A teoria dos efeitos limitados: jornalismo policialesco, sensacionalismo e entretenimento

Erika Rodrigues
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4 min readOct 22, 2019

Teorias da Comunicação

Atualmente, vemos que a mídia é definida como o quarto poder, expressão utilizada para mostrar que os meios de comunicação em massa (mass media), principalmente a TV, possuem uma influência em relação à sociedade além dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário). Para confirmar essa prática, temos a teoria dos efeitos limitados de campo, baseada nos estudos sociológicos, e apresenta a ideia de que a mídia possui um importante papel de influência sobre o público e suas relações sociais.

No Amazonas, uma das principais ferramentas de mass media são os jornais locais, parte do consumo de mídia cotidiano de toda família ao longo do dia. Na programação é perceptível a existência de jornais que usam do sensacionalismo e entretenimento para abordar temas polêmicos e atuais. Percebemos a diferença da linguagem adotada pelos jornais de diferentes emissoras na produção da notícia, produzindo uma finalidade específica para cada público de interesse. Esses programas, assim como esperado, estão constantemente em busca pela tão concorrida audiência, e para que isso aconteça, eles empregam as mais diversas (e até mesmo inusitadas) ferramentas e estratégias para prender a atenção do telespectador.

Um exemplo disso são os programas Alô Amazonas e Alerta Amazonas, ambos da emissora TV A Crítica. No programa Alô Amazonas, em que os apresentadores possuem um jeito sensacionalista de construir notícia, podemos perceber uma tendência em satirizar o fato noticiado, alfinetando autoridades, não respeitando o código de ética do jornalista em diversos momentos. Já o programa Alerta Amazonas, apresentado pelo Sikêra Júnior, tem uma tendência a expor opiniões que geram discussões e ao mesmo tempo criam opiniões positivas na grande massa, resultando na enorme identificação da população local ao programa televisivo. Para disputar a atenção da audiência, o programa emprega brincadeiras apelativas, incomuns em um programa jornalístico, com os funcionários da emissora e utiliza as redes sociais para interagir diretamente com o público, estreitando laços e criando uma intimidade com seus telespectadores.

A maneira apelativa de apresentar é uma característica desse formato de programa, pode-se notar que a informação se torna coadjuvante, na qual o apresentador perde o equilíbrio entre a seriedade e a comicidade, e acaba perdendo o foco do que um programa jornalístico procura noticiar.

Patrick Charaudeau, linguista e especialista em Análise do Discurso, fala o seguinte: “o que realmente vivemos o que se passa cada dia, o banal, o evidente, o ordinário, o ruído de fundo, o cachorro que morde o homem (este só vira notícia se o cão for pitbull, ou se o homem morder o cachorro) não sai publicado na imprensa.”

Seguindo esse pensamento, nota-se que o apresentador adota uma prática em que a matéria vem a ser noticiada por meio de insultos e descomposturas para ganhar destaque. A notícia chega para o telespectador com imagens de acidentes e pessoas presas e, logo após, ofensas do apresentador aos envolvidos, sem nenhum filtro ou ética. Por exemplo, quando o apresentador diz: “ladrãozinho burro”, “cabra safado”, são algumas das formas com as quais o comunicador se refere a quem é acusado de roubo ou de envolvimento com drogas. Podemos notar, então, que a estrutura do programa não segue a linha dos jornais tradicionais, ou pelo menos a linha de profissionalismo padrão dos jornalistas.

Os fatos noticiados pelos programas são escolhidas a dedo, entre eles estão o tráfico de drogas e a violência, duas problemáticas pertinentes na cidade. De acordo com apresentador do Alerta Amazonas: “Já estudei bastante a Zona Leste. Já levantei o nome de muita gente safada que tem lá. Zona Norte tá engatinhando, é uma área muito dominada pelas facções”. Isto é, eles determinam quais serão os assuntos abordados e para quem serão direcionados, no caso, aqueles que convivem com tráfico nos bairros já citados, e também aqueles que se sentem afetados pela violência cotidiana. Além disso, o apresentador também diz que “fala a linguagem que o pessoal entende, é direto e não perde tempo”.

Assim, segundo a definição da teoria dos efeitos limitados, ou empírica de campo, “a influência depende mais das características do sistema social a eles circundantes […]”, ou seja, os programas citados anteriormente exercem papéis de “heróis”, “protetores”, “porta vozes”, daqueles que de alguma forma estão vulneráveis aos problemas destrinchados pelos apresentadores.

Fonte

Dessa maneira, segundo Mauro Wolf, “Os efeitos provocados pelos meios de comunicação de massa dependem das forças sociais que predominam num determinado período“. Assim a Teoria dos Efeitos Limitados incorpora relacionadas aos fatores sociológicos para a compreensão dos efeitos dos meios de comunicação de massa nos públicos e na sociedade.

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