Como o contexto, em que um indivíduo está inserido, influência na sua interpretação de mundo.

Tatá Batista
teorias-comunicacao
4 min readJun 12, 2023

Uma análise do filme “Que horas ela volta” sobre a perspectiva da Teoria dos Efeitos Limitados de campo.

(Fonte: site Teorizando a teoréca)

As produções cinematográficas, desde seus primórdios, servem como uma poderosa ferramenta que proporciona uma reflexão e análise sobre as dinâmicas sociais e as complexidades das interações humanas. Sobre isso, a obra de Anna Muylaert, “Que horas ela volta?”, produzida em 2015, traz aos telespectadores uma reflexão crítica sobre as desigualdades sociais e as relações de poder presentes na sociedade brasileira. Na trama, somos convidados a entender o mundo de cada personagem conforme suas experiências de vida e a posição que ocupam na pirâmide social. E como, cada um recebe e interpreta as mensagens, a partir do campo social que estão inseridos.

(Fonte: Netflix) Foto do filme: “Que horas ela volta?”

No enredo, somos apresentados a personagem Val, interpretada por Regina Casé. Ela é uma mulher forte e determinada que luta para garantir um futuro melhor à sua filha. Empregada, nordestina, Val, mora e trabalha na casa de uma família rica em São Paulo. Ela personifica a realidade de muitas empregadas domésticas no Brasil, que enfrentam condições precárias de trabalho, baixa remuneração e falta de reconhecimento. Ela vive em um campo social limitado, cujas interações e perspectivas são amplamente moldadas pelos limites impostos pelo ambiente em que está inserida. Ela vive confinada às tarefas domésticas, submissa às regras e expectativas da família empregadora.

Val renuncia a seus próprios desejos e ambições em prol do bem-estar da família. Desempenhando, inclusive, um papel de cuidadora e figura materna para o filho de seus patrões. Fica explícito no longa, que Val teve acesso limitado à educação formal e à cultura, o que demonstra como a posição social e experiência de vida impactam em quais tipos de mensagens e conteúdos midiáticos um indivíduo vai consumir, bem como, na forma que esse indivíduo se relaciona com o mundo. No exemplo de Val, como ela se relaciona com os outros personagens.

(Fonte Google)Cenas do filme “Que horas que ela volta?”

No entanto, a trama toma um rumo inesperado quando a filha de Val, Jéssica, decide visitar a mãe na cidade grande para prestar o vestibular. A chegada de Jéssica perturba o campo social estabelecido, desafiando as expectativas e revelando as desigualdades de classe presentes na sociedade brasileira. Essa personagem, interpretada pela atriz, Camila Márdila, é um símbolo de resistência e empoderamento. Ela se recusa a aceitar o papel de submissão atribuído às empregadas domésticas e busca uma vida além das limitações impostas pelo campo social em que Val está inserida. Sua determinação e coragem inspiram tanto sua mãe quanto o público. Sua chegada ocasiona conflitos e uma série de questionamentos que resultam em um processo de transformação para ambos os personagens.

(Fonte Google)Cenas do filme “Que horas que ela volta?”

Essa personagem quebra os padrões pré- estabelecidos e traz ao filme voz crítica, desafinado às normas sociais. Ao contrário da mãe, essa personagem traz consigo uma bagagem maior de conhecimento teórico, visto que, teve uma melhor educação. Portanto, o filme traz a ideia da importância da educação formal na vida dos indivíduos. Como está exposto no filme, Jéssica não está limitada apenas às mensagens transmitidas pela mídia ou ao ambiente em que cresceu, mas é capaz de desafiar as normas sociais e reivindicar a quebra de barreiras impostas pelos efeitos limitados de campo.

O filme, “Que Horas Ela Volta?” proporciona uma narrativa envolvente e comovente que nos faz refletir sobre as desigualdades sociais e as influências do campo social limitado na vida das pessoas. Por meio da história de Val e Jéssica, somos expostos às dinâmicas complexas e restritivas das relações sociais, especialmente no contexto das desigualdades de classe. E como essas interações podem influenciar a forma como as pessoas recebem e respondem às mensagens, questionando as ideias de homogeneidade e uniformidade na recepção dos conteúdos midiáticos sobre o mundo em que os cerca. O filme nos convida a examinar criticamente essas dinâmicas sociais e como as influências externas podem afetar as percepções e o comportamento das pessoas.

Anajuliasantos

Tatá Batista

Referências:

Bola-Rokeach, Sandra; J, Defleur, Melvin. Teorias da comunicação de massa. N.1, Rio de Janeiro. Zahar. 1993

Silva, Daniel Bettanin e Silva, Kelly Cristine Correa da. PENSAR O BRASIL ATRAVÉS DO CINEMA:REFLEXÕES SOBRE QUE HORAS ELA VOLTA?. Sobretudo, Rio Grande do Sul, v.10, N.1,p.(217–225),agosto de 2019. Disponível<https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/sobretudo/article/view/3312>

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