Do Oscar à teoria da comunicação

Você consegue imaginar a relação entre a Teoria Matemática da Comunicação e o filme “Parasita’’? Talvez seja um pouco difícil de realizar essa associação logo de cara, mas a gente te explica do que se trata.

Fernando Lopes
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5 min readNov 21, 2021

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Desenvolvida por Claude Shannon e por Warren Weaver, a Teoria Matemática da Comunicação tem como objetivo calcular as informações que são transmitidas através de um canal, e desta forma a possibilidade de diminuir e prever as interferências que podem ocorrer durante a transmissão da mensagem, tendo como base um sistema matemático.

Este sistema linear é formado pela fonte, o transmissor, o canal, a fonte de ruído, o receptor e o destino. A exatidão da mensagem que chega ao destino está diretamente atrelada à entropia, pois quanto maior for a informação, maior será a entropia e maior será a chance da mensagem possuir ruídos e distorções ao longo de seu caminho. Porém, por se tratar de um sistema no qual a fonte não possui um feedback do destinatário, é possível que a comunicação seja transmitida com ruídos ruídos.

Pôster do filme

Parasita” foi um dos grandes destaques da indústria cinematográfica nos anos de 2019 e 2020. A obra sul-coreana fez história no Oscar 2020, ao ser o primeiro filme estrangeiro a ganhar o maior prêmio da noite — melhor filme— e conquistou mais três estatuetas na mesma edição. Além do sucesso comercial e de críticas, “Parasita” mostrou uma realidade da Coreia do Sul até então pouco conhecida pelo público ocidental.

Dirigido por Bong Joon-ho, o filme conta a história de uma família pobre, ‘’os Kim’’, que vivem em condições precárias em um subsolo na Coreia do Sul. Por meio de uma oportunidade única, Ki-Woo, o filho, é contratado para ser professor na casa dos Park, uma família rica. Aos poucos, a família Kim vai sendo introduzida como funcionários dentro do cotidiano dos Park. Tudo parece estar indo de acordo com os planos, até a inesperada visita da antiga governanta da casa dos Park, Moon Gwang, que causa um plot twist e vira a cabeça do espectador.

SPOILERS A SEGUIR

Apontamos dois trechos de momentos distintos do longa, nos quais pode-se observar a relação entre a teoria e o filme.

No primeiro momento, após a governanta entrar na casa, ela vai em direção a um bunker — uma espécie de abrigo secreto localizado no subsolo, feitos para resistir a diversos cenários catastróficos — que apenas ela sabia da existência, o que já assusta a família Kim, que em seguida se depara com uma cena chocante: O marido de Moon Gwang, Geun-se, morava nesta parte secreta da mansão durante anos, e a sua única forma de se comunicar com o “mundo externo” era por meio do interruptor, que dava acesso as lâmpadas da casa. O Sr. Kim fica impressionado, pois Geun-se utilizava o código morse para se comunicar e agradecer aos donos da casa pela moradia, mesmo sem consentimento dos Park.

Geun-se enviando a mensagem para a família Park
O código morse exibido no filme

Geun-se sabia que o caçula da família Park, Da-Song, conhecia o código morse e poderia decifrar a mensagem. Sendo assim, no sistema, a fonte é o Geun-se, o transmissor é o interruptor, o canal são os impulsos elétricos, o receptor é a lâmpada, o destinatário é o Da-Song, e esse sistema não possui ruídos. A entropia causada nessa comunicação é bem baixa, porque Geun-se apenas manda agradecimentos aos Park, tornando a chance de ter distorções mínimas. É interessante destacar em como não há uma comunicação exitosa, uma vez que as mensagens enviadas não são compreendidas pela família anfritriã.

As lâmpadas piscando na casa dos Park, porém passando despercebidas por eles

No segundo momento, depois de muitas reviravoltas, que incluem assassinatos, o Sr. Kim se vê obrigado a morar no bunker da casa dos Park, e da mesma forma que Geun-se mandava mensagens ele passa a mandar uma mensagem todos os dias, e a única pessoa que pode descobrir seu paradeiro é seu filho, que também conhece o código morse.

Sr. Kim mandando a mensagem para Ki-Woo

Com o tempo, Ki-Woo, decide observar a casa dos Park, e percebe que as luzes da casa piscam de forma frequente, neste instante, ele entende que se tratava de uma mensagem.

As luzes da casa piscando enquanto Ki-Woo observa de longe

A partir daí, Ki-Woo volta diversas vezes para observar e anotar os códigos passados, no entanto por se tratar de um sistema sem retorno do destinatário para a fonte, o pai não sabia se seu filho iria receber essa mensagem, por isso, ele enviava as mensagens em horários distintos, até que depois de diversas tentativas Ki-Woo conseguiu decifrar a mensagem.

Ki-Woo tentando decifrar a mensagem enviada, por meio do código morse

Deste modo, observa-se como a entropia causa os ruídos nesta comunicação, pois as mensagens enviadas pelo Sr. Kim são longas e apesar de ser a mesma mensagem, Ki-Woo não consegue captar da mesma forma todos os dias.

Autores: Fernando Lopes e Gabriela Eto.

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