, que aumentaram em 61%.

“Ora, mas por que estamos discutindo sobre algo que já aconteceu em um texto sobre o que ainda vai acontecer?” — Ora, porque…

Você já ouviu falar na ideia de que o melhor investimento de todos está na educação, porque não tem como tirá-la de você? Então. Essa lógica é útil para entender meu ponto aqui. A atitude de desenvolver uma habilidade nova nos permite desfrutar dos resultados dela ao longo do tempo. É como um super poder que a gente ganha. Um ativo intangível precioso.

Com isso, quero dizer que, pessoas tendo bons resultados em suas tentativas de reforma com base no que aprenderam na internet:

  1. Reforçam a tendência de aprendizagem autodirigida na internet e a existência de cursos online dos mais diversos assuntos (falarei mais sobre isso no próximo texto);
  2. Fortalecem o movimento “faça você mesmo” que já é altamente acessado através de criadores de conteúdo no Youtube e outras plataformas, aumentando a autonomia das pessoas e reduzindo a demanda por serviços domésticos mais simples que geralmente são fornecidos por profissionais autônomos.

Perceba que extrapolo intencionalmente os efeitos de um ato isolado para o todo para que possamos enxergar as possibilidades não apenas de uma atitude individual, mas o potencial de alcance dela caso seja adotada massivamente.

Vou dar mais um último exemplo.

Se você me acompanha no meu Instagram, deve ter visto que eu reformei meu quarto, sendo que eu nunca tinha pintado uma parede sequer na vida. Minha renda caiu drasticamente com a pandemia, então reduziu mais ainda minhas possibilidades financeiras de pagar por uma mão de obra qualificada (sem falar na questão do risco para ambas as partes ao desrespeitar o isolamento). Então, era basicamente aprender por mim mesmo e por a mão na massa (literalmente) ou aceitar meu incômodo com as paredes com a tinta envelhecida e manchada.

Acabou que decidi agir e até me empolguei. Não pintei apenas paredes, mas também móveis e porta de madeira e uma porta de ferro. Tudo assistindo vídeos no Youtube. Se liga no antes e depois:

Agora… E se eu te dissesse que, com os equipamentos certos, dá para pintar uma parede desse jeito com menos de R$70? Pois é. Nessa jornada de aprendizagem, também me dei conta de que os materiais de construção para fazer algumas coisas bem legais poderiam ser mais baratos do que eu imaginava. (Caso queira saber mais, eu gravei vários stories ensinando qual foi o passo a passo e deixei no Destaque “Reforma Barata” no meu Instagram, é só ir até lá).

Com isso tudo, quero te ilustrar que a confiança e o conhecimento que adquiri para fazer essas mudanças por conta própria me permitem cogitar fazer muitas outras aqui em casa aprendendo do mesmo jeito no futuro.

Nosso cantinho é nosso templo ❤

Brincadeiras à parte, uma ressalva importante de enfatizar é que estou me referindo a obras pequenas e superficiais, ok? Pintura de parede, reforma e confecção de móveis ou itens de decoração simples, essas coisas. Não acredito que a mesma tendência se reproduz para desafios mais complexos como, por exemplo, questões hidráulicas e elétricas da casa, que demandam um conhecimento muito mais técnico.

Agora vamos falar de comida, porque também rolou aprendizagem aqui.

A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e cura

A alimentação também foi vista como uma fonte de saúde. Na quarentena, pesquisas do tipo “como aumentar a imunidade do corpo” cresceram em 130% no início da pandemia, com consultas relacionadas a frutas, plantas, sucos e vitaminas. Segundo o relatório “O consumidor pós COVID”, da McKinsey, cerca de 60% dos consumidores estão consumindo mais produtos frescos ou não industrializados durante a crise comparativamente a antes.

Mas, calma, não se sinta mal se você só tem comido besteira. Eu também não tô nesses 60% aí.

Sinceramente, acho que a gente deve se alimentar bem sempre. Só que dessa vez, a gente ficou meio maluco e foi apelando pra tudo… O que, convenhamos, não é de se surpreender. Afinal, teve até presidente falando para injetar desinfetante para combater o coronavírus.

Que fome é essa que bateu de repente?

Com o aumento de interesse por receitas caseiras, surge a necessidade das pessoas por eletrodomésticos e acessórios de cozinha. Lava-louças e mini forno elétrico, por exemplo, tiveram uma média de 160% de aumento nas buscas segundo pesquisa do BTG Pactual.

Então, não, não é coincidência que você esteja vendo vários preços de utensílios e eletrodomésticos aumentando de preço. Parece que a demanda tem sido realmente maior do que nos últimos tempos (sem falar na influência da alta do dólar). Caso não seja uma compra urgente, talvez seja mais positivo para as suas finanças aguardar um pouquinho.

Ah, também vale comentar que não é de se espantar que suas despesas no supermercado tenham aumentado nesses últimos meses. Isso acompanha a tendência de menor consumo fora de casa e talvez se mantenha assim mesmo pós pandemia. É uma transferência, ainda que não proporcional (já que a maioria de nós tem muito menos dinheiro disponível para gastar e precisa focar no que é extremamente necessário).

O que é a vida? A vida é você encontrar o que fazer entre as refeições.

— Rita Lobo (programa Provocações)

Nós também passamos a consumir mais o delivery. Mesmo pessoas que nunca o tinham feito antes da pandemia (como algumas pessoas na melhor idade) e até para coisas que nunca tinham nos motivado antes (como para fazer as compras do mês). Mas vou falar melhor sobre as implicações disso no próximo texto (sobre virtualização onipresente) e no último (sobre a espiral do dinheiro, onde abordarei mais as desigualdades e implicações na vida financeira).

O ponto mais importante de reforçar aqui é que o novo papel da casa implica em mudanças na forma como nos alimentamos. Ora se habituando a cozinhar mais vezes e de forma mais saudável, ora pedindo para entregarem aquele açaí de 700ml com calda de morango e paçoca. Trabalhadores que utilizam a comida como válvula de escape, uni-vos!

DELÍCIA

Fico feio nunca?

Com o fechamento temporário de salões de beleza feminina e barbearias, as pessoas precisaram recorrer a dicas na internet para se manterem com a mesma aparência física, ficando mais dispostas a comprar utensílios deste segmento.

À medida em que se passaram as semanas da quarentena, houve um aumento de interesse (cerca de 65% entre fevereiro e abril) dos internautas por “máquina de cortar cabelo”. Eu tô nesses 65% aí, quase raspei a cabeça. “Como fazer sobrancelha em casa” teve um aumento de 1150%, escova rotativa 300% e comprar tinta (para cabelo) 160% em abril.

A questão da auto estima, em si, já é muito delicada. Reclusão e isolamento, portanto, não seriam exatamente bons ingredientes para lidar com ela. Com o propósito de cuidar de si e sentir-se bonito(a), muita gente teve que dar um jeitinho em casa mesmo.

No entanto, ir a um salão de beleza ou barbearia vai muito além dos benefícios estéticos (e aqui vai minha opinião pessoal, exclusivamente). É um prazer a mais ser cuidado. Além disso, você acaba fazendo amizade com as pessoas que trabalham ali e valoriza o laço que constrói com elas com o tempo. Quer ajudar. Não tenho dados para embasar isso, mas acredito que a tendência não é que esses serviços passem a ter uma demanda menor e sim que todos estão ansiosos para que as coisas se estabilizem logo para voltarem às suas rotinas de embelezamento de antes.

Isso sem falar nas tentativas falhas que fizemos com nossos cabelos, por exemplo, que nos mostraram que deixar o negócio bonito não é tarefa de amador.

Era só uma aparadinha

Mas, há alternativas! Um serviço recente é o telecorte. Na prática, um(a) cabeleireiro(a) te guia por uma vídeo conferência sobre como deve realizar seu corte de cabelo. Isso permite que o(a) cliente consiga evitar alguns erros clássicos e também ajuda os profissionais da beleza a gerarem renda nesse momento tão conturbado. Se não tá ligado(a), dá uma olhadinha entre os conhecidos se alguém está oferecendo.

Só reabro [o salão] quando o Atila deixar.

— Cami Macek (cabeleireira em referência ao biólogo Atila Lamarino, influenciador ativo sobre as precauções contra o coronavírus)

Minha lombar pede socorro

As pessoas que puderam também tiveram que adaptar suas casas para criar um espaço de trabalho, o que acabou aumentando o interesse por acessórios e alguns equipamentos de trabalho durante a quarentena. Em relação a cadeira para home office, o aumento nas buscas foi de 280%, mas mesa para home office (247%) e monitor extra (25%) também sofreram aumentos repentinos.

Portanto, se as suas costas doeram e você pensou que deveria ter uma cadeira melhor para trabalhar em casa, não se sinta sozinho(a). As cadeiras de escritório, em especial, tiveram um salto nunca antes visto de buscas no Google e seu preço médio realmente aumentou nos últimos meses.

Buscas por “cadeira de escritório” no Google nos últimos cinco anos. Google Trends.

Para aqueles que já tinham alguma “casa de veraneio”, sítio ou algum lugar fora das grandes zonas urbanas e mais perto do mato para onde fugir, foi bem mais fácil também. Afinal, nesses lugares, há até uma liberdade maior em relação à coisas que você pode fazer fora de casa pelo número reduzido (ou inexistente) de infectados. É o famoso home office dando lugar para o inovador home forest. (Eu preciso aprender a evitar essas piadas ruins).

Porém, cerca de 20% das vagas de trabalho hoje em dia podem de fato ser realizadas de forma remota, o que permite que as empresas tenham certa flexibilidade para entregar imóveis que já não serão mais utilizados, reduzir custos e manter o home office por tempo indeterminado.

Sendo assim, se o lugar de trabalho for, de fato, qualquer lugar, algumas famílias cogitarão a mudança definitiva para fora dos centros urbanos. Se realmente víssemos uma sociedade se movimentar para fora das grandes cidades, isso poderia causar efeitos, como:

  1. Aquecimento de economias locais no interior;
  2. Geração de empregos pelo aumento na demanda por produtos e serviços;
  3. Redução da pegada ecológica do país, caso essa mudança de região também carregue uma mudança de hábitos de consumo para a sustentabilidade.

Mas é evidente que não são apenas efeitos positivos. Êxodo urbano é um assunto muito mais complexo do que eu tenho conhecimento para abordar. E, apesar de ser, sem dúvida, um reflexo da redefinição de prioridades de algumas famílias, estamos falando de famílias de mais alta renda. (Fique tranquilo(a) pois ponderarei essas tendências a partir da ótica da desigualdade no último texto).

Calma, porque quem cultiva a semente do amor segue em frente e não se apavora. Se na vida encontrar dissabor, vai saber esperar a sua hora.

Olhando por um outro lado muito menos bonito, muitos dos trabalhadores que estão de home office relatam aumento do estresse. E não é para menos. Com todo esse movimento, tivemos que observar diversos domínios da vida coexistindo num mesmo espaço: trabalho, família, relacionamento, etc.

E é por isso que precisamos falar sobre hiper convívio.

Os delírios de um hiper convívio

Relações familiares dentro de casa receberam uma certa lente de aumento, o que acentuou aspectos positivos e negativos da convivência. Aliás, cê sabia que cada residência no Brasil tem, em média, aproximadamente 3 pessoas?

O pai saiu pra trabalhar durante a pandemia. A vó e a mãe são do grupo de risco, a filha é a única que conseguiu fazer home office e tá puta da vida com o irmão que desrespeitou o isolamento pra ir pra uma festa. A neta tá brincando como se não houvesse amanhã e todo mundo dando graças a Deus que pelo menos em crianças esse negócio não pega direito. “Se alguém pega esse tal desse vírus nessa família, vai lamber todo mundo”, pensa a filha já na base do floral.

Tratando-se do horizonte do home office propriamente dito, o maravilhoso Porta dos Fundos, na sua série “Trabalhando em casa”, foi perfeito em refletir a realidade de muitas pessoas.

Na relação entre pais/mães e seus filhos, rolou a necessidade (e oportunidade) de acompanhar de perto seu crescimento e educação, mas também foi difícil desenvolver a capacidade de lidar com diferentes domínios da vida — pessoal e profissional — coexistindo no mesmo espaço. Para muita gente, é simplesmente um inferno e quase uma missão impossível se concentrar em um ambiente tão dinâmico, barulhento e onde você é tão requisitado: esses são os pais de crianças pequenas, principalmente.

Oi, bom dia Renato, meu nome é Carolina, sou analista de planejamento aqui na…Calma aí, só um bocadinho. MIGUEL, SOLTA ISSO MIGUEL, SE EU FOR AÍ VOCÊ VAI VER!

— Carolina, mais uma home officer mãe de criança pequena

Mas até que, passado um período de adaptação, ouvi algumas histórias bem sucedidas dos combinados em família sobre horas para cada coisa. :)

Entre os cônjuges, sabemos que na China houve recorde de solicitação de divórcios. Entre os namorados aqui, término para tudo quanto é lado também que eu tô ligado. Mas isso é só a ponta do iceberg… Infelizmente, também tivemos um aumento da violência contra a mulher e um crescimento do abuso físico e sexual de menores. Inclusive, no final de junho, a ONU divulgou um relatório com uma informação chocante: no Brasil, 1 a cada 4 meninas se casam antes dos 18 anos.

Se você tem o mínimo de empatia, já sentiu uma pontada no coração lendo isso. Então aproveite o tempo de proximidade para redobrar a atenção nas pessoas (familiares e vizinhos). Nesse tipo de coisa, a gente mete a colher sim.

Mas também há pontos positivos. Esse momento de adaptação na educação para o ensino remoto e os desdobramentos gigantescos na rotina e exaustão dos professores permitiu que os pais finalmente tivessem mais dimensão do quanto é complicado dar conta da educação de seus filhos.

Não é a toa que 77% deles acham que os professores devem ganhar mais. Isso também se estende para os alunos de rede pública. Ainda que com mais dificuldades, 74% dos alunos receberam atividades não presenciais. Quem sabe não tiramos disso tudo um legado para cuidar mais dos nossos docentes?

Acho que, prioritariamente, esse é um momento de aprendermos juntos a cuidar do outro.

— Luemy Ávila (professora no Rio de Janeiro)

E o “hipo convívio”? (Inventei essa palavra agora, tá, gente?)

Sem dúvida, para aqueles que conseguiram nutrir boas relações dentro de casa durante o isolamento, a barra ficou menos pesada de suportar. Afinal, você interage e consegue alimentar um pouco da essência social do ser humano.

Mas e para aqueles que moram sozinhos? Como fica?

Estar sozinho é muito diferente de sentir-se solitário. Mas foi difícil não passar pelos dois nesse momento. Sem dúvida, a sensação de habitar uma cidade fantasma dentro dos muros da própria casa provocou reflexões importantes sobre aquilo que precisa ser mais valorizado.

Quando tudo passar, vamos nos amar, abraçar e beijar mais. Valorizaremos a importância de segurar nas mãos uns dos outros. Vamos nos importar menos com as desavenças. Vamos valorizar mais cada inspiração. Vamos agradecer por cada dia em que pudermos acordar e ser livres. Vamos nos conectar com a natureza, dentro e fora de nós. Vamos valorizar mais o tempo com aqueles que amamos. Quando tudo isso passar, seremos menos isolados e mais integrados. Vamos ter aprendido a cuidar de nós mesmos e uns dos outros.

— Aila Pacheco (Psicoterapeuta)

É o que esperamos todos… E é também um pouco do que vimos no movimento que ganhou o nome “caremongering” (a gente pode traduzir para “cuidadorismo” e tá tudo certo). Na prática, se refere ao ato de “cuidar de seus vizinhos”, principalmente idosos. É só pensar que nem todo mundo que mora perto de você tem saúde o suficiente para enfrentar os riscos lá fora indo ao supermercado, por exemplo. Então que tal fazermos a gentileza de concentrar os esforços das compras naqueles que não estão no grupo de risco? Esse é apenas um exemplo de gentileza e cuidado com o próximo.

Eu não sei vocês, mas aquém de qualquer termo em inglês, isso é algo já existente em milhares de lugares no Brasil. Só que, em outros lugares, como o que moro, as pessoas não tinham muito o costume de se falarem. A gente, no máximo, se esbarrava entrando ou saindo de casa na correria do dia a dia, e olhe lá. Com a pandemia, já teve vizinha que até levou minha cachorrinha para passear quando eu não podia. Estamos mais unidos.

Dar vida às conexões afetivas com quem está ao nosso redor pode ser especialmente revolucionário para nós que moramos em grandes cidades e nos sentimos como formiguinhas no sistema.

Pode ser o momento de pararmos de tratar a todos como estranhos e, principalmente para aqueles em “hipo convívio” (isto é, solitários, como é o caso de muitas pessoas no grupo de risco), oferecer um pouco do que você tem de mais valioso: tempo.

Me deixem com meu moletom!

Não é de agora que ouvimos sobre como determinadas roupas que utilizamos diariamente são desconfortáveis.

Com a importância do isolamento social, os pijamas e moletons passaram a viver seu período áureo. Afinal, muitas pessoas compram suas roupas pensando em determinado contexto, por exemplo: “vou comprar esse vestido aqui que vou usar no casamento da Mariana”. “Nossa, esse sapato aqui é perfeito para trabalhar”. “Cara, tô precisando muito de uma bermuda para sair final de semana”.

Uma vez que o contexto foi “retirado de nós”, o conforto passou a ser mais privilegiado nas decisões de roupa do dia a dia. Eu mesmo, vivo fazendo a linha de blusa social e samba canção amarradão, mas fica aqui entre a gente.

Por favor

É evidente que isso causou um grande impacto na indústria da moda. E no pós pandemia, a reinvenção deve precisar ir além de substituir peças mais estilosas por peças mais confortáveis.

Ao que tudo indica, uma maior resiliência no setor existiria se as pessoas fossem educadas a ver a moda não apenas como uma roupa para cada contexto, mas como extensão de sua identidade. Se eu não estou me arrumando para algo e sim para mim mesmo(a) — porque eu sou assim — continuarei sendo assim em casa, na rua ou em outros contextos.

(É importante dizer que essa ideia também foi compartilhada comigo pelo Michel Alcoforado em uma palestra online, portanto não é de minha autoria).

Por fim, tem outra questão. Setores como o da moda geralmente sofrem processos de compra mais complexos, onde os consumidores procuram testar e experimentar os produtos fisicamente antes da tomada de decisão de compra.

Quem nunca ouviu um “calça não compro online porque não sei se vai ficar boa”? Em relação a isso, há dois caminhos:

  1. As plataformas de e-commerce se diferenciarão caso possam utilizar tecnologias que tragam mais segurança aos consumidores sobre o quanto aquela roupa vestirá bem e;
  2. Os consumidores precisarão abdicar um pouco dessa forma de comprar presencial caso queiram se afastar por um tempo considerável de shoppings e lojas físicas de vestuário (ou simplesmente reduzirão seu consumo).

De modo geral, a virtualização da compra já é uma tendência antiga que só foi acelerada. A próxima macro tendência que abordarei é exatamente sobre isso.

Concluindo…

Entre afetos, desafetos e moletons, o nosso lar é onde estivermos. Desejo que o novo papel da casa seja uma macro tendência de aproximação entre nós, como humanidade, para crescermos juntos, cuidando mais uns dos outros e de si mesmo. Isso, sim, tem que vir para ficar. Afinal…

…nossa pátria está onde somos amados.

Até o próximo texto!

São 3 partes, então parabéns por concluir 33%. rsrs

*Atenção! Caso não saiba, tudo que está sublinhado nos textos na Medium — inclusive no meu próprio texto — são hiperlinks clicáveis e devem levar você para uma página externa, como por exemplo as referências que me basearam em determinado trecho.

**Se você não me conhece ainda, é um prazer te ter por aqui! Meu nome é Marden e sou um apaixonado pela mente humana e tudo que se desdobra dela nos diversos domínios da vida. Para começar, na vida financeira. Sou economista, estudo e ensino educação financeira há anos através da Barkus Educacional, um negócio de impacto social que fundei com o objetivo de democratizar o acesso ao tema para nossa população. Atualmente, um dos domínios da vida que mais preciso entender no meu trabalho é a aprendizagem, pois o meu trabalho é justamente pensar na melhor maneira de apoiar nossos aprendizes em seus processos individuais de busca por conhecimento sobre finanças. De todo modo, gosto de muita coisa! Poesia e arte, finanças e investimentos, psicologia e comportamento, educação e aprendizagem, amor e relacionamentos. Acredito que tudo está muito mais conectado do que fomos ensinados a pensar. Dito tudo isso, espero que você tenha chegado para ficar :) quem sabe não nos tornamos companheiros de jornada?

Instagram: @marden_rodrigues

LinkedIn: Marden Rodrigues

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Marden Rodrigues
Tendências pós pandêmicas

Sinto, logo escrevo. A mente humana me fascina e tudo que se desdobra dela nos diferentes domínios da vida me despertam a curiosidade.