Escalas maior e menor

Rafael Salgado Ribeiro. email: salgaado@gmail.com

Rafael Salgado
Teoria musical
5 min readAug 5, 2014

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Um dos assuntos mais básicos que estudamos em teoria musical são as escalas maiores e menores. Acontece, muitas vezes, de instrumentistas decorarem um shape e “mandar brasa” nele, sem nem sequer se preocupar com qual nota está tocando. Outra coisa que se observa também são os “kamikazes”: decoram uma “fórmula de escala” que seria os intervalos(distância entre notas) de Tons e Semitons e a aplicam para cada situação. Essa solução é bastante difundida no meio musical e funciona. Entretanto existem formas mais simples de elencar os acidentes de uma escala. Partindo da ideia de decorar uma fórmula para escalas, temos que a Escala Maior Natural seria formada por:

F-T-T-ST-T-T-T-ST

F=Fundamental(nota que dá o nome à escala)
T=Tom
ST=Semitom

Como exemplo, a escala de La Maior (A) seria formada pelas seguintes notas:

La - Si - Do# - Re - Mi - Fa# - Sol# - La
F - T - T - ST - T - T - T - ST

Como dito, é uma fórmula que funciona e pode (e deve!) ser utilizada se você achar mais conveniente. Acontece que muitas vezes essa forma de pensar em escalas torna complicado o raciocínio rápido, principalmente pra iniciantes.

Como elencar os acidentes de forma mais rápida?

Para pensar mais rápido nos acidentes de uma determinada escala, podemos utilizar alguns macetes que serão apresentados a seguir. Existem dois distintos, um para escalas em Sustenidos (#) e outro para escalas em Bemois (b). Vamos começar com as escalas em Sustenidos.

Escalas em sustenidos (#)

Se você chegou até aqui, deve saber que um sustenido não é uma hashtag (se não sabia, agora sabe!). É possível que você tenha visto uma partitura anteriormente e, se for mais atento, deve ter percebido que, em alguns casos, aparecem uma série de sustenidos no começo da pauta. Isso é chamado de armadura de clave e indica que, a menos que apareça alguma informação na partitura dizendo o contrário, todas as notas daquela música deverão ser tocadas com o acidente especificado.

Algo a se notar é que os acidentes sempre aparecem em uma ordem específica. Você não verá uma partitura com apenas o Sol sustenido na armadura de clave, por exemplo. Isso existe por causa do ciclo de quintas e do ciclo de quartas. Por hora, não entraremos nesses tópicos, mas, se você tiver curiosidade, existem vários links sobre isso.

Dito isso, o primeiro passo é decorar a ordem em que os sustenidos aparecem:

Fa#-Do#-Sol#-Re#-La#-Mi#-Si#

Posto isso e levando em consideração a informação que os acidentes da armadura de clave sempre possuem uma ordem, podemos afirmar, por exemplo, que se uma escala maior natural tem a nota Sol#, ela obrigatoriamente também terá as notas Fa# e Do#.

Encontrando os acidentes de uma escala maior natural

Quando queremos encontrar os acidentes de uma escala, precisamos seguir alguns passos:

1. Encontrar a nota que está meio tom abaixo da fundamental da escala que queremos encontrar
2. Localizar a nota encontrada na ordem que os sustenidos aparecem na armadura de clave
3. Partindo do Fá#, que é o primeiro acidente, chegar até a nota encontrada. Esses serão os acidentes da tonalidade em questão.

Tá complicado? Então vamos para os exemplos!

Ex.: tonalidade : A

1. Encontramos a nota q está meio tom baixo, no caso Sol#
2. Localizamos a nota na Ordem dos Sustenidos: Fa#-Do#-Sol#-Re#…
3. Partindo do Fá# e indo até o Sol# encontramos os acidentes, que no caso serão Fa#, Do# e Sol#

Pronto! Mas, como tudo na vida, existem exceções!

a) A escala de Do Maior (C) não possui nenhum acidente, logo não poderemos aplicar a regra a ela;
b) AEscala de Fa Maior (F) possui acidentes em bemóis, que utilizam outra regra, portanto não poderemos aplicar a regra a ela também.

Escalas em bemóis

Para achar as escalas em bemóis, utilizaremos a ordem que os bemóis aparecem na armadura de clave:

Sib-Mib-Lab-Reb-Solb-Dob-Fab

Para encontrar os acidentes, segue-se a regra:

1. Procurar na ordem que os bemóis aparecem a fundamental da escala em questão;
2. Encontrar o próximo acidente na ordem dos bemóis;
3. Esses serão os acidentes.

Aparentemente as escalas em bemois são mais dificeis. No entanto, vamos aos exemplo e tudo se resolve.

Ex.: tonalidade: Eb

1. Encontramos o Mib na ordem dos bemóis: Sib-Mib-Lab
2. Ainda na ordem dos bemóis, encontramos o próximo acidente: Sib-Mib-Lab-Reb
3. Os acidentes de Eb serão Sib, Mib e Lab

Escalas menores

Para encontrar os acidentes de uma escala menor natural, é necessário primeiro encontrar o tom relativo. Toda tonalidade maior tem um relativo menor e vice-versa. As escalas relativas terão sempre os mesmos acidentes.
Para achar um relativo menor, basta encontrar a nota que está 1 tom e meio abaixo da tonalidade em questão.

Exemplo: relativo de D = Bm. Portanto, a escala menor natural de Si terá os mesmos acidentes que a escala maior natural de Re.

Para achar o relativo maior, o processo é inverso, sobe-se um tom e meio

Exemplo: relativo de Gm = Bb. Portanto, Gm e Bb têm os mesmos acidentes.

Nesse caso, quais seriam os acidentes de Cm?

1* Cm é relativo de quem? Eb
2* Quais são os acidentes de Eb? Sib - Mib - Lab
3* Portanto, os acidentes de Cm serão Sib - Mib - Lab

Considerações

Bem, julgo necessárias algumas considerações:

  1. Treine, treine e treine. É importantíssimo que você saiba as duas ordens (# e b) decor e que pense rápido na hora de montar as escalas;
  2. Procure sempre passar a teoria para o seu instrumento. Você pode “brincar de escala”, tocando um determinado acorde (D, por exemplo) e montando a escala em seguida.
  3. Alguém pode assustar ao ver as notas Mi#, Si#, Fab e Dob, dado a frequência que se ouve a afirmação que Mi#=Fa e Si#=Do. Isso é uma meia-verdade: em um instrumento temperado, como o piano e o violão, em vias práticas estaremos tocando a mesma nota. Entretanto, são notas diferentes. Em instrumentos como o violino, existem uma pequena diferença entre essas notas, daí a diferença de nomenclatura. Existem outros n motivos para justificar a diferença (harmonia, por exemplo), mas não é o foco do texto.

Espero que aproveitem o texto! Lembrem-se que ele não pode ser utilizado para fins comerciais, mas que pode ser utilizado para os demais fins, desde que dado o devido crédito ao autor. Bons estudos!

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Rafael Salgado
Teoria musical

Músico, nerd, cinéfilo, viciado em séries e apaixonado por livros e tecnologia.