São poucos os que são salvos?
Rev. Helvécio J. Batista Jr.
O Evangelho de nosso Senhor segundo S. Lucas 13: 22–30
“Senhor, são poucos os que são salvos?” (S. Lucas 13:23). O Evangelista Lucas não informa a identidade de quem fez esta pergunta a Jesus, porém, há de se admitir: é uma ótima pergunta.
Jesus Cristo, entretanto, não dá uma resposta direta à essa pergunta. Mas, também não a deixa no vácuo. Na verdade, ao invés de apenas dizer um “sim” ou “não” e assim focar estritamente no fato de se os salvos são muitos ou poucos, ele prefere apontar para o “caminho da salvação” e falar daquele que “salva” e que também “condena”.
Para tanto, Jesus inicia sua resposta com uma exortação, não somente ao que lhe fez a pergunta, mas a todos que ali estavam junto dele: “Esforcem-se por entrar pela porta estreita! Pois eu afirmo a vocês que muitos procurarão entrar, mas não conseguirão” (S. Lucas 13:24).
Em um primeiro momento, podemos ouvir estas palavras de Jesus e achar que, de alguma forma, ele esteja ensinando que a salvação venha a nós por nossas próprias obras. Afinal, sua exortação fala de “esforço, luta, batalha” para assim “entrar por uma porta que estreita”.
No entanto, quando observamos com mais atenção o contexto onde essa resposta de Jesus está inserida, especialmente todo o capítulo 13 do Evangelho segundo S. Lucas, percebemos que há um ensino constante da parte de Jesus que percorre todos os seus versos.
Perceba, por exemplo, que na parte final do capítulo 12 Jesus falou muito a respeito do fim dos tempos e da incredulidade de muitos diante de sua Pessoa e Obra. Agora, no capítulo 13, ele passa a mostrar a grande necessidade do arrependimento e da fé verdadeira para que se esteja preparado para o Dia do Senhor.
Seja por meio do uso de incidentes históricos ou por meio de parábolas, em todo o capítulo 13 do Evangelho segundo S. Lucas temos Jesus ecoando as mesmas palavras que ele havia dito em sua primeiro pregação: “Arrependam-se dos seus pecados e creiam no Evangelho, porque o Reino de Deus está perto” (S. Marcos 1:15).
Infelizmente, muitos naquele tempo taparam os seus ouvidos para Pregação de nosso Senhor. Hoje não é diferente: muitos até o escutam falar, mas não guardam suas palavras em seus corações. Outros, até chegam a ter algum tipo de comunhão com ele, mas escolhem o rejeitar, mesmo ele realizando todo o necessário para ir ao encontro, preparar o banquete e servir todo o alimento.
Por quê? Porque ele anuncia a mensagem de Deus! Uma mensagem de “Arrependimento e Fé”, uma mensagem que é “única”, que não aceita “meio termo”, e que não dá espaço para outras formas de “ser salvo”. É uma linda mensagem, sem dúvida. Mas é uma mensagem difícil para o coração humano, manchado e corrompido pelo pecado.
É em meio a tudo isso que Jesus, ao ser perguntado: “São poucos os que são salvos?” Diz: “Esforcem-se por estar pela porta estreita!”.
Ele sabe que muitos oferecem caminhos que são, humanamente falando, mais atrativos. “Os que fazem parte desta nação serão salvos”. Ou: “aqueles que obedecem a essas regras morais serão salvos”. Ou ainda: “todos os que fizerem por merecer serão salvos”.
Talvez ao nosso redor esses caminhos sejam outros ou tenham outras faces: pode ser o “moralismo” que ensina a perfeição moral para se obter a salvação, ou a “especulação” que coloca em nossa capacidade o alcance da salvação, ou ainda o “misticismo” que nos leva a creditar que podemos chegar a uma experiência que nos garanta a salvação.
Sejam quaisquer caminhos, todos trazem o mesmo perigo: “o foco é o ser humano e sua força”, “o foco é você e a sua próprio obra”.
