Neta de bruxa?

Eu como feminista branca, acostumei fazer “resgates ancestrais” um tanto quanto desonestos. Parece que sempre dei um salto irresponsável nesse processo, trapaceei quando contava minha história pessoal, quando deixava de lado aspectos negativos, e construía uma que me convinha. Lendo esse post reconheci que a minha bisavó, mesmo sendo uma referência ancestral importante para mim, era uma mulher racista. Minha bisavó era benzedeira e parteira, o que eu gosto de considerar como bruxa. Ela era católica. “Beatona” mesmo! Minha mãe me contou que quando ela disse para a minha bisa que ia visitar um terreiro de Umbanda, minha bisavó, que fazia coisas parecidas com o que se faziam no terreiro de Umbanda com seus benzimentos, disse para minha mãe levar uma crucifixo para “se proteger”. Minha bisavó podia ter até amizade com pessoas negras, mas ela reproduzia o racismo estrutural, principalmente o traço que considera tudo que vem dos/as negras, no caso a religião, como algo ruim, do diabo. Eu preciso assumir o racismo e as práticas racistas que existem na minha história pessoal. Eu tenho a obrigação de ter essa responsabilidade ancestral. Eu feminista branca, em processo de descolonização, preciso reconhecer tudo isso para que eu possa aprender a desaprender a causar feridas coloniais à pessoas racializadas como a minha bisavó fazia. Eu, mulher branca, feminista, iniciada no Candomblé (olha as voltas que o mundo dá!), fui desafiada por meu Pai Oxalufan, dono do meu Ori (cabeça), e pelas águas doces e salgadas de minhas mães Oxum e Yemanjá, a não esquecer da minha ancestralidade, não me apropriar mas reverenciar a ancestralidade que me acolheu, e escrever uma nova história, um dia de cada vez.

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