Como lidei com a Experiência de Deus?

Pensamentos sobre mística cristã, pentecostalismo e o fogo

Pedro Duarte
Teologando
4 min readOct 15, 2023

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Por volta dos meus oito anos de idade, eu nutria um interesse peculiar, uma paixão incessante. Era o fogo que me cativava, seu esplendor perante o mundo.
O fogo dançava em liberdade, me brindando com a sensação da eternidade em suas chamas.
No entanto, também me falava sobre a finitude, pois por onde passava, consumia e purificava.

Deus é também profundamente "estranho",
Minha ligação com Ele é singular e única.
Ele é cativante e aterrorizante,
Impessoal em minha avaliação, mas sempre gracioso com todos.

Deus era infinito em largura, conhecimento e tudo mais que posso descrever.
Ele me hipnotiza, me aterroriza, pois não se assemelha a mim.
Ele reside além da existência.

Cresci aceitando e entendendo que Deus existia. Eu nunca duvidei que ele estava lá no céu, porém se ele existisse estaria distante.
Contudo, algo faltava, eu me esforçava para o justificar,
Deus precisava existir porque eu aceitava oque me foi ensinado. Deus era fruto do racional e não de uma experiência viva. (Tomás de Aquino, corre aqui)

Até que um dia, tudo mudou, Deus atravessou as palavras.
Deixei de tentar justificar Sua existência, simplesmente O conheci.

A experiência foi um grito a sua existência. É o conhecimento e a comunhão com o divino propósito.
Esse sentimento é antigo na fé cristã. Vários homens e mulheres foram atravessados por esse fogo.

Quando minha primeira experiência aconteceu, e me impactou profundamente.
Uma corrente elétrica parecia me atravessar,
Finalmente, Deus se tornou real,
E o simbolismo do fogo fez todo sentido.

Essa figura do fogo nunca fez tanto sentido pra mim. Senti meu corpo sendo fulminado, meu coração foi aquecido. Foi como uma descarga elétrica que me atingiu.

O FOGO ERA REAL!

O que a experiência gera?

1.1 Deus se torna REAL:

A experiência de Deus tira o ser humano da racionalidade. Deus deixa de ser fruto da conclusão e toma forma no plano físico.
A ressurreição começa a fazer sentido, não por causa dos argumentos apologéticos, mas porque Deus resolve atravessar a transcendência e chegar na vida (na minha e na sua).

1.2 Deus se torna amoroso.

A figura de um Deus cruel passa constantemente no imaginário evangélico. Sendo uma criança nascida em um lar cristão tradicional, era impossível fugir dessas influências. Histórias com imagens idênticas ao inferno de Dante constantemente eram apresentadas nas conversas. Além disso, um constante medo do diabo era criado.

Qual criança dos anos 90/00 não assistiu a pregação do missionário Josué Yrion bravejando contra a Disney? Ou não foi proibido de assistir Pokémon? Ou nunca ficou com medo de pecar e ir pro inferno?
O medo a Deus é uma cultura que é perpetuada de geração em geração evangélica.
Deus é deixado de lado, e quando é o foco acaba sendo apresentado como alguém que sente prazer em punir e torturar.

A experiência de Deus faz entender o amor.
Sendo atravessado e levado ao êxtase.
Deus abaixou o matador de mosquitos do imaginário evangélico e escolhe abraçar.
A gente sente o coração sendo atravessado por um amor arrasador que coloca fim no coração questionador e medroso.
Cristo nos chama para tocar nas suas chagas.

1.3 A experiência nos leva a piedade

É muito fácil ter um discurso que se pareça piedoso, mas com uma atitude diferente.
Pregar e não viver é a moda. É a prática.
Diferente disso, o carisma tem uma característica única, ele gera empatia.
Entender o amor gera amor e é como se fosse uma atitude de resposta. Uma resposta ao contato com a Cruz.

Uma resposta que não é fruto do esforço e sim da natureza.
Nova natureza é o nome disso.
Não é uma macieira dando pêra, mas sim um macieira dando maçã .
A natureza é mudada.
Não existe esforço.

1.4 A experiência nos leva a graça

Como disse o apóstolo Paulo (1co 2) as palavras não são o suficiente para o convencimento de ninguém. Mas somente o poder do Espírito Santo é capaz de revelar a pessoa de Cristo. Pq se Deus fosse compreensível racionalmente, a fé estaria a disposição da sabedoria dos homens e não através do poder de Deus.

A experiência com o Espírito também traz a consciência de que não estamos sozinhos (João 14:16) e que não somos mais órfãos (v. 18). Além disso a experiência com a graça nos leva ao entendimento de que abandonamos o julgo da escravidão e somos filhos (Galatas 4: 1-7).

Pois é impossível que o homem natural aceite a loucura que é a pregação do Evangelho. Isso só acontece através da experiência pessoal. A revelação de Deus.
Essa revelação tira o JUGO DO PECADO e nos leva a graça. Pois já não existe condenação em Cristo Jesus.

Além disso, o conhecimento do Senhor e a revelação da graça nos leva à participação da sua natureza. Conhecido também como SANTIDADE.

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Pedro Duarte
Teologando

Amante de livros e Teologia. Espero que gostem da bagunça.