E cuidado, pois como disse antes, estes caminhos são atrativos para nós. Pois, não é fato que nós “tomar as rédeas da situação”, de “resolver por nós mesmos”, de “fazer por merecer”? Eu sei que em várias esferas de nossa vida estas até podem ser boas atitudes, porém, no que diz respeito a salvação, lembremos: somos totalmente incapazes.
Agora, me responda: É fácil admitir isso? Não! Por nós mesmos, na verdade, é impossível. Sem o Espírito Santo isso é algo inatingível. Por isso, quando a cada início do Culto Divino, nós confessamos diante do Senhor: “nós, pobres e miseráveis pecadores”, estamos ali lutando contra nós mesmos, ou melhor, o Espírito Santo está lutando contra nossa natureza pecaminosa. Pois, sem dúvida, reconhecer diante de Deus e de outros irmãos que somos pessoas “pecaminosas e impuras” e não perfeitas e plenas é um “esforço” tremendo, divino.
“Esforço”. Como exorta Jesus: “Esforcem-se por entrar pela porta estreita!” Afinal, não são todos os caminhos que levam a Deus. Há somente um “único Caminho!” (S. João 14:6). E é por isso, que a “porta é estreita”. Porque por ela, somente em “Arrependimento e Fé”.
A “porta”, portanto, que nos fala Jesus é em última análise, ele próprio. Pois aquele que nele está, isto é, enraizado e edificado em sua Palavra e em seus Sacramentos, é alguém que vive, mesmo em sua constante luta contra si mesmo, uma vida de “Arrependimento e Fé”. Porém, aquele que não está nele ou não permanece nele até o fim, também não estará para sempre no Reino de Deus.
E por favor, não ache que agora para permanecer nele você precise criar os mecanismo para tal. Não mesmo, como eu disse antes, “estar em Cristo é estar firmado em sua Palavra e em seus Sacramentos”, e estes — que são os Meios da Graça de Deus — o próprio Cristo instituiu para você. Ele lhe dá o Santo Batismo, a Santa Absolvição, a Santa Ceia, e também a Pregação e o Ensino de sua Palavra por meio de sua Igreja e do Santo Ministério. Portanto, o que é necessário para você permanecer nele até o fim e passar pela “porta estreita” são obras dele!
“Senhor, são poucos os que são salvos?” O número exato Jesus não dá, mas em seu ensino, ele diz duas coisas muito importantes:
“Quando o dono da casa tiver levantado e fechado a porta, e os do lado de fora, começarem a bater, dizendo: ‘Senhor, abra a porta para nós’, ele responderá: ‘Não sei de onde vocês são. Afastem-se de mim, vocês todos que praticam o mal’. Ali haverá choro e ranger de dentes” (S. Lucas 13: 25–28). Ou seja, muitos não serão salvos. Muitos por não estarem em Cristo, terão como recompensa o “choro e o ranger de dentes”, como a Epístola de hoje nos diz que ocorreu, por exemplo, com Esaú que “foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento” (Hebreus 12:17).
Porém, “com Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, também haverá muitos que virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (S. Lucas 13: 28–29). Isto é, de todos os lugares haverá salvos, “de todas as nações e línguas; pessoas virão e contemplarão a Glória do Senhor” (Isaías 66:18), como ele disse por meio do Profeta Isaías. Afinal, todos aqueles que vivem uma vida de “arrependimento e fé”, firmados em “Cristo” por meio de sua “Palavra e Sacramentos” estarão um dia, como também descreve a Epístola de hoje, no “monte Sião e na cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, junto a milhares de anjos; na assembleia festiva, que é a igreja dos primogênitos arrolados nos céus” (Hebreus 12: 22–23).
Que junto a estes, estejamos todos nós, ao passar pela porta estreita, “diante do Senhor, nos novos céus e nova terra, adorando-o para todo o sempre!” (Isaías 66: 22–23).
Amém!
O Rev. Helvécio J. Batista Jr. é pastor na Igreja Luterana em Naviraí/MS.
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