O que significa ser anglicano e evangélico: todos os textos

LUCAS
Teologando
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2 min readSep 10, 2023

Na série “o que significa quer anglicano e evangélico” procurei apresentar sete textos que, no meu entendimento, apontam para o coração do movimento evangelical: a experiência da conversão de coração e seu desdobramento num zelo devocional e missionário acentuados. E isso no contexto da tradição protestante e seus lemas característicos: a autoridade e suficiência da Escritura, a gratuita da salvação em Cristo, a justificação pela fé somente, a liberdade cristã e o sacerdócio de todo o povo santo de Deus.

Eu não concordo com cada detalhe dos textos. Existem aspectos complicados tanto nas ideias quanto no testemunho e legado de alguns dos autores. Os textos de Wesley e Robert Murray M’Cheyne pendem para o legalismo e o perfeccionismo cristão. O manifesto de Ryle, além de sua soteriologia, questionada dentro do próprio movimento evangélico, poderia criar problemas desnecessários com os anglo-católicos. Jonathan Edwards deixou um legado problemático, seja teológico, seja ético, com seu endosso vergonhoso à escravidão. O texto de Stott está desatualizado em alguns pontos, e é conservador. Dom Robinson, embora brilhante, deixou um legado terrível (sendo difícil exagerar o quão terrível foi esse legado). Por isso devem ser lidos com cuidado, distanciamento e senso crítico.

Mas acho que apesar disso tudo, os textos apontam para o coração do ethos evangelical, não tanto para as teologias evangélicas. A intenção era oferecer algumas referências para conversa e reflexão entre os anglicanos evangelicais, em nossos próprios termos. É bom enfatizar isso: somos anglicanos, e somos anglicanos brasileiros, episcopais. Não orbitamos o mundo evangélico e muitas das vezes somos flexíveis e abertos para coisas que muitos evangélicos rejeitariam, especialmente com a crescente sobreposição entre “evangelicalismo”, anticatolicismo, fundamentalismo e reacionarismo.

As possibilidades dentro do mundo evangelical anglicano são maiores do que muitos evangélicos gostariam. Se queremos um renascimento da ala evangelical dentro da Igreja Episcopal do Brasil, precisamos encarar a tarefa complexa de beber da nossa tradição evangelical, sem capitularmos à pressão ($) e ao autoritarismo ($$) que marcam o maistream evangélico.

Assim, não se sintam costrangidos a aceitarem tudo o que se encontra nos textos. São pontos de partida para a discussão, não algemas. Evangelicais ou não, ainda somos anglicanos, e reconhecemos a diversidade da Comunhão Anglicana como uma virtude, agridoce muitas vezes, mas promissora. Que Deus desperte o seu coração com essas leituras.

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LUCAS
Teologando

História, teologia, vida e o que mais me vier à cabeça.