A Transfiguração de Nosso Senhor

Rev. Helvécio José Batista Júnior

teologia luterana
Teologia Luterana
5 min readFeb 15, 2021

--

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo!

“Seis dias depois” (São Marcos 9.2). Com estas palavras inicia-se o texto que descreve o episódio da Transfiguração de Jesus. Este é um detalhe interessante, pois a menção dessas palavras indica que haviam passados seis dias de algo importante e que também possui alguma conexão com o que agora será descrito.

O que havia ocorrido seis dias antes da Transfiguração de Jesus? Se voltarmos um pouco no texto do Evangelho, vamos perceber que o último grande evento que ocorreu antes de se passarem os seis dias foi a Confissão de Pedro a respeito de quem é Jesus. Em sua resposta a Jesus, Pedro diz: “O Senhor é o Cristo” (São Marcos 8.29). Em outras palavras, o Apóstolo Pedro junto aos outros discípulos reconhece que este Jesus é o Filho de Deus, o Messias, o Enviado da parte do Pai.

Seis dias após esta confissão, seguindo o texto indicado para este dia, “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou, em particular, a sós, a um alto monte. E Jesus foi transfigurado diante deles” (São Marcos 9.2). Ou seja, uma mudança completa na forma e na aparência de Jesus acontece. “As suas roupas se tornaram resplandecentes, de um branco muito intenso, como nenhum lavandeiro no mundo as poderia alvejar” (São Marcos 9.3). E isto, unicamente porque naquele momento, diante daqueles três discípulos no alto de um monte, Jesus estava se revelando conforme Pedro havia confessado: O Cristo, o Filho de Deus. Jesus estava deslumbrantemente brilhante porque ali estava manifestando a sua glória divina – quem ele realmente é: não somente verdadeiro homem, mas também verdadeiro Deus!

A manifestação plena de Jesus Cristo revela o Céu, e por isso também, durante sua Transfiguração, como que em um vislumbre daquilo que se espera, o próprio Céu toca a terra, e isto ocorre de maneira extraordinária e significativa.

Diante dos três discípulos “apareceu Elias com Moisés, e estavam falando com Jesus” (São Marcos 9.4). Que cena! Que imagem maravilhosa! Mas, por que Elias e Moisés? Porque naquele lugar a Lei e os Profetas – as Sagradas Escrituras do Antigo Testamento – ali representados por Moisés e Elias, estavam testificando que este Jesus, o Cristo, é o cumprimento de todas as coisas!

Mas, e o que Elias e Moisés estavam falando com Jesus? Conforme um texto paralelo deste episódio (São Lucas 9. 30-31), ficamos sabendo que eles estavam ali preparando Jesus para a sua morte. Afinal, ele ainda desceria daquele monte para subir em outro – o Gólgota – e lá dar a sua vida em resgate de muitos. Para isso ele foi enviado da parte do Pai, por isso ele é o Cristo, como Pedro e as Escrituras confessaram.

Quem de nós não gostaria de estar ali naquele monte, presenciando este momento singular? Pedro sente esta emoção, e por isso diz a Jesus: “Mestre, bom estarmos aqui” (São Marcos 9.5). Ele “não sabia o que dizer” (São Marcos 9.6). Aquele era um momento espetacular – era o Céu na Terra – faltaram palavras, e na verdade, quando falamos do Céu, da Glória do Filho de Deus nem mesmo mil dicionários conseguem conter adjetivos que os possam descrever.

Algo ainda estava para acontecer: “A seguir, veio uma nuvem que os envolveu; e dela veio uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; escutem o que ele diz!” (São Marcos 9.7). Ual! O próprio Pai agora estava dizendo quem era Jesus! A Lei e os Profetas tinham apontado, Pedro havia confessado, mas agora é o próprio Pai dizendo, da mesma forma como já havia feito por ocasião do Batismo de Jesus. Porém lá, Pedro, Tiago e João não estavam. Agora, eles também puderam ouvir: Este é o meu Filho Amado; escutem o que ele diz!

Após isso, tudo volta ao normal, e os discípulos “olhando ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus” (São Marcos 9.8). “Ao descerem do monte, Jesus lhes ordenou que não divulgassem as coisas que tinham visto, até o dia em que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos” (São Marcos 9.9). Isto porque o povo e até os próprios discípulos ainda não estavam preparados para compreender tudo aquilo de maneira coerente.

Realmente existe uma conexão deste episódio com o que ocorreu seis dias antes. A Transfiguração de Jesus confirma o que Pedro havia dito em sua confissão: Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. A Transfiguração de Jesus também concede um aperitivo do que é estar no Céu – estar na presença gloriosa de Jesus Cristo junto com todos aqueles que foram salvos pelo SENHOR.

Quem de nós não gostaria de estar presente naquele monte? Voltar no tempo e nos prostrar junto com os três discípulos é impossível. No entanto, Deus permite que sua Transfiguração chegue até nós hoje e, da mesma forma como foi uma antecipação da glória eterna para aqueles discípulos, ela também o é para nós.

Mas, onde e como isso ocorre? Vamos subir a um monte e alcançar Jesus? Não! Jesus já morreu e ressuscitou, já conhecemos esta história que estava guardada para após esses eventos. Por isso, não precisamos mais subir um monte para alcançar Jesus e ver a sua glória divina. Na verdade, ele desce até nós, e ele vem a nós em um pedaço de pão e um cálice de vinho e aqui, manifesta sua glória divina perdoando os nossos pecados, fortalecendo a nossa Fé e concedendo vida – não uma vida qualquer, mas vida Eterna!

A Ceia do Senhor é Jesus se transfigurando e vindo até nós com sua glória; é o Céu tocando a terra da mesma forma como aconteceu lá naquele monte, pois no Sacramento estamos com Elias, Moisés, “os anjos, os arcanjos e toda a companhia celeste louvando e magnificando o glorioso nome de Jesus”. Estamos dizendo o mesmo que Pedro: “Mestre, bom é estarmos aqui!”.

Sem dúvida alguma, é bom demais estar aqui! É bom demais saber que nosso Senhor é o Cristo, o Filho de Deus que revelou a sua glória divina, mas também desceu do monte e do próprio Céu, para morrer pelos nossos pecados a fim de nos perdoar e ressuscitar dentre os mortos para que nós um dia pudéssemos também ressuscitar e viver no Céu com nossos corpos envolvidos pela glória divina do Filho de Deus.

Por amor e misericórdia, esta glória divina do Filho de Deus já resplandece em nossas vidas através dos Meios da Graça. E quando fecharmos os olhos para este mundo e abrirmos eles nos Céus, então essa glória continuará resplandecendo por toda a eternidade, para todo o sempre!

Amém!

Rev. Helvécio José Batista Júnior é pastor luterano.

--

--

teologia luterana
Teologia Luterana

Recursos teológicos e litúrgicos do luteranismo histórico e confessional.