Backup às Forças de Segurança

Os últimos capítulos desta saga nacional ‘PSP/GNR vs cidadão’ têm sido um misto de comédia romântica de domingo à tarde com filme de categoria B de tão maus.

Maria João
Tenho voz!
4 min readFeb 6, 2019

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Resumir o assunto do ponto de vista jornalístico, agora, seria de mau gosto. A classe a que tenho orgulho de ter pertencido tem tido uma atitude pouco tolerável do ponto de vista ético e chegou ao ponto ser a primeira a atear os fogos nas redes, nos cafés, nos transportes, nas vidas das pessoas.

Concordamos que todas as notícias e furos devem ser isentos, devem ser imparciais. Todos estudámos isso. Hoje não quero nem vou ser imparcial, lamento. Isto não é uma notícia!

Todos os cidadãos têm, segundo a concepção ideológica de democracia, direito a justiça, defesa, liberdade de ser e obrigação de cumprir regras e leis para todos vivermos em conformidade. Não estou a avaliar as regras e leis que nos fazem sentir limitados. Estou a escrever sobre as regras que impedem que a nossa sociedade se pareça com um western movie americano dos anos 60. Não é suposto o polícia atirar a matar e fazer as perguntas depois; não é suposto o cidadão matar, bater, roubar, prender o xerife e sair impune montado a cavalo pelo deserto texano fora.

Viver em sociedade! Não é suposto doer!

Hoje escrevo na qualidade de alguém que vê os dois lados e que percebe que há um que tem sido humilhado e envergonhado em praça pública.

«Paga o justo pelo pecador!», ouvi eu numa conversa. Todas as profissões têm isto: aquele que a honestidade é pele e o que se deixa escorregar. No caso das forças de segurança, há os que trabalham sempre pelo outro, para ajudar o outro, para dar a vida pelo outro, independentemente dos riscos; e os que abusam dos poderes que têm. Por muito que lhes doa admitir, os primeiros sabem muito bem da existência dos segundos, mas, ainda assim, dá-lhes força para acordarem todos os dias e trabalharem pelo bem e pela segurança de todos.

Vestir a farda pela manhã é o assumir de um compromisso que fizeram, não só consigo mas connosco. Sair de casa com uma farda que não é um escudo de força divina, para prestar serviço a uma comunidade é, só por si e nalguns locais deste país, um acto heróico.

Saem todos os dias de casa com a fé de não serem recebidos à pedrada, não serem destratados, não serem humilhados, não serem descredibilizados pela comunidade que defendem.

O que eu esperava, enquanto cidadã, era não precisar ter medo que um deles não chegue a casa, era não ter medo que um deles seja humilhado em praça pública e nas redes nacionais; era não haver necessidade de temer a próxima graçola da mais alta patente deste país.

Esta gente, estes homens e mulheres saem todos os dias de casa para guardar as costas a quem, bem ou mal, nos governa; saem todos os dias de casa para proteger quem lhes atira as pedras. Estes homens e estas mulheres saem todos os dias de casa, de farda no corpo, para dar o corpo às balas por nós, porque é esse o treino deles, é essa a vida deles. E se aquele que deveria estimá-los e cuidá-los se deixa levar pelo populismo de uma selfie, pelo abracinho daquele a quem não pede a ficha criminal (espalhado pelas redes!! Ficha criminal nas redes, senhor!!), que orgulho poderão ter as forças de segurança em envergar o peso de uma farda que, afinal, os pode ferir?

Certo, nos bairros há todos os tipos de pessoas, como fora deles. Certo, há os que vestem honestidade e os que batem em polícias, como fora deles. Certo, o bairro da Jamaica esteve sempre lá, nós é que não quisemos vê-lo. Certo, tudo isto é um western spaghetti de categoria Z.

Errado é um presidente não manter a postura (não se abandonam camaradas). Errado é não saber se os nossos voltam para casa. Errado é o peso de uma farda e o que envergá-la num bairro pode significar. Errado é saírem para um serviço dito pequeno e ser preciso tomar medidas extremas de defesa. Errado é não agirmos como um todo e apontarmos o dedo a quem todos os dias usa uma farda para nos defender das balas desta vida.

Eu, como cidadã, quero que os meus cheguem a casa, tirem o peso da farda e possam ter uma vida normal, com saúde física e mental, quero que possam ser cidadãos. Quero que não sejam humilhados. Quero que não precisem justificar o trabalho deles, ou dos colegas, a quem não sabe o que é. E quero que no dia seguinte saiam de cabeça erguida, porque se orgulham do trabalho que fazem, da mesma forma que eu me orgulho.

Não é o que queremos para todos?

Eu voto nisto!

Maria João

